Golpe na dona da TVI

Um dos novos administradores da Media Capital foi conselheiro de Manuel Vicente e faz parte de órgãos de gestão de negócios de Mário Ferreira, que está interessado na compra da TVI.

Mário Ferreira, dono da Douro Azul, não escondeu o seu desagrado com a decisão da Cofina desistir da compra da TVI e mantém o interesse no controlo da Media Capital, continuando a tentar reunir investidores e financiamento necessários, nomeadamente no estrangeiro, apurou o SOL. Contactada ontem ao início da tarde, fonte oficial da empresa liderada por Mário Ferreira diz apenas que, «de momento, não há comentários a fazer».

Nem sobre o negócio nem sobre o facto de esta semana, na sequência da renúncia de duas administradoras aos respetivos cargos de gestão na Media Capital – uma das quais a viúva de José Saramago, Pilar del Rio –, o administrador de uma das empresas de Mário Ferreira, Manuel Alves Monteiro, ter sido cooptado para a administração da dona da estação de Queluz.

Ou seja, Mário Ferreira passa a ter um homem da sua confiança na administração da Media Capital, proprietária da TVI, em cuja compra o empresário está assumidamente interessado, tendo sido parte ativa no consórcio liderado pela Cofina para a compra da estação, fechada com a Prisa e aprovada por todos os reguladores e que, já na reta final, acabou por borregar por perda de interesse do grupo de Paulo Fernandes.

Aliás, Mário Ferreira mostrou-se desde o início surpreendido com o desfecho do negócio. «Fui convidado para entrar no aumento de capital e agora fui informado de que a operação não se realizaria», disse o empresário, estranhando com o final da operação, indicando que, na altura, as informações que tinha disponíveis no mercado apontavam para o sucesso do aumento de capital da Cofina – uma das exigências para a conclusão do negócio.

 Em março, a empresa liderada por Paulo Fernandes justificou o fracasso com a operação por não ter conseguido completar o aumento de capital destinado a financiar a operação e devido à «deterioração das condições de mercado» provocada pelo coronavírus, não sendo possível o «lançamento de uma oferta particular para colocação das ações sobrantes».

Mas, nessa altura, o empresário chegou a admitir que estava disponível para comprar as ações que «facultaram para subscrever», dando a entender que estaria disposto a investir um montante superior. «Da minha parte cumpri com aquilo a que me comprometi, subscrevi todo o montante do capital que me pediram e me facultaram para subscrever» afirmou ao Jornal Económico.

 

Colega de Lacerda Machado e conselheiro de Manuel Vicente

Uma desistência que levou a Prisa, dona da Media Capital, a levar o caso a Tribunal Arbitral. A proposta foi apresentada pela empresa espanhola junto da Câmara do Comércio e Indústria Portuguesa e neste requerimento de arbitragem, a empresa espanhola reclama ficar com o pagamento inicial de dez milhões de euros depositado pela Cofina junto do BPI. E em caso de condenação, exige o «pagamento dos danos que vier a conseguir demonstrar» (ver caixa).

Mas apesar deste impasse, a Media Capital continua a ser alvo de mexidas. Uma delas diz respeito à nomeação de novos administradores. Com a saída de Agnès Borel e Pilar del Rio foram nomeados Martinez-Estéllez e Manuel Alves Monteiro.

Este último, além de colega de Diogo Lacerda Machado – amigo  do primeiro-ministro, António Costa, que está hoje na administração da TAP em representação do Estado – numa das empresas de Mário Ferreira, foi um dos principais conselheiros do ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente no Dubai.

Ora, se esta ligação pode não ser estranha à procura de parceiros investidores para a compra da TVI, a verdade é que as fontes próximas de Mário Ferreira contactadas pelo SOL garantem que a crise profunda em que mergulhou o turismo por causa da pandemia da covid-19 afastam qualquer cenário de investimento do dono da Douro Azul no setor da comunicação social – e em particular na TVI.

Mas, por outro lado, não falta quem lembre que, tal como se diz na cultura tradicional chinesa, é nas crises que estão as grandes oportunidades.

E, por isso, também não falta quem já avance que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deve ter uma palavra a dizer sobre a nomeação de Manuel Alves Monteiro para a administração da Media Capital, uma vez que vai contra todas as regras do mercado a entrada de um gestor da confiança do comprador para a administração de uma empresa que pretende comprar mas ainda não comprou.

 

Pedido de desculpa ao norte

Curiosamente, a nomeação de Manuel Alves Monteiro para a administração da Media Capital ocorre na mesma semana em que Sérgio Figueiredo, diretor da estação de Queluz, se viu forçado a pedir desculpa às gentes do norte do país, depois de uma infeliz reportagem da TVI em que, a propósito da maior propagação do vírus da covid-19 acima do Douro, aquelas foram apresentadas como sendo ‘menos educadas’ que as do sul do país.