Pandemia pode fazer imobiliário oscilar

Os preços das casas subiram nos primeiros três meses do ano. Mas em maio, as vendas desceram. Responsáveis do setor falam em estabilização e alertam que as tendências de compra podem mudar.

Pandemia pode fazer imobiliário oscilar

Os efeitos da pandemia de covid-19 já se começam a sentir – ainda que a conta gotas – no setor imobiliário. A mais recente prova é o inquérito levado a cabo pela Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) ao revelar que 80% das imobiliárias sofreram uma quebra nas vendas de imóveis em maio. Ainda assim, os preços mantiveram-se.

Luís Lima, presidente da APEMIP garante não haver nenhum motivo para a descida de preços: «Podemos afirmar que estará a haver uma correção dos preços praticados, em particular nas principais cidades, onde os valores de comercialização já estavam, de certo modo, acima do real valor de mercado», tinha dito ao SOL antes de os resultados do inquérito serem públicos. E acrescentou: «Desta vez, não temos os níveis de endividamento que existiam à data, existe este regime de moratórias dos bancos, que são um fôlego para quem possa estar, neste período, numa situação financeira mais apertada, e, além disso, não há excesso de stock» E acrescenta: «Pelo contrário, no segmento médio e médio baixo continua a existir falta de habitação adequada às necessidades e possibilidades dos jovens e famílias portugueses».
 
Preços sobem antes da pandemia
Mas se por agora os preços das casas poderão estar a estabilizar, nos primeiros três meses do ano foi registada uma subida de 10,3% face ao período homólogo, revelou o Instituto Nacional de Estatística. Nos primeiros três meses deste ano foram transacionados 43.532 alojamentos, no valor de 6,8 mil milhões de euros, o que corresponde a taxas de variação homóloga de -0,7% e +10,4%, respetivamente.

Nos primeiros dois meses, antes de a pandemia chegar a Portugal, foram observados aumentos homólogos do número de transações (9,4% e 3,5%, respetivamente) e do correspondente valor (21,5% e 13,5%, pela mesma ordem). Já em março, o número de transações e o respetivo valor registaram uma quebra – menos 14,1% e menos 3,3% face ao mesmo mês do ano passado.

«O comportamento das vendas de habitações neste trimestre poderá ter sido condicionado pelas restrições impostas pelo estado de emergência, decretado a 19 de março, no contexto da pandemia de covid-19», justifica o INE. 

Questionado pelo SOL sobre a possível baixa de preços das casas, o presidente da APEMIP prefere falar numa estabilização. «Os preços do imobiliário mantêm-se equilibrados relativamente ao período pré-pandemia. Se, em alguns casos, os imóveis estavam no mercado a preços especulados, a situação que vivemos é um empurrão para os rever e corrigir para os reais valores de mercado. Quanto aos demais imóveis, estarão valorizados de acordo com aquela que é a oferta existente».

Novas realidades?
Os responsáveis do setor divergem na opinião sobre a possibilidade de os portugueses mudarem as suas tendências de compra face à pandemia. «Não creio que esta pandemia vá alterar as tendências de procura efetivas. Claro que, idealmente, a maior parte das pessoas preferia viver numa vivenda, com espaço exterior, mas regra geral os imóveis com estas características têm também preços mais elevados. Poderemos assistir um aumento da procura destes segmentos sim, mas a concretização não terá uma expressão considerável no panorama do mercado», defende Luís Lima.

Já Ricardo Sousa, CEO da Century21, defende que a imobiliária já identificou essa tendência, mas deixa um alerta. «Para poder ser considerada uma tendência de futuro na concretização de operações é necessário ter em consideração a real capacidade financeira das famílias portuguesas para aquisição ou arrendamento, bem como as suas necessidades reais de habitação. O tipo de habitação que as pessoas procuram nem sempre é a que, de facto, têm a possibilidade de aceder».

Uma opinião partilhada pela ERA, com Rui Torgal a admitir que existe um aumento de procura por moradias em detrimento de apartamentos. «A situação de confinamento social que se experienciou nos últimos meses pode ser uma das explicações para o aumento da opção por espaços maiores e com uma maior liberdade de movimentação, como é o caso das moradias», defende. «Comprar casa é um dos maiores investimentos para muitas famílias portuguesas e, com o tempo que as pessoas foram obrigadas a passar em casa, notámos que existem clientes que se apercebem da grande importância que o espaço onde vivem assume na vida quotidiana e, por isso, decidem agora investir numa habitação e aumentar, a longo-prazo, o seu património, ao mesmo tempo que se tornam proprietários», acrescenta o responsável. 

Também a Remax considera que estas mudanças poderão acontecer, mas entende que serão «sempre situações pontuais».