Ao contrário do que aconteceu nas últimas eleições legislativas, em que António Costa pediu uma «maioria clara, inequívoca, absoluta», o PS não vai pedir maioria absoluta em 2019. Os socialistas acreditam, porém, que tudo é possível e vão bater-se por ela.
Costa não ignorou o assunto na festa de verão do PS e garantiu que a única meta é «ganhar». O discurso oficial é que o PS ambiciona conquistar o maior número de votos possível. Na prática, os socialistas já fazem contas ao impacto do novo partido de Santana Lopes nas logísticas e acreditam que poderão ter e acreditam que poderão sair beneficiados. «A maioria absoluta está ao nosso alcance se o PSD perder votos para os novos partidos de direita. Ninguém vai andar a pedi-la, mas é para isso que estamos a trabalhar», diz um dirigente.
No PS há opiniões para todos os gostos. Há quem pense que os bons resultados na economia aliados à crise na direita tornam possível atingir a maioria absoluta, mas também quem assuma que é quase impossível. O socialista Vítor Ramalho está ao lado dos que encaram esse resultado como uma possibilidade remota. «Muito dificilmente o PS terá maioria absoluta». O ex-governante desdramatiza um cenário em que o PS tenha maioria relativa e até acha «positivo para o país, porque permite aprofundar o diálogo com os outros partidos num quadro mundial difícil e que se vai agudizar. As maiorias absolutas de um só partido não deixaram boas recordações».
O PS só conseguiu atingir a maioria absoluta uma vez na história da democracia. José Sócrates, em 2005, tinha acabado de chegar à liderança e atingiu um resultado inédito contra o PSD liderado por Santana Lopes.
José Junqueiro, ex-deputado e dirigente socialista, está convencido que é possível voltar a atingir esse resultado. «Está ao alcance do PS. Há uma grande confiança no Governo e no primeiro-ministro. As pessoas estão muito contentes com António Costa». Junqueiro apresenta dois argumentos para justificar o otimismo. Este Governo conseguiu «estabilidade, crescimento económico e baixar o desemprego» e, ao mesmo tempo, as pessoas «percebem que a direita está desfeita». O ex-deputado está convencido que este clima faz com que «uma parte do centro e até da direita se reconheça nestes resultados da governação, mesmo que tenham dúvidas quanto à ‘geringonça’».
O deputado André Pinotes Batista também considera que «a maioria absoluta não é nenhum cenário excessivamente otimista». Mesmo sabendo que as sondagens não apontam nesse sentido, o socialista acredita que a «fragmentação» à direita poderá beneficiar o PS.
PCP alerta que PS quer aproveitar «algum alívio»
A ambição dos socialistas não é ignorada pelos parceiros do Governo. O editorial do jornal Avante! desta semana avisa que o PS está a querer aproveitar esta situação de «algum alívio» para conquistar a «ambicionada» maioria absoluta. O que só levaria ao «aprofundar» de uma «política de direita».
O PS não quer hostilizar os parceiros à esquerda. Muito menos antes das negociações do orçamento para o próximo ano. António Costa, na rentrée do PS, em Caminha, avaliou «muito positivamente o trabalho com os nossos parceiros parlamentares» e realçou que o BE e o PCP «têm sido essenciais».
Não deixou, porém, de marcar a distância em relação à esquerda ao definir o «rigor orçamental» como uma prioridade. «Ninguém pense que para o ano, por ser ano eleitoral, vamos pôr em causa o rigor à procura de caçar votos, porque um voto ganho pode ser um país que se perde. Os portugueses não votarão em ninguém que ponha em causa a sustentabilidade das contas públicas», afirmou o líder socialista.
O recado tinha como destinatários os partidos de esquerda, mas António Costa também não quer voltar a disputar eleições com o PS associado à falta de rigor orçamental. O primeiro-ministro já justificou a derrota, em 2015, com o receio dos portugueses de que Portugal voltasse a estar à beira da bancarrota. Agora, o discurso é de quem sabe que as posições se inverteram.