A guerreira passou ao ataque e mostra a sua raça

Isabel dos Santos é agora elogiada em Portugal pelos postos de trabalho que a sua fábrica cria

Isabel dos Santos, uma das empresárias mais ricas do mundo, decidiu abrir o livro e não tem poupado nos adjetivos para defender a sua honra. Vi-a ao longe duas ou três vezes no seu restaurante de Luanda e nunca trocámos uma palavra. Sempre a achei uma mulher misteriosa por tudo o que representava e representa. Filha do homem que governou Angola durante 37 anos, e de uma russa, Isabel foi ganhando no seu país e em Portugal um protagonismo que muitos questionavam. É óbvio que ser filha de quem é lhe abriu muitas portas e lhe facilitou muitos negócios, mas desde que o pai abandonou o poder, de livre vontade, diga-se, a empresária tem sido atacada com toda a força no seu país e, curiosamente, começa a ser elogiada em Portugal pelos seus investimentos por cá. E é ver ministros ao seu lado na sua fábrica, a Efacec.

Isabel, penso, está a gostar deste seu novo papel e responde com todas as letras aos ataques, usando as redes sociais e não se esquivando a entrevistas dos jornais. Explica o seu consulado na Sonangol, diz por que razão uma grande empresa não deve ter só funcionários do seu país, fala dos 40 mil empregos que criou em Angola e dos mais 700 postos de trabalho que vai criar em Portugal. Nas redes sociais são muitas as fotos que a mostram nos Estados Unidos da América, país que se dizia ter as portas fechadas aos governantes e familiares do antigo Presidente angolano, demonstrando que o seu nome é bem aceite na terra do tio Sam.

Na entrevista por escrito ao SOL, revela uma coragem surpreendente ao falar de racismo. Isabel tem irmãos negros, mas a sua pele é clara e, por isso, fala sobre a discriminação que existe no seu país: «Acho desprezível a manipulação e o uso de fotografias de angolanos mestiços e brancos e chamar-lhes estrangeiros». Quanto tantos ativistas falam em racismo em Portugal deviam saber que essa estupidez não é exclusiva dos europeus. Em todos os povos há cretinos que julgam as pessoas pela cor da sua pele.

Mas voltemos ao que se dizia que acontecia em Angola, país de que tenho conhecimentos mínimos, apesar de por lá ter andado algumas temporadas durante seis anos. José Eduardo dos Santos abandonou o poder pelo seu próprio pé e o atual Presidente decidiu afastar de diversos cargos alguns dos filhos do antigo líder do país. Isabel dos Santos estava à frente da principal empresa e o seu mandato de cinco anos foi interrompido ao fim de dois. Não faço ideia se era a pessoal ideal para o cargo ou não, apenas sei que quase tudo o que se escreveu acabou por ser desmentido. João Lourenço, o Presidente em exercício, tem tomado as decisões que entende serem as corretas e não se viu nenhuma revolução por isso.

 E Isabel tem todo o direito de se defender das críticas. Demonstrando estar muito bem preparada, a empresária lança números e factos para desmentir aqueles que a atacam e diz que há uma campanha generalizada e politizada contra ela: «Não tenho outra forma de explicar a regularidade e a intensidade de acusações falsas e campanhas difamatórias feitas contra mim em jornais», diz ao SOL.

Outro dado curioso da entrevista é que Isabel dos Santos frisa bem que é a maior empregadora de Angola e a que desconta mais impostos. Não fazendo uma avaliação do que foi ou é correto ou incorreto, reconheço que Angola vive uma nova realidade e que Isabel dos Santos quer fazer parte dela, sem o apoio do pai. Isso é indesmentível.

vitor.rainho@sol.pt