“Não sou fundamentalmente contra a austeridade”, diz Santos Silva

O MNE deu uma entrevista ao jornal alemão “Die Zeit” em que afirma que era necessário “dar um sinal de recuperação à população”

De um modo diplomático, Augusto Santos Silva pediu estabilidade política na Alemanha, instigando os germânicos a “apressarem-se” na formação de um governo e manifestando até preferência por uma coligação entre os democratas cristãos de Angela Merkel (a CDU) e os socialistas de Martin Schulz (o SPD).

 “É de bom tom não nos imiscuirmos na política interna dos outros países europeus, mas fizemos boas experiências com a grande coligação (CDU/SPD). Uma reedição não seria uma má notícia”, considerou o ministro dos Negócios Estrangeiros português, que se mostrou preocupado com o facto de ainda não haver acordo entre a chanceler Merkel, que voltou a ganhar as eleições, e um partido que lhe garanta a maioria parlamentar. “Era bom que se apressassem”, recomendou Santos Silva.

Apesar de os entrevistadores serem alemães, do jornal “Die Zeit”, o português não deixou de puxar as orelhas à postura germânica no projeto europeu. “Se Portugal tivesse continuado a fazer o que Berlim mandava, a situação económica seria hoje pior”, atirou. “Eu não sou fundamentalmente contra a política de austeridade, mas era preciso dar um sinal de recuperação à população. Afinal de contas, não se pode ‘salvar um país até à sua morte’”, argumentou, em jeito de paradoxo. Acerca do papel que o executivo português tem mantido na UE, referiu as “decisões” importantes tomadas acerca da Cooperação Estruturada Permanente de defesa, destacando o papel de Portugal no Conselho Europeu.

Em relação à recente proposta de Martin Schulz, líder dos socialistas alemães, para a criação de uns Estados Unidos da Europa até 2025, excluindo os Estados–membros da União Europeia que não aderissem, Santos Silva não se comprometeu com a ideia do ex-presidente do Parlamento Europeu, preferindo focar–se na agenda mais recente dos governantes dos vários países com assento em Bruxelas.

“Portugal é um país onde as pessoas gostam de sair”

Sobre a alternativa montada pelo governo a que pertence, do Partido Socialista, Santos Silva clarifica a aposta económica no consumo interno. “Portugal é um país onde as pessoas gostam de sair”, justificou, acrescentando depois que acredita que Wolfgang Schäuble, o ortodoxo ex-ministro das Finanças alemão, terá ficado “aliviado” por a solução de governo portuguesa resultar.

“Porque é que aumentam os salários quando têm tantas dívidas?”, perguntou o “Die Zeit”, quase que em homenagem ao referido Schäuble, para Santos Silva devolver: “Nós não aumentámos os salários. Só não continuamos a baixá-los.” E sobre se a sociedade alemã alguma vez aceitaria estar uma década sem aumentos salariais, foi o entrevistador a responder ao entrevistado. “Não. Claro que não.”