Entrevista a Felícia Cabrita: “Chegaram a acusar-me de tentativa de homicídio”

É jornalista há mais de 30 anos e não foge de uma polémica. Denunciou casos mediáticos como Casa Pia, Face Oculta, Monte Branco ou Operação Marquês. Diz estar convicta que o ‘estripador’ é mesmo o que denunciou e sobre o ‘Capitão Roby’ fala numa fraca figura que foi desmascarada. E irrita-se quando lhe dizem que…

Não é fácil entrevistar um amigo de longa data, mas na série que estamos a fazer sobre jornalismo de investigação seria bizarro não entrevistarmos Felícia Cabrita. Jornalista que andou pela Grande Reportagem, pelo Expresso, pela SIC – e que hoje trabalha no SOL e no i.

Felícia tem o coração ao pé da boca e emociona-se a contar as histórias que a marcaram, nomeadamente quando foi a Angola reconstituir o massacre da UPA, no início da guerra colonial, em 1961, ao serviço da SIC. Ao levar ao local do ‘crime’ alguns sobreviventes da tragédia, que viram familiares ser mortos à sua frente, Felícia observou a certa altura o medo que se apoderou de uma das mulheres presentes – e sentiu-se na obrigação de a proteger. Mas, à noite, ao ligar para Portugal, Felícia soube que a sua filha bebé estava a morrer – e, aí, foi a outra mulher que a embrulhou nos braços e a adormeceu.

Vamos então falar de jornalismo de investigação…

Primeiro quero fazer uma declaração de interesses: considero que ser entrevistada pelo meu próprio jornal é uma coisa bastante incestuosa. Depois, tenho uma vida muito desinteressante: nunca me cortaram um programa de televisão, nunca um primeiro-ministro me ligou. Era só o que faltava, não lhes dou confiança para isso. Eles falam muito de mim nas escutas telefónicas, que não são nada abonatórias, mas há uma coisa que eu quero muito ser: o ‘programa’ que não vão conseguir cortar da vida deles.

Tens-te em grande conta…

Em Portugal, as pessoas conhecem-me o suficiente para nunca me terem ameaçado diretamente. Com isto não estou a relativizar o caso da Sandra Felgueiras, que foi o que acompanhei melhor ultimamente. A situação é muito grave, mas eu gosto de brincar. Se me perguntarem como gostaria de acabar, respondo que seria com uma gargalhada. A vida para mim, mesmo como jornalista, é para ser levada assim. E quero dizer que o jornalismo de investigação não é diferente do jornalismo noticioso. Todo o jornalismo, por definição, é de investigação. Mal seria se assim não fosse. Existem, depois, três áreas: a noticiosa, a reportagem e a investigação. A investigação é diferente das outras porque tem obrigação de trazer ao de cima o lado mais obscuro da sociedade, que é aquilo que o poder não quer que se saiba. No fundo, é o escrutínio aos vários poderes: o económico, o financeiro, o judicial e o político. É a única coisa que distingue o jornalismo de investigação dos outros.

Leia a entrevista na íntegra na edição impressa do SOL, já nas bancas