O dia D para Rio e Montenegro no PPD/PSD

Candidatura de Montenegro dá “tolerência zero” e deu ordens para apertar na fiscalização de mesas. Queixa… só de Freixo Espada à Cinta. Rio diz-se cansado de “historietas”.

Pela primeira vez um líder do PSD será escolhido numa segunda volta das eleições internas diretas, numa disputa entre Rui Rio e Luís Montenegro. Na primeira volta os dois adversários ficaram separados por 2409 votos, saindo da corrida o autarca Miguel Pinto Luz.

O discurso da semana de campanha acabou por ser o da dramatização, com Luís Montenegro, antigo líder parlamentar, a alertar que esta é "a última oportunidade" para mudar a estratégia do partido. Já Rui Rio, presidente e recandidato, lembrou que se vencer e a vitória for curta, então há o risco de os críticos voltarem a "infernizar" a vida do líder. Recado dado com uma campanha feita sobretudo de contactos de bastidores e envio de SMS aos militantes.

Porém, do lado do antigo líder parlamentar havia ainda outra preocupação. Os problemas de secretaria. O Observador noticiou que em Freixo Espada à Cinta, no distrito de Bragança, alguns militantes nem sequer saíram de casa para votar. Alguém o terá feito por eles numa secção em que os 25 votos expressos foram todos para o mesmo lado. O caso mereceu, inclusive, um pedido de inquérito feito ao Conselho de Jurisdição Nacional sobre este caso. Esta situação foi a única que mereceu uma queixa da candidatura de Montenegro nesta semana, mas a equipa do antigo líder parlamentar detetou situações em que os resultados foram quase todos para o mesmo lado, o do adversário, o que fez soar os alarmes na sua sede de campanha. Resultado? Houve ordens expressas para garantir a presença de delegados da candidatura em todas as secções e reforçar naquelas onde os números do passado dia 11 levantaram dúvidas. Desta vez, Montenegro contou com a articulação de alguns elementos da equipa de Pinto Luz ( que não diz em quem vota) para apertar a fiscalização das votações, desde a chegada dos militantes à introdução de votos em urna.

Pelo caminho, Luís Montenegro ainda acusou membros da direção de Rio de oferecer lugares em troca de apoios. Já o seu adversário, atacou a campanha de casos, de "historietas" e de um partido que está cansado de campanha. Talvez, por isso, tenha enviado esta sexta-feira um SMS a apelar ao voto, depois do almoço, e cessado a atividade de campanha. Afinal, houve dois jogos de futebol ao fim do dia. Assim, a aposta dos apoiantes de Rio foi a de segurar, não só os votos que obteve à primeira volta ( chegou a estar perto de uma maioria absoluta antes de serem apurados os resultados de Lisboa), conseguir angariar votos nos militantes que votaram em Pinto Luz (pelo menos uma centena) e convencer quem não quis sair de casa.

 

Desejo de vitória folgada

Se ganhar, espera obter uma vitória folgada para prosseguir a sua estratégia, se perder, o discurso entre os seus apoiantes é o de que cumpriu o seu papel e retomará a sua atividade profissional.

Por seu turno, a situação de Luís Montenegro pode ser um pouco mais complexa. O próprio já disse que se perder regressa à condição de militante de base e à sua profissão de advogado, mas a dimensão do resultado ditará se o seu futuro político está, ou não, comprometido. Há quem garanta que não, porque a maioria dos líderes do PSD, concorreram ao cargo – e perderam – pelo menos uma vez antes de chegarem à presidência do partido.

Contudo, existem alguns sinais importantes a reter. Primeiro, Miguel Pinto Luz obteve mais de 3 mil votos na corrida interna. E os seus apoiantes apontam-lhe um espaço no futuro. Esta sexta-feira mesmo, o antigo braço direito de Passos Coelho, Miguel Relvas, disse, em entrevista ao Jornal Económico que Pinto Luz, desconhecido até aqui do País e no partido, teve uma "derrota cheia de futuro". E Luís Montenegro falou demasiado para dentro do PSD quando deveria ter falado mais para o País. Relvas apoiou inicialmente Pinto Luz e agora transita para Montenegro, não sem antes de lhe apontar a necessidade de mudar a estratégia de campanha. Mais, o também ex-ministro considerou que o líder natural continua a ser Passos Coelho.

Aliás, Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais e superior hierárquico político de Pinto Luz, admitiu ao jornal espanhol Voz da Galiza, e à Lusa que "se e quando Pedro Passos Coelho decidir voltar, tenho a certeza de que o partido estará unido".

Isto apesar de considerar Montenegro a melhor opção, sem hesitações, para ser líder do PSD. Mas ficou claro que estes apoios a Montenegro, transferidos de Pinto Luz, não são os maiores entusiastas do antigo líder parlamentar. Por outro lado, o nome de Passos Coelho continua a ser o mais consensual em algumas sensibilidades do PSD. Isto apesar de já ter dito que estava fora de jogo.

Na semana antes da segunda volta, Montenegro percebeu as dificuldades, mostrou-se crente numa vitória, mas procurou insistir mais em palavras-chave como "mudança" e na ideia de que o seu adversário é António Costa e o PS. Chegará? Os seus apoiantes esperam que sim, apostando em aumentar a diferença de votos onde a disputa foi renhida e convencer quem se absteve. Mais, Pedro Alves, diretor de campanha de Montenegro, mobilizou 100 pessoas em Coimbra, no passado domingo, entre apoiantes do candidato e elementos de estruturas afetas a Pinto Luz. A ordem foi a de articulação para tentar garantir a vitória a Montenegro.

Do lado de Rui Rio, o registo é o de que não vitórias antecipadas, apesar da estrutura de candidatura ter arrancado a semana com uma dinâmica de vitória. Afinal, a equipa do também presidente do PSD chegou a sonhar com a vitória resolvida à primeira volta. Que não se verificou.

Depois do balde de água fria, a análise dos números da candidatura de Montenegro é simples: o antigo líder parlamentar e o vice-presidente da Câmara de Cascais, Pinto Luz somam mais 621 votos do que Rui Rio. Por isso, o PSD quer uma mudança.

 

Cartas de Montenegro

Os últimos dias de campanha foram dedicados a chamadas das duas candidaturas para apelar ao voto e Luís Montenegro chegou a enviar cartas personalizadas em alguns concelhos, como o de Vila Verde, no distrito de Braga.

Na missiva, Montenegro assume-se como o candidato do inconformismo e da unidade, prometendo contar com todos os militantes e o eurodeputado José Manuel Fernandes, presidente da distrital de Braga e apoiante de Rui Rio. "Contaremos muito com o José Manuel Fernandes, nosso eurodeputado que tem feito um trabalho notável no Parlamento Europeu.", escreveu Luís Montenegro. Na resposta, José Manuel Fernandes decidiu enviar ontem um SMS aos militantes de Vila Verde para clarificar quem apoia e evitar qualquer equívoco: "Apoio Rui Rio a presidente do PSD. É o melhor. Para Vila Verde e Portugal. Sábado (), vota Rui Rio. Portugal precisa do PSD forte".

O PSD está há meses em campanha interna. Que acabará este sábado.