Incêndios: Semana de alto risco

Onde de calor do norte de África faz subir temperaturas acima dos 40ºC já a partir de hoje. Há várias regiões do continente em alerta máximo e o risco de incêndios estende-se de norte a sul do país. Meios estão todos mobilizados e o vento forte constitui a maior preocupação.

Incêndios: Semana de alto risco

por Carlos Diogo Santos e Rita Pereira Carvalho

Os próximos dias são de muito calor em Portugal aumentando o risco de incêndio, numa altura em que a capacidade de resposta dos meios de combate acabou de entrar na sua força máxima – o nível IV do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR).

Os termómetros podem atingir já este domingo e segunda-feira, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), temperaturas máximas de 42ºC em algumas regiões do Vale do Douro, Vale do Tejo e no interior do Alentejo. Na generalidade do território, as temperaturas vão estar entre os 30ºC e os 34ºC. A subida das temperaturas deve-se, segundo o IPMA, à chegada de uma "massa de ar quente e seco proveniente do norte de África", como, aliás, tem sido frequente. 

À subida das temperaturas, associa-se de imediato o mapa de risco de incêndio. Neste mapa prevalece o vermelho escuro, já que para muitas regiões está previsto risco máximo de incêndio já a partir deste sábado – Castro Marim, Tavira e Alcoutim, em Faro, Penamacor, em Castelo Branco, ou Figueira de Castelo Rodrigo, na Guarda, são algumas delas. 

Emanuel Oliveira, técnico especializado nas áreas da defesa da floresta contra incêndios, aponta isso mesmo: o perigo de incêndio previsto para os próximos dias, "que pode ser preocupante, especialmente se houver vento forte" – durante os próximos dias, o vento será um fator decisivo na propagação e no combate às chamas. Nos grandes incêndios de 2017, a velocidade do vento teve um grande impacto na propagação do fogo. 

Além do vento e das altas temperaturas, Emanuel Oliveira aponta ainda um aspeto técnico, que são os recursos disponíveis – bombeiros, veículos e meios aéreos. Até agora, todos os incêndios registados foram combatidos por um número considerável de meios, "superior até ao que estávamos habituados antes de 2017". Esta quinta-feira, por exemplo, foram mobilizados para um incêndio florestal em Moita das Pataratas, no concelho da Nazaré, três meios aéreos e mais de uma centena de bombeiros. "Um dos problemas poderá ser a simultaneidade. Nos últimos incêndios, não havia outros a acontecer ao mesmo tempo e, portanto, os meios estavam concentrados. Agora, se houver mais do que um incêndio, os meios têm de ser geridos e aí pode ser mais complicado. É também um desafio", explicou Emanuel Oliveira. 

Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, tem falado publicamente sobre o assunto, garantindo que o país está agora mais bem preparado para os incêndios de grandes dimensões. "No futuro haverá incêndios certamente, mas todos juntos, sem demagogia, faremos tudo para que isso não aconteça", avançou o ministro no dia 18 de junho. "Tudo mudou na vigilância. Nunca se falou tanto na limpeza [da floresta] e não foi a lei que mudou, mas sim a consciência dos cidadãos", acrescentou.

 

Meios de combate a incêndios reforçados na quarta-feira 

Os meios do DECIRforam reforçados na última quarta-feira, de acordo com o calendário da Diretiva Operacional Nacional (DON), passando agora a estar no nível IV, o mais elevado, até 30 de setembro.

Neste período estão operacionais 11.825 homens, 2.654 veículos das várias autoridades presentes no terreno e 60 meios aéreos – estes números apontam para uma ligeira subida em relação ao mesmo período do ano passado. Mas e qual era a situação até à última quarta-feira? No nível III do DECIR estavam apenas operacionais 9.512 elementos, e 2.236 veículos e os mesmos 60 meios aéreos.

Questionado na quinta-feira pelo SOL sobre os números de meios operacionais, fonte do Ministério da Administração Interna remeteu para a Diretiva Operacional Nacional, homologada a 30 de abril pela secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, todos os dados.

Segundo os dados que constam da diretiva, esta capacidade máxima compreende 5.660 elementos dos Bombeiros – entre equipas de intervenção, apoio logístico e comandantes –, apoiados por 1306 veículos, mais de 240 operacionais da Força Especial de Proteção Civil (FEPC), 2.200 militares da GNR (apoiados por mais de 720 veículos) e 338 homens da PSP. Do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) estão operacionais mais de dois mil elementos (com mais de 440 veículos) e do agrupamento complementar de empresas AFOCELCA 920 homens, apoiados por 55 viaturas (ver tabela).
Está também em funcionamento a Rede Nacional de Postos de Vigia. No total, são 230 postos que têm como objetivo a prevenção e a deteção de fogos florestais em momento inicial.
Nesta diretiva define-se que durante o nível IV além das comunicações e avisos à população sempre que se justificar, se realizará uma conferência de imprensa na primeira terça-feira a seguir ao final de cada mês para realização do balanço do mês anterior.