Comunidade cigana e PCP revoltados com PAN

O PAN voltou a tocar no tema do uso de carroças, mas, desta vez, custou-lhe uma demissão e críticas da opinião pública. Em causa estão declarações contra a comunidade cigana da deputada municipal do partido na Moita

Sem nunca ter mencionado a palavra ‘ciganos’, Fátima Dâmaso, deputada municipal do PAN  (Pessoas-Animais-Natureza), demitiu-se após ter sido fortemente criticada por apontar o dedo à etnia em questão. Tudo se passou na passada segunda-feira, quando a deputada estava a apresentar uma moção na Assembleia Municipal da Moita. A proposta tinha como objetivo promover a “proteção dos equídeos” da região, que incluía um alerta para a “circulação de animais atrelados a carroças”. 

O problema não se relacionou com o conteúdo da recomendação, mas sim com a forma como descrevia os donos dos animais. “Aqui na Moita existe uma etnia que se multiplicou e que e que todos os dias se passeiam pela Moita e arredores, empilhados em cima de carroças, puxadas por um único cavalo subnutrido, espancado a desfazer-se em diarreias por não ser abeberado e alimentado, não suportando mais”. 

Numa questão de horas, a Comissão Política Permanente do PAN teve conhecimento da situação e “contactou de imediato” Fátima Dâmaso, disse o próprio partido num comunicado. Segundo a mesma nota, a deputada “colocou o cargo à disposição” e o PAN aceitou a demissão “uma vez que não existem condições políticas para a prossecução das suas funções”. 

Ao i Rui Garcia ainda explicou que não esperava que a deputada fosse demitida. “Apesar de ter dito algo extremamente grave, sempre teve uma postura construtiva e eu acho que só tomou consciência do que estava a dizer depois de ter lido o texto em voz alta”, argumentou o membro da CDU. 

Sobre se a moção apresentava uma questão pertinente para o município, o comunista confessou “que, se não fossem aquelas declarações discriminatórias”, a recomendação tinha sido aprovada. 

“A atividade equestre tem aumentado na Moita e muitas vezes os cavalos não têm as melhores condições ou são abandonados quando já estão velhos, mas estas situações não se dão exclusivamente na comunidade cigana. Estes problemas não têm nada a ver com os ciganos”, reforçou.

Prudêncio Canhoto, presidente da Associação de Mediadores Ciganos de Portugal, também considera que a demissão de Fátima Dâmaso foi uma decisão despropositada e que teria sido mais significativo que a deputada tivesse “reconhecido o erro publicamente”. Porém, o responsável por esta associação não deixou de condenar as declarações feitas pela deputada do PAN. “Assim, o preconceito nunca mais acaba. É preciso ter cuidado com as coisas que se dizem. Nós só queremos justiça. Quando alguém faz mal façam cumprir a lei, não usem os ciganos. A lei é igual para todos”, argumentou. 

"Deve-se tratar cada caso individualmente e não fazer generalizações. Nós sabemos que há muitos ciganos que têm cavalos, mas a Moita é uma zona em que há muitos cavalos e tenho a certeza que os problemas que possam envolver os animais não são só da responsabilidade da comunidade cigana", disse.