Jerónimo nega casamento com PS de Costa

O dirigente do PCP negou ter tido quaisquer conversas com o PS para a celebração de uma nova ‘geringonça’ depois de dia 6 e mostrou-se confiante no reforço da CDU no Parlamento, ao contrário do que as últimas sondagens apontam.  

Na última semana de campanha eleitoral, Jerónimo de Sousa afastou o PS como aliado, chegando mesmo a rejeitar ter vivido uma relação de convergência nos últimos quatro anos com os socialistas. 

«Casamento não houve. Nem união de facto. Em matérias de fundo, com as divergências que existem em relação ao PS, não se pode dizer que houve ali uma união de facto, antes pelo contrário», afirmou o líder dos comunistas no início da semana, à margem de uma ação de campanha em Canas de Senhorim.  

Sobre o futuro, o dirigente foi também claro sobre a relação que pode ter com o partido de António Costa: «Não cederemos a qualquer proposta que colida com os interesses dos trabalhadores e do povo», esclareceu, dando ainda a sua palavra de como não houve qualquer contacto recentemente entre comunistas e socialistas para se desenhar uma solução semelhante à atual ‘geringonça’. 

Em resposta às declarações prestadas pelo secretário-geral do PS numa entrevista à RTP – na qual Costa considerou que BE e PCP não se comprometeram em «assegurar condições de governabilidade» nos próximos quatro anos e que a repetição da atual solução política dependerá de «um PS forte» – Jerónimo contrapôs, alegando que os comunistas não podem estar «disponíveis para uma coisa que ainda não aconteceu». E assegurou que só depois de o portugueses manifestarem a sua vontade nas urnas é que, «perante políticas e programas concretos», tomarão decisões. «Não é ‘queremos ir para o Governo porque queremos ser Governo’. Nisso não contam com o PCP. Seremos Governo, quando o povo português entender e não o PS, naturalmente», garantiu o dirigente. 

 

Reconhecimento nas ruas é a  sondagem da CDU

A pouco mais de 24 horas da reta final da campanha, Jerónimo fechou os olhos às últimas sondagens – que apontam para a perda de um deputado na CDU em comparação com 2015. Pelo contrário, o líder mostrou-se confiante «de que a CDU tem a perspetiva de se reforçar para os combates tão difíceis que aí vêm».

O secretário-geral do PCP deixou ainda o aviso sobre as previsões que antecipam a hipótese de o PS poder formar governo apenas com o apoio de um dos partidos à esquerda: «Contas apressadas geralmente dão mau resultado». 

Jerónimo adiantou que, a seu ver, as sondagens que lhe interessam são aferidas nas ruas. «Andamos a fazer sondagens todos os dias no contacto direto com os eleitores, com as pessoas. O sentimento que tenho e os meus camaradas me transmitem nesta campanha de âmbito nacional é de grande confiança, com uma aceitação muito grande, o reconhecimento pelo papel que a CDU teve nestes quatro anos. São elementos que nos dão confiança, é esta a nossa sondagem», reiterou o líder numa arruada durante a manhã de quinta-feira, nas ruas do Barreiro, em Setúbal. 

 

Um PS «embriagado»

Ainda a propósito das previsões dos resultados eleitorais, Jerónimo de Sousa acusou também o PS de estar «embriagado sempre com as sondagens» e de ter, desde o início da campanha, pensado numa maioria absoluta. 

«É mau sinal que [o PS] pretenda uma maioria absoluta. Pode-se dizer que é um direito legítimo, mas quer maioria absoluta para quê? Para ficar de mãos livres, para não ter de se sujeitar à composição real da Assembleia da República», reiterou. O dirigente evocou as recentes alterações ao Código do Trabalho – que foram alvo de pedido de fiscalização sucessiva da constitucionalidade por parte do PCP, BE e Os Verdes – para recordar que um «PS solto» terá «traços de política de direita» e que irá «prosseguir essa política de direita».

 

«Esforço final» pelos indecisos

No penúltimo dia de campanha, Jerónimo declarou, ainda em Setúbal, que este «esforço final» é dedicado aos eleitores que «ainda hesitam» em votar no próximo domingo. «Eu não sei qual é o grau, mas continua a haver muitos portugueses que hesitam, que ainda não optaram pelo voto ou pelo não voto, e por isso mesmo é que este esforço final é muito dirigido a esses eleitores», vincou o líder comunista, pedindo ainda aos camaradas para se dirigirem a  «quem não está ganho» ou a quem até partilha dos valores do partido, mas que «tem dificuldade e pôr a cruzinha na foice, no martelo e no girassol».

 

Jerónimo no PCP em 2020?

Na mesma arruada, questionado pelos jornalistas sobre se esta seria a sua última grande campanha à frente do PCP, tendo em conta que o dirigente pode vir a abdicar da liderança no Congresso Nacional do final do ano de 2020, Jerónimo de Sousa matou rapidamente o assunto. «A questão não está colocada, nem por mim nem pelos meus camaradas. Agora é andar para a frente nesta campanha», atirou redirecionando o foco para as legislativas.