A solidão do ministro das Finanças

Depois de a ministra ter tido coragem para tomar medidas difíceis, e resistência psicológica para as manter, vir o Presidente da República tirar-lhe o tapete era lamentável.

O recente episódio envolvendo Mário Centeno, António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa trouxe mais uma vez à tona de água uma verdade: em todos os Governos, o ministro das Finanças é um homem muito só.

Porquê?

Porque é quem tem de dizer ‘não’ aos colegas.

Estes assumem compromissos, fazem promessas – e depois tem de ser o ministro das Finanças a estragar a festa.

Um ministro das Finanças que não seja capaz de manter esta postura acaba por comprometer as contas públicas e prejudicar o país.

Assim, depois do 25 de Abril, Ernâni Lopes, Manuela Ferreira Leite, Vítor Gaspar, Maria Luís Albuquerque e, agora, Mário Centeno, têm sofrido o estigma da solidão.

Quando alguém pedia dinheiro a Vítor Gaspar, este dizia na sua voz pausada: «Não… há… dinheiro; qual destas três palavras não percebeu?».

Dado ter de ser ‘antipático’ por via da função, o ministro das Finanças precisa do apoio firme do primeiro-ministro e mesmo do Presidente da República.

E em caso nenhum deve ser desautorizado por eles.

Por isso me indignei quando Jorge Sampaio disse alto e bom som a Manuela Ferreira Leite que havia «mais vida para lá do Orçamento».

Depois de a ministra ter tido coragem para tomar medidas difíceis, e resistência psicológica para as manter, vir o Presidente da República tirar-lhe o tapete era lamentável.

Na altura escrevi um texto sobre o assunto criticando Sampaio – e na semana seguinte recebi um cartão da ministra das Finanças dizendo: «Não imagina como me soube bem o seu artigo de sábado passado no Expresso».

Era a prova da solidão em que a ministra se sentira mergulhada.

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