O populismo estatal

A degradação dos serviços de que o Estado é responsável é uma triste realidade, acentuada nos últimos anos fruto de uma gestão danosa por parte das entidades que teriam como obrigação primária garantir a prestação de um adequado apoio às necessidades mais básicas das comunidades.

É inquestionável que os portugueses são dos povos mais sacrificados pela elevada carga fiscal que lhes é extorquida, mas também ninguém, de boa-fé, pode duvidar de que os nossos serviços públicos, apesar dos exorbitantes impostos que depositamos nas mãos de quem gere o Estado, são dos mais paupérrimos dos que existem no mundo civilizado.

A degradação dos serviços de que o Estado é responsável é uma triste realidade, acentuada nos últimos anos fruto de uma gestão danosa por parte das entidades que teriam como obrigação primária garantir a prestação de um adequado apoio às necessidades mais básicas das comunidades.

Basta ir-se a uma conservatória do registo civil e solicitar-se a renovação do cartão de cidadão ou do passaporte. Depois, com muita paciência, é esperar-se alguns meses para que o nosso pedido seja satisfeito!

Mas um dos mais flagrantes exemplos da incúria instalada nos organismos estatais é o sector da saúde.

Mal-grado o discurso ideológico e oportunista que se apoderou das fracas mentes que inundam o governo que nos calhou em sorte, o serviço nacional de saúde, que aqueles seres tanto idolatram, rebenta pelas costuras, deixando populações carentes sem meios de recorrer a cuidados médicos fundamentais.

A falta de médicos é notória, pois estes, sempre que podem, batem com a porta e mudam-se para o privado, onde vão encontrar, para além de um vencimento mais atractivo, melhores condições de trabalho.

Resultado, as listas de espera tornaram-se numa dor de cabeça para quem necessita de tratamento urgente, em particular para aqueles que estão condenados a uma indispensável cirurgia.

Os políticos que deveriam cuidar da nossa saúde lembraram-se de uma miraculosa solução para contornar este problema, que foi a de transferir as operações cirúrgicas em atraso para os hospitais privados, deixando aos hospitais públicos a ónus de liquidarem as respectivas facturas.

Já sabemos que os socialistas são exímios em apresentar obra paga com o dinheiro de terceiros, ou então, o mais recorrente, acumulando dívidas que serão suportadas pelas gerações vindouras, pelo que esta medida, em teoria louvável, mais tarde ou mais cedo iria dar barraca.

E, como bem sabemos, já deu!

Há mais de dois anos que os privados não vêem a cor do dinheiro correspondente aos cuidados médicos prestados a quem, em tempo útil, não conseguiu ser assistido no sector público, razão pela qual os estabelecimentos hospitalares pertencentes a grupos económicos privados se recusam agora a aceitar doentes provenientes dos hospitais estatais.

Como é óbvio, sem pagamento não há favores. E quem se lixa, claro está, são os doentes, o elo mais fraco do famigerado serviço nacional de saúde.

A titular da pasta da saúde, que faz gala em que o seu nome seja democraticamente temido junto dos profissionais do sector, assobia para o lado, fingindo que nada tem a ver com o assunto. Os hospitais que se desenrasquem, porque é a eles que compete a responsabilidade pelo saldar das dívidas contraídas.

Mas os hospitais, graças às cativações centenistas e às generosas reduções do horário laboral, não têm dinheiro sequer para suprir as despesas caseiras, pelo que muito menos terão para desviar as verbas destinadas a garantir que os seus doentes sejam adequadamente tratados nos hospitais propriedade de particulares.

Perante este dramático cenário, de que é que os nossos políticos agora se lembraram?

De dar como extintas a maioria das taxas moderadoras!

Os bloquistas, na senda da ideologia utópica que não se cansam de apregoar, propuseram e os restantes partidos, com a excepção dos auto-intitulados centristas, aprovaram, apesar de terem considerado inapropriado o momento da implementação dessa peregrina ideia.

O eleitoralismo falou mais alto!

Em verdade se diga, as eleições estão à porta e a rapaziada precisa do voto popular para manter o seu tacho no hemiciclo.

A milhares de doentes é-lhes negado o direito a um tratamento que lhes cure da enfermidade de que padecem, pela simples razão de que o Estado tem uma dívida acumulada de cerca de 20 milhões de euros por cirurgias que encomendou mas não pagou, mas esse mesmo Estado, em nome da demagogia e da irresponsabilidade dos mentecaptos que o dirigem, prescinde de uma receita orçamental de 160 milhões de euros destinada à saúde!

E se já não havia meios para acudir a todas as gentes que recorrem a consultas, imagine-se como vai ser no futuro próximo, quando estas forem totalmente de borla!

As taxas moderadoras são injustas? Claro que sim. Mas, infelizmente, necessárias, porque, ao contrário do que os líricos que se passeiam pelos corredores do poder nos querem fazer crer, a saúde não é grátis e o País não é suficientemente rico para que o Estado assuma sozinho as despesas inerentes a todos os cuidados médicos de que as populações necessitam.

Este populismo estatal, que se espalha como uma praga sobretudo desde que a governação nacional está condicionada pela satisfação dos caprichos da extrema-esquerda, encontra igualmente o seu máximo expoente junto dos transportes públicos.

Reverteram-se, em cedência à ideologia bacoca, as privatizações previstas para muitos dos meios de transporte utilizados diariamente pelos utentes.

E agora, qual o quadro com que nos deparamos? Interrupções frequentes dos percursos que conduzem as pessoas aos seus locais de trabalho, seja por greves sucessivas, por avaria de material, por falta de carruagens e por mais uma panóplia de motivos que transformaram o serviço público de transportes num filme trágico para quem deles se vê forçado a recorrer.

Para ajudar à festa, em mais uma decisão que mais não visa do que a recolha de votos, o governo resolveu baixar drasticamente o valor da maioria dos passes sociais, contribuindo decisivamente, dessa forma, para a criação de uma nova categoria de indivíduos: os enlatados!

Se os nossos políticos se dedicassem à construção civil estávamos todos bem tramados, porque não estaríamos seguros em nenhum edifício por eles erguido. Sim, porque essas inteligências iniciariam a construção das casas pelo telhado, não lhes garantido, assim, a indispensável sustentação que as mantivesse de pé!

Os pseudo-governantes, mais uma vez, colocaram a carruagem à frente dos bois. Ao invés de primeiro aumentarem a oferta de meios de transporte para depois responderem a uma eventual superior procura, preferiram aventurarem-se pelo mais fácil, distribuindo benesses, sem dúvida justas, mas que nas actuais circunstâncias não passam de presentes envenenados.

Antes os transportes públicos eram maus, agora são péssimos.

A título de exemplo refira-se que o Metropolitano lembrou-se, tendo em vista atenuar os efeitos da maior procura com que se viu de repente confrontado, de retirar lugares sentados para haver mais espaço para as pessoas viajarem bem mais aconchegadas. Muitas, agora, nem sequer vão conseguir pôr os pés no chão durante o trajecto a que têm de se submeter! 

Os utentes passaram a pagar menos pela utilização dos transportes, é verdade, mas agora vão em cima uns dos outros!

O serviço público no seu esplendor!

Pedro Ochôa