Rui Rio pressionado a definir política de alianças

Direção do PSD desvaloriza proposta para congresso extraordinário. Guilherme Silva admite que “muito dificilmente haverá uma geringonça de direita sem envolver o Chega”.

O ex-ministro Jorge Moreira da Silva juntou-se aos críticos do acordo com o Chega e pede um congresso extraordinário para clarificar a política de alianças. Uma proposta que a direção do PSD desvaloriza.

“Não se fazem acordos com partidos xenófobos, racistas, extremistas e populistas. Com partidos que, por ignorância ou perversidade moral, propalam propostas incompatíveis com a dignidade humana. Ponto!”, escreveu, num artigo no diário Público, o ex-vice-presidente do PSD.

O acordo com o partido de André Ventura já tinha sido duramente criticado por destacados militantes como Pacheco Pereira, José Eduardo Martins ou Paula Teixeira da Cruz.

O ex-ministro do Ambiente Moreira da Silva considera que é “imprescindível clarificar esta questão identitária”, porque a aproximação ao partido liderado por André Ventura “viola o património histórico do PSD”.

A direção liderada por Rui Rio desvaloriza o desafio lançado pelo ex-ministro de Passos Coelho e as críticas ao acordo.

A vice-presidente do partido, Isabel Meirelles, considera que Jorge Moreira da Silva “está apenas a tentar dar uma prova de vida”. A dirigente social-democrata disse na Antena 1, que aqueles que estão a criticar o acordo feito nos Açores “são os mesmos que diziam nas eleições internas que o PSD devia ser um federador das direitas”.

Rui Rio já garantiu várias vezes que não existe nenhum compromisso a nível nacional, mas não fechou a porta ao Chega se o partido se moderar.

A perceção de que o PSD pode estar disponível para dialogar com André Ventura está a dividir os sociais-democratas. Guilherme Silva, ex-líder parlamentar do PSD, defende que ainda é cedo para definir a política de alianças, porque os próximos tempos vão dar “indicações sobre a evolução do Chega”.

O ex-dirigente social-democrata alerta, porém, em declarações ao i, que “muito dificilmente haverá uma geringonça de direita sem envolver o Chega”. Guilherme Silva não fecha, por isso, a porta ao diálogo, mas considera que se o PSD der esse passo deve ter “muito cuidado e deixar claro que não abdica de determinados princípios”.

O ex-líder do PSD, Luís Marques Mendes, voltou a criticar Rui Rio por deixar instalar a perceção de que o PSD pode estar disponível para um acordo com André Ventura. “Isto é uma avenida para o crescimento do Chega”, alertou, no habitual comentário, na SIC.

Marques Mendes considera que os sinais dados pela direção do partido são “um passaporte para perder os eleitores do centro” e “um empurrão para a descida do CDS. É ajudar a matar o CDS”. Ou seja,”saiu o euromilhões ao Chega”, concluiu o ex-presidente do PSD.

“O Chega não vai mudar” A ex-ministra Paula Teixeira da Cruz também já tinha criticado uma aproximação ao Chega. “Os princípios não se sacrificam e é isso que acontece neste momento. Não vale a pena a conversa de que o Chega vai mudar. O Chega não vai mudar nada porque, se mudar, desaparece. Não posso aceitar ver o meu partido juntar-se a um partido que nada tem ideologicamente a ver com o PSD. Por alguma razão André Ventura saiu do partido”, disse ao semanário SOL.

Para a antiga ministra da Justiça e ex-vice-presidente do PSD, não faz sentido “uma aproximação a um partido que já teve a pena de morte no programa e que tem, neste momento, a prisão perpétua no programa”.