Os quarenta parece ser toda a juventude que este país aguenta, e Tiago Rodrigues tornou-se o mais jovem diretor artístico do D. Maria em finais de 2014. Mas se aos 42 anos se tornou também a mais jovem das figuras galardoadas com o Prémio Pessoa, não entra para o 33.º lugar da lista apenas como um sopro chamando a sorte para a mão antes do lançar dos dados. Por maior que seja a promessa, o júri reconhece o poderoso embalo deste ator, encenador, dramaturgo, que «começou por se destacar no panorama artístico português quando foi co-fundador do projecto Mundo Perfeito, com o qual apresentou mais de 30 produções, quer em Portugal, quer em alguns dos mais importantes festivais e temporadas na Europa, no Brasil e nos Estados Unidos». Assim, a intenção é dar ainda mais força ao ímpeto de um dos poucos autores e artistas portugueses para quem todos os ventos têm sido favoráveis, e nesse sentido há já uma tentação de consagrar uma carreira de «excepcional projecção dentro e fora do país, mas também reconhece um contributo notável para o desenvolvimento do campo das artes performativas portuguesas». Recorde-se, aliás, que Tiago Rodrigues recebeu o Prémio Europa de Teatro de 2018, e já este ano, França atribuiu-lhe o grau de Cavaleiro de Artes e Letras.
Em Londres, a encenar com a Royal Shakespeare Company a peça Blindness and Seeing, um espetáculo que adapta dois romances de José Saramago – Ensaio sobre a Cegueira e Ensaio sobre a Lucidez –, Tiago Rodrigues reagiu à notícia, afirmando que foi para si «uma grande felicidade porque é um prémio extremamente importante». Frisou ainda que esta distinção «premeia também a qualidade e a vitalidade do teatro português apesar das muitas dificuldades que enfrenta cronicamente». Em declarações aos DN, o galardoado acrescentou que o prémio pessoa vai assim «para várias pessoas, porque sendo atribuído a alguém do teatro, é necessariamente um prémio coletivo. Acho que nenhum caminho se faz sozinho, mas em teatro sobretudo os caminhos são coletivos, portanto é um prémio que não me honra só a mim, mas premeia também muitas centenas de pessoas que nos últimos vinte e poucos anos acompanharam no meu trabalho, e colaboraram no meu trabalho, construíram aquilo que eu posso chamar o meu trabalho de teatro: muitos atores, muitos técnicos, muitos produtores, muitos teatros.»
Sublinhe-se, de resto, que o júri destacou como a sua escolha para a direcção artística do D. Maria II foi uma aposta ganha, e que, à sua frente, Rodrigues «lançou um ambicioso projecto de internacionalização daquela instituição, à qual imprimiu um novo dinamismo desde logo reconhecido pela crítica e pelo público». O júri vincou ainda «o papel que, sob a sua orientação, o Teatro Nacional tem vindo a desempenhar na articulação com os projectos teatrais independentes e com a circulação de produções por todo o país».
É preciso recuar a 2005, ano em que esta iniciativa anual do jornal Expresso, com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos e que tem uma dotação em dinheiro no valor de 60 mil euros, distinguiu outra figura do teatro português. Luís Miguel Cintra estava, até hoje, sozinho como embaixador desta zona cultural que enfrenta atualmente desafios sérios, colocando esta comunidade em pé de guerra com o Ministério da Cultura e o seu programa de apoio às artes. Tiago Rodrigues sucede ao investigador Miguel Bastos Araújo, um dos maiores especialistas mundiais em alterações climáticas e biodiversidade, que recebeu o prémio na edição de 2018.