Costa prepara partido para presidenciais e autárquicas

PS teme perder algumas câmaras importantes, mas António Costa já avisou que em cenário algum fará como Guterres: os quatro anos da legislatura são para cumprir. Lisboa é um dos casos complicados. Medina garante que voltará a ser candidato e respondeu à notícia dada por Marques Mendes de que pode substituir Centeno nas Finanças: é…

O PS já está a preparar as próximas eleições presidenciais e autárquicas. Com o novo Governo, António Costa preparou as suas hostes para a exigência da acumulação da atividade governativa  com a preparação e o exercício da presidência da Comissão Europeia. E, agora, é tempo de começar a reorganizar o partido e a cerrar fileiras para as dificuldades do ciclo eleitoral que vai ter de enfrentar: com as presidenciais no final do próximo ano e as autárquicas daqui a dois anos. 

Interna e externamente, o líder socialista jádeixou claro que  independentemente dos resultados eleitorais – por piores que sejam – levará o mandato até ao fim. «Comigo não há pântanos», garantiu aos deputados, numa reunião do grupo parlamentar.

Os socialistas não esquecem o ano de 2001. António Guterres demitiu-se depois de um desaire eleitoral nas autárquicas. Ficou célebre o discurso do então primeiro-ministro de que batia com a porta para evitar que o país caísse num «pântano político».

Costa não vai por aí. Na tomada de posse do seu novo Governo, o primeiro-ministro deixou bem vincado aquilo que já dito aos deputados: os resultados das autárquicas e das presidenciais não irão «condicionar a ação governativa». 

Nas últimas autárquicas, o PS conseguiu o melhor resultado de sempre, com 158 câmaras. Um resultado difícil de manter numa altura em que o Governo já dará sinais de desgaste ao fim de seis anos. Lisboa é uma das preocupações dos socialistas. Fernando Medina perdeu a maioria absoluta nas últimas autárquicas, com o PSD muito fragilizado, e vários socialistas admitem que se a direita recuperar poderá ser uma batalha difícil. «Vai ter grandes dificuldades se for novamente candidato», diz um dirigente do partido. 

Graça Fonseca, próxima de António Costa, é um dos nomes apontados como sendo uma boa alternativa a Fernando Medina, mas este deixou entretanto claro que tenciona mesmo voltar a ser candidato.

A luta pela Câmara de Lisboa mistura-se com a disputa interna pela liderança do partido. 

Fernando Medina é um dos nomes apontados como estando na corrida à sucessão de António Costa sair. Teria o apoio da ala mais moderada do partido. Mas há outro nome a ter em conta e que ganhou peso nos últimos anos: Ana Catarina Mendes. Foi número dois do partido e tem bons resultados eleitorais para mostrar. A liderança do grupo parlamentar também lhe permite ganhar notoriedade e, sobretudo, peso dentro do aparelho. 

Neste quadro, e praticamente certa, é a candidatura de Pedro Nuno Santos, que, como já se viu no último congresso dos socialistas, conta com o apoio da maioritária ala esquerda do partido.

 

Costa longe de «pôr os papeis para a reforma»

Ao certo, e incluindo o líder, ninguém sabe daqui a quanto tempo a questão da liderança se irá colocar. O que não impede os vários protagonistas de tentarem ganhar peso dentro do aparelho.

A ala liderada por Nuno Santos propôs a Costa o nome de Miguel Alves para número dois do partido, quando Ana Catarina Mendes saiu, mas o líder socialista optou por José Luís Carneiro.

Mas a verdade é que, quer com o reforço do poder do ‘seu’ aparelho partidário no Governo, quer com a reorganização interna que está a preparar para apresentar ao Congresso de janeiro, Costa dá mostras de não estar a pensar em por os papeis para a reforma tão cedo. Já o disse no último congresso e deverá repeti-lo no próximo.

Entretanto, Fernando Medina obrigado a vir a público esclarecer que está de alma e coração na Câmara de Lisboa. A confusão foi lançada por Marques Mendes no seu habitual comentário dominical na SIC. O ex-líder do PSD garantiu que António Costa e Mário Centeno «estão em rota de colisão» e que o nome de Medina é falado, num círculo muito restrito do PS, para este cargo. «António Costa pode querer surpreender», atirou o comentador. 

A notícia do conselheiro de Estado foi vista no PS como mais uma «maldade». Há quem diga que é um «disparate», mas também quem ache que alguém ‘soprou’ a notícia ao comentador com o objetivo de fragilizar Fernando Medina. «Seria um erro brutal. Acho que Fernando Medina nunca faria isso », diz um deputado socialista.

O presidente da Câmara de Lisboa começou por classificar como «um pouco bizarro» a discussão pública à volta do comentário de Marques Mendes e garantir que os seus planos não passam pelo Governo. «Vejo-me a ser presidente da Câmara com imenso gosto, é o que gosto de fazer», disse, na Rádio Renascença, onde comenta a atualidade política.

A luta interna está inevitavelmente ligada ao futuro do Governo. Sem maioria absoluta e sem acordos com a esquerda, o objetivo traçado por António Costa de cumprir a legislatura até ao fim pode tornar-se complicado. A juntar à incerteza  sobre o comportamento dos partidos de esquerda há outro fator a ter em conta: dá pelao nome de Marcelo Rebelo de Sousa. Num segundo mandato, Marcelo pode cumprir a tradição e complicar mais a vida ao Governo socialista. Carlos César, presidente do PS, já avisou que é preciso avaliar se Marcelo vai recandidatar-se para «fazer o mesmo» ou «algo diferente». 

 

Apoio a Marcelo divide socialistas

Vencer as presidenciais é uma missão quase impossível com a recandidatura de Marcelo, mas o PS vai ter de decidir se apoia o atual Presidente da República ou se apresenta candidato próprio. Socialistas com peso, como Ferro Rodrigues, Jorge Coelho ou João Soares já admitiram apoiar o ex-líder do PSD, mas essa possibilidade não é consensual. A socialista Ana Gomes defendeu que «uma campanha eleitoral é sempre uma grande oportunidade para fazer política e discutir política». 

Em entrevista à Lusa, esta semana, a ex-eurodeputada considerou que o partido tem muitos «militantes qualificados» para disputar as presidenciais.

O PS nunca apoiou uma candidato que não fosse da sua área política. Nas últimas eleições presidenciais, António Costa decidiu. porém, não apoiar nenhum dos candidatos e dar liberdade de voto aos militantes. O cenário era diferente com duas candidaturas da área socialista, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, mas essa hipótese também não pode ser descartada. Permitia a Costa não apoiar um candidato de direita sem afrontar Belém.