Eurogrupo. Centeno com apoio dos grandes

PS quer “exportar sucesso” da geringonça. Partidos de esquerda que apoiam o governo desvalorizam candidatura

A decisão só será tomada na segunda-feira, mas são fortes as possibilidades de Mário Centeno chegar à presidência do Eurogrupo. O ministro português, que anunciou ontem a sua candidatura, conta com o apoio da Alemanha, França, Itália e Espanha. Os últimos dias foram de intensas movimentações. António Costa confirmou que “os governos das mais diversas famílias políticas e zonas geográficas da Europa reconhecem na candidatura portuguesa as condições adequadas”.

Centeno, em conferência de imprensa, explicou as razões da candidatura: “O futuro do país está ligado ao futuro da União Europeia e é com esse espírito construtivo que abraço este desafio”. O ministro português está convencido de que “a experiência recente do país veio mostrar que é possível conciliar objetivos de consolidação orçamental com crescimento e emprego. A situação com que Portugal se defrontou foi comum a muitos países europeus e é nesse reconhecimento que assenta a nossa certeza de que a participação ativa na Europa pode ser reforçada”.

A discussão sobre se é bom para Portugal ocupar a presidência do Eurogrupo é inevitável. Mário Centeno realçou que “Portugal deve participar de forma ativa neste processo” e deu a garantia: “Nunca abdicaremos da nossa posição”.

Os partidos de esquerda que apoiam o governo pensam de maneira diferente e desvalorizaram a candidatura. Catarina Martins, coordenadora do BE, afirmou que “ter ou não ter um responsável português à frente de uma instituição europeia não significa nada em concreto para Portugal” (ver texto ao lado).

Os socialistas desdramatizaram. Coube a João Galamba, vice-presidente do grupo parlamentar, garantir que esta candidatura não terá efeitos negativos na geringonça, porque a candidatura de Mário Centeno “não é para trazer o Eurogrupo para Portugal, mas Portugal para o Eurogrupo”.

O PS defende que “esta candidatura é positiva para o país”. João Galamba afirmou, em conferência de imprensa, que “Portugal teve a coragem de procurar um caminho alternativo e teve resultados muito positivos que surpreenderam não só muita gente em Portugal, como no mundo. Está na altura de exportar esse sucesso e Mário Centeno é o representante legítimo deste sucesso do país”.

 

Marcelo manda recados 

O Presidente da República congratulou-se com a candidatura, mas avisou que o mais importante é garantir que o percurso percorrido não fica a meio caminho. “Continuo a pensar que o cargo de ministro das Finanças de Portugal é mais importante do que o cargo de presidente do Eurogrupo. E, portanto, sendo acumuláveis, naturalmente que importa que o ministro das Finanças de Portugal continue a garantir um percurso que é indubitavelmente positivo, mas que é preciso garantir até ao final da legislatura”. Marcelo defendeu ainda que os apoios à candidatura do ministro português são “um sinal da cotação do ministro, do governo e de Portugal a nível europeu e, nesse sentido, é uma razão de alegria para os portugueses”.

A primeira vez que Marcelo Rebelo de Sousa falou sobre esta assunto foi para condenar a possibilidade de Centeno assumir a presidência do Eurogrupo. Marcelo defendeu, nessa altura, que “seria uma má solução para Portugal, porque o ministro das Finanças faz falta em Portugal, com o devido respeito que há pela presidência do Eurogrupo”.

O receio de que a ida de Centeno para este cargo prejudique Portugal foi manifestado por Assunção Cristas: “Nós precisamos de um ministro das Finanças que se ocupe” da governação, disse a líder do CDS. Lobo Xavier foi mais longe e considerou que esta opção do governo pode ser perigosa para o país. “O ministro já tem neste ambiente uma certa dificuldade. Se se tornar o representante daquilo que é visto pelo PCP e pelo Bloco como uma ortodoxia neoliberal vai perder autoridade e vai estar mais desfocado. É um grande risco”, disse, na SIC o ex-líder parlamentar do CDS.