Orçamento: Voto do PSD será “tendencialmente contra”

Fernando Negrão diz que o facto do documento seguir a lógica do Bloco de Esquerda e do PCP faz com que seja incompatível com o que o PSD defende

O líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, admitiu esta quinta-feira que o voto do partido no Orçamento do Estado de 2019 poderá ser “tendencialmente contra”. A garantia, com muitas ressalvas, foi dada aos jornalistas após a reunião com a bancada, a primeira depois da crise com a direção de Rui Rio.  No encontro à porta fechada com os deputados foi mais taxativo no voto contra o documento. “Votaremos contra o Orçamento”, terá afirmado Negrão, segundo relatos feitos ao i por fontes parlamentares presentes na reunião.

“Não conhecemos o documento, mas sabemos que o documento é feito numa lógica de acordo com o Bloco de Esquerda e o PCP. Que defendem políticas que são completamente opostos às que defendemos. Por isso, tendencialmente, usando esta expressão, o voto do PSD poderá ser contra o Orçamento”, declarou Negrão aos jornalistas. Em todo o caso, o líder parlamentar foi mais longe no capítulo orçamental do que o presidente do PSD.

Na reunião da bancada, que durou hora e meia, Negrão ouviu muitas críticas de deputados à atuação da direção de Rui Rio, pela desautorização pública à votação do fim do adicional do  imposto sobre os produtos petrolíferos. No final, Negrão terá dito “não se volta a repetir”, segundo apurou o í de várias fontes parlamentares. Sobre o almoço com Rio para sanar o problema, Negrão não disse uma palavra.

O registo mais crispado da reunião começou com a estratégia do PSD sobre o pacote laboral. Mas o objetivo era outro: saber se o PSD dará a mão ao PS no Orçamento. Alguns deputados como Hugo Soares, ex-líder parlamentar, questionaram Negrão sobre o assunto. Hugo Soares exigiu uma clarificação sobre o desacerto dos sociais-democratas em relação ao sentido de voto no Orçamento do Estado de 2019. Foi nesse momento que Negrão terá dito “votaremos contra o orçamento”. A frase acalmou alguns deputados.

O encontro acabou por ficar marcado também pelas críticas à direção do PSD na gestão da operação Tutti Frutti. Hugo Soares e o antigo conselheiro de Passos Coelho, Miguel Morgado, foram os mais contestários. O ex-líder parlamentar considerou “desastrosa” a conferência de imprensa do secretário-geral do partido José Silvano. O dirigente garantiu aos jornalistas que os factos em investigação eram anteriores à atual direção. O registo terá levado Hugo Soares a falar em ajuste de contas com o passado. Miguel Morgado foi mais longer: não só a intervenção de Silvano foi infeliz como parece que o PSD quer perder eleições. A gestão das buscas ao PSD tem sido muito criticada no partido porque colocou os holofotes todos do lado dos sociais-democratas. O PS foi mais cauteloso, apesar de também ter sido alvo de buscas.

Sobre o pacote laboral que amanhã será discutido, Fernando Negrão confirmou o que já se suspeitava: só vai ser avaliado em setembro e deixou um aviso: “ Em setembro nós entendemos que temos de estar especialmente atentos às propostas de alteração. Se desvirtuarem o acordo, deixa de haver acordo e nós temos de chamar a atenção dos partidos políticos que entregarem propostas de alteração”.