Tomás Correia já conta com duas listas concorrentes

Depois de Ribeiro Mendes, é a vez de António Godinho avançar para as eleições da Associação Mutualista Montepio Geral. Os nomes das duas listas já estão fechados e apelam mudanças profundas na instituição. 

Tomás Correia já conta com duas listas concorrentes

Tomás Correia ainda não decidiu se vai concorrer às eleições da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), mas pelo menos a sua lista de continuidade já conta com dois concorrentes. Depois de Fernando Ribeiro Mendes ter oficializado a candidatura, foi a vez de António Godinho avançar. O prazo de entrega de candidaturas termina a 31 de outubro e as eleições estão marcadas para 7 de dezembro.

Este último candidato, que nas últimas eleições era apoiado por Braga Gonçalves – antigo homem forte da Moderna e que esteve detido durante quatro anos – é um ex-trabalhador do Montepio, mas acabou por sair para se dedicar ao mundo dos negócios. Fundou o grupo Onebiz, que oferece redes e serviços em sistemas de franchising. O SOL sabe que na sua lista conta com nomes como Nuno Monteiro, que já tinha entrado nas últimas eleições, António Couto Lopes (ex-diretor do Finibanco e CEO do Finibanco Angola e que chegou a escrever cartas ao Banco de Portugal contra a administração de Tomás Correia), Lúcia Gomes (da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública) e Tânia Flores (advogada ligada ao escritório de advogados de José Braga Gonçalves).

Eugénio Rosa é o nome indicado pela lista de António Godinho para presidente do conselho fiscal da Mutualista, enquanto Alípio Dias é a pessoa escolhida para liderar o conselho geral. O ex-presidente do Banco Totta & Açores e ex-administrador do BCP que esteve envolvido num processo juntamente com Jardim Gonçalves e os restantes ex-administradores da instituição financeira por causa da criação de 17 empresas offshore que, com financiamento do BCP, procederam à compra e venda de ações da própria instituição. Estas unidades foram ocultadas, nunca foram comunicadas ao Banco de Portugal, não constaram nos relatórios do BCP e nunca foram referenciadas pelos auditores externos.

Já Fernando Ribeiro Mendes que tem sido uma das principais vozes críticas da liderança de Tomás Correia, ao apelar a mudanças profundas na associação, lidera outra lista alternativa. Ao que o SOL apurou, nesta constam nomes como Miguel Coelho (atual administrador da Mutualista e quadro do banco, votou contra o aumento de capital e o lançamento da Oferta Pública de Aquisição da Mutualista à Caixa Económica Montepio Geral), Maria Nazaré Rebelo (membro do conselho de administração da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões – ASF), Pedro Corte Real (professor da Universidade Nova), Vítor Baptista (antigo dirigente do PS de Coimbra). 

O ex-vice governador do Banco de Portugal, João Costa Pinto, é o nome indicado para o conselho geral da Mutualista e João Carvalho das Neves para o conselho fiscal.

«Conhecemos bem a enorme crise de confiança que afeta o nosso Montepio Geral, e que atinge a economia social no seu todo bem como a sociedade portuguesa. Para superar esta situação, temos um caminho difícil pela frente. O objetivo essencial que nos há de guiar é a reconstrução da confiança associativa e junto dos nossos parceiros fundamentais – o governo, o parlamento, os reguladores da atividade económica e as entidades da economia social», referiu Ribeiro Mendes na apresentação da candidatura. 

Também João da Costa Pinto, em entrevista ao i, já tinha admitido que estava disponível para dar o seu contributo para a reorganização da Associação Mutualista. «Como associado do Montepio e como economista que dá importância ao grupo Montepio, com certeza que estaria disponível para dar o meu contributo a um processo de reorganização do Montepio que, no essencial, respeitasse os princípios fundadores e permitisse consolidar a sua posição na sociedade portuguesa», revelou o economista, acrescentando ainda que «não faria sentido que andasse há anos a chamar a atenção para os problemas que se foram desenvolvendo no Montepio e depois me pusesse de lado relativamente a um esforço no sentido de encontrar as melhores soluções». 

Dúvidas em torno de Tomás Correia

Ao que o SOL apurou, o atual presidente ainda não decidiu se irá recandidatar-se, mas, caso avance, será para o seu último mandato. Tomás Correia está na liderança da Associação Mutualista há 10 anos e até 2015 acumulou com a presidência da Caixa Económica Montepio Geral. 

Para já, só deu uma garantia: depende de «muita interação, muito diálogo em torno do caminho e das pessoas mais hábeis para percorrer o caminho». Quanto aos movimentos que vão surgindo com vista à sua destituição, Tomás Correia já deixou um recado: «As alternativas não têm qualidade e não têm determinação para poder assumir tamanha responsabilidade».

Mas, apesar das dúvidas, já há nomes certos para esta lista de continuidade. Dois dos atuais administradores, Carlos Beato e Virgílio Lima, vão manter-se. Também Luís Almeida (ex-quadro da Caixa Económica) é outro nome que vai estar presente, assim como Idália Serrão (deputada socialista e secretária da mesa da Assembleia da República). Vítor Melícias mantém-se como presidente da mesa da assembleia-geral que ainda esta semana enviou uma comunicação aos trabalhadores a pedir para não se envolverem ativamente com nenhuma das listas, mas para participarem nas eleições com vista a esclarecer as dúvidas dos associados, apurou o SOL. 

Segundo os estatutos das Associações Mutualistas, o atual conselho de administração é obrigado a apresentar uma lista de continuidade, mesmo que não mantenha os administradores que estão ainda em funções. Até 2003, houve sempre apenas uma lista a eleições. Só no final desse ano é que começaram a surgir candidaturas alternativas. Nessa altura, coube a António Maldonado Gonelha, ex-ministro do Trabalho e da Saúde, fazer face à lista de José da Silva Lopes que saiu vencedora.

A partir daí, o interesse pelas eleições no Montepio foi ganhando maior relevo e as listas também se foram multiplicando. Exemplo disso, foi o que aconteceu no último ato eleitoral: apareceram na corrida quatro candidaturas e foi possível, ao mesmo tempo, encontrar um pouco de tudo, de ex-políticos a dirigentes sindicais, contando ainda com apoios públicos, nomeadamente com figuras ligadas às artes. 

A lista liderada por Tomás Correia venceu as últimas eleições com 58,7% dos votos, mas envolvida em forte contestação. Uma das candidaturas derrotadas – de António Godinho, um dos rostos do projeto ‘Renovar Montepio’ – chegou a pedir a impugnação dos resultados, nomeadamente por não ter sido possível às listas da oposição assistir ao processo de validação dos votos por correspondência (mais de 95% dos votos não são presenciais), com o argumento de que os dados dos associados são protegidos por sigilo bancário (uma vez que a validação das assinaturas é feita por semelhança com a assinatura dos clientes na base de dados bancária), considerando que isso facilitaria eventuais falsificações de votos. Mas, no ano passado, o tribunal chumbou a repetição das eleições, considerando improcedente o processo que tinha sido intentado.