Costa, o pistoleiro e pianista do saloon

Coitada da direita que ainda anda aos tiros enquanto Costa está bem instalado no piano a beber um whisky puro. Quem diria que o homem que sempre acusou a troika de não ligar às pessoas, aparece agora a colar-se aos interesses superiores dos credores? 

Santana Lopes, numa curiosa entrevista ao jornal i, dizia que a política portuguesa está de «cabeça para baixo, ao contrário», e tem toda a razão, embora Santana não seja o político que tem primado mais pela coerência ao longo da sua carreira. Mas vamos à parte em que o líder do Aliança tem toda a razão. O país é governado por uma aliança, não a de Santana, em que o PS conta com os seus parceiros de ‘geringonça’ para aprovar as supostas medidas mais esquerdistas, sendo o expoente máximo o Orçamento do Estado – o instrumento que possibilitará ao Executivo pôr em marcha as supostas medidas sociais mais justas.  

Era pois de esperar que o Governo de António Costa rompesse completamente com a governação anterior e colocasse os interesses das pessoas à frente dos interesses do país. Afinal, os malandros da troika, através do Governo de Passos Coelho, impuseram aos portugueses duras medidas de austeridade, cortando em salários, pensões e mandando para o desemprego muita gente. O atual primeiro-ministro sempre falou em romper com essa política e que com ele a austeridade tinha acabado. Qual não foi, no entanto, o espanto quando nos últimos tempos ouvimos governantes e políticos que foram ferozes adversários da troika defenderem que Costa não pode dar aos professores o que eles exigem, pois «fez o que devia fazer para garantir as contas públicas e a credibilidade» nacional, como também disse ao i, Manuel Alegre, o histórico combatente. Confesso que leio, releio e fico virado ao contrário.

Então não era suposto a austeridade ser para a direita? Não era suposto a ‘geringonça’ estar pouco preocupada com a credibilidade e pensar mais nas pessoas do que no país? Costa, por muito que irrite algumas criaturas, tem este dom de conseguir ser simultaneamente o pistoleiro e o pianista do saloon que continua a tocar quando todos estão aos tiros. Difícil de entender? Aí está a magia do primeiro-ministro. Primeiro dá os tiros, cria a confusão, e depois senta-se ao piano a fingir que não é nada com ele. Deu os tiros quando disse que se ia embora mais cedo e que voltaria nas eleições antecipadas dois ou três meses, e sentou-se ao piano quando o PSD e o CDS tentavam encontrar a porta de saída do saloon. 

Coitada da direita que ainda anda aos tiros enquanto Costa está bem instalado no piano a beber um whisky puro. Quem diria que o homem que sempre acusou a troika de não ligar às pessoas, aparece agora a colar-se aos interesses superiores dos credores? Ainda para mais, Costa tem tido a habilidade de impor uma verdadeira política de direita, fazendo requisições civis como não há memória, atacando os direitos à greve, as ordens profissionais, além de ir sacando milhões e milhões em impostos como os dos combustíveis, que chega já a ser escandaloso. Nunca foi tão caro atestar o depósito e o preço do barril está a um terço do que já foi. Se isto não é de génio, o que será? Num país que tem dois milhões de pobres, é natural que Costa consiga sobreviver a todos os ataques, já que as migalhas que dá são muito saborosas, nomeadamente as do passe único.

E o que dizer da esquerda que se sente traída, apesar de Costa dizer que são os únicos coerentes na história dos professores, atacando a direita para tentar calar o BE e o PCP?  

O que irá fazer o PCP daqui para frente, já que o seu ponta de lança na causa dos professores, Mário Nogueira, pôs todas as fichas na polémica? E o BE? Se Joana Mortágua diz que o ministro das Finanças «ou não sabe fazer contas ou quis enganar o país» como será a relação daqui para a frente? Parece evidente que o grande vencedor desta polémica foi o mentor da mesma. E assim vira as contas das europeias, puxando todas as atenções para a sua governação, que não descuida os interesses superiores (contas) do futuro do país. O que, como sabemos, fez Passos Coelho ganhar as últimas eleições. 

vitor.rainho@sol.pt