PS ainda sonha com maioria absoluta

Costa, ao contrário do que fez em 2015, não pede maioria absoluta, mas vai bater-se por ela. Divisão à direita fez renascer a esperança. Os socialistas admitem, porém, que ‘é muito difícil’.

PS ainda sonha com maioria absoluta

Ao contrário do que aconteceu nas últimas eleições legislativas, em que António Costa pediu uma «maioria clara, inequívoca, absoluta», o PS não vai pedir maioria absoluta em 2019. Os socialistas acreditam, porém, que tudo é possível e vão bater-se por ela. 

Costa não ignorou o assunto na festa de verão do PS e garantiu que a única meta é «ganhar». O discurso oficial é que o PS ambiciona conquistar o maior número de votos possível. Na prática, os socialistas já fazem contas ao impacto do novo partido de Santana Lopes nas logísticas e acreditam que poderão ter e acreditam que poderão sair beneficiados. «A maioria absoluta está ao nosso alcance se o PSD perder votos para os novos partidos de direita. Ninguém vai andar a pedi-la, mas é para isso que estamos a trabalhar», diz um dirigente. 

No PS há opiniões para todos os gostos. Há quem pense que os bons resultados na economia aliados à crise na direita tornam possível atingir a maioria absoluta, mas também quem assuma que é quase impossível. O socialista Vítor Ramalho está ao lado dos que encaram esse resultado como uma possibilidade remota. «Muito dificilmente o PS terá maioria absoluta». O ex-governante desdramatiza um cenário em que o PS tenha maioria relativa e até acha «positivo para o país, porque permite aprofundar o diálogo com os outros partidos num quadro mundial difícil e que se vai agudizar. As maiorias absolutas de um só partido não deixaram boas recordações».

O PS só conseguiu atingir a maioria absoluta uma vez na história da democracia. José Sócrates, em 2005, tinha acabado de chegar à liderança e atingiu um resultado inédito contra o PSD liderado por Santana Lopes. 

José Junqueiro, ex-deputado e dirigente socialista, está convencido que é possível voltar a atingir esse resultado. «Está ao alcance do PS. Há uma grande confiança no Governo e no primeiro-ministro. As pessoas estão muito contentes com António Costa». Junqueiro apresenta dois argumentos para justificar o otimismo. Este Governo conseguiu «estabilidade, crescimento económico e baixar o desemprego» e, ao mesmo tempo, as pessoas «percebem que a direita está desfeita». O ex-deputado está convencido que este clima faz com que «uma parte do centro e até da direita se reconheça nestes resultados da governação, mesmo que tenham dúvidas quanto à ‘geringonça’». 

O deputado André Pinotes Batista também considera que «a maioria absoluta não é nenhum cenário excessivamente otimista». Mesmo sabendo que as sondagens não apontam nesse sentido, o socialista acredita que a «fragmentação» à direita poderá beneficiar o PS. 

PCP alerta que PS quer aproveitar «algum alívio» 

A ambição dos socialistas não é ignorada pelos parceiros do Governo. O editorial do jornal Avante!  desta semana  avisa que o PS está a querer aproveitar esta situação de «algum alívio» para conquistar a «ambicionada» maioria absoluta. O que só levaria ao «aprofundar» de uma «política de direita». 

O PS não quer hostilizar os parceiros à esquerda. Muito menos antes das negociações do orçamento para o próximo ano. António Costa, na rentrée do PS, em Caminha, avaliou «muito positivamente o trabalho com os nossos parceiros parlamentares» e realçou que o BE e o PCP «têm sido essenciais». 

Não deixou, porém, de marcar a distância em relação à esquerda ao definir o «rigor orçamental» como uma prioridade. «Ninguém pense que para o ano, por ser ano eleitoral, vamos pôr em causa o rigor à procura de caçar votos, porque um voto ganho pode ser um país que se perde. Os portugueses não votarão em ninguém que ponha em causa a sustentabilidade das contas públicas», afirmou o líder socialista. 

O recado tinha como destinatários os partidos de esquerda, mas António Costa também não quer voltar a disputar eleições com o PS associado à falta de rigor orçamental. O primeiro-ministro já justificou a derrota, em 2015, com o receio dos portugueses de que Portugal voltasse a estar à beira da bancarrota. Agora, o discurso é de quem sabe que as posições se inverteram.