Marcelo cria mais um embaraço a Eduardo Cabrita

Ministro da Administração Interna vai ser ouvido hoje no Parlamento. Declarações do diretor nacional da PSP à saída de Belém criam mais um embaraço a Eduardo Cabrita. PSD diz que o ministro “já não conta”. CDS afirma que “perdeu o respeito de quem devia tutelar”.

O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, vai ser ouvido, esta tarde, no Parlamento, sobre a morte de um cidadão ucraniano nas instalações do SEF. Cabrita foi chamado para dar explicações sobre a atuação do Governo durante estes nove meses, mas pelo caminho surgiu mais uma polémica após o encontro entre o Presidente da República e o diretor nacional da PSP.

O encontro foi pedido por Magina da Silva com o objetivo de oferecer um livro ao Presidente sobre a história da PSP. O dia foi definido por Marcelo Rebelo de Sousa e coincidiu com o momento em que o ministro está sob pressão com vários partidos a pedirem a sua substituição. A audiência, marcada para um domingo à tarde, foi divulgada no site da presidência da República. O Governo foi informado da reunião.

A conversa não se resumiu ao livro sobre a PSP e o Presidente das República abordou o tema quente do momento. À saída de Belém, Magina da Silva revelou que propôs ao Presidente da República a “fusão entre a PSP e o SEF. A PSP é extinta, o SEF é extinto e surge uma polícia nacional”.

Eduardo Cabrita demonstrou de imediato o seu desagrado com o diretor nacional da PSP por ter falado sobre “uma matéria que o Governo está a trabalhar, envolvendo diretamente o primeiro-ministro”. Estas matérias, “com todo o respeito, não são anunciadas por diretores de Polícia”, disse o ministro, em declarações à Lusa, umas horas depois do encontro entre o chefe de Estado e o diretor nacional da PSD.

Já a direção nacional da PSP esclareceu, em comunicado, que Magina da Silva “não pretendeu, obviamente, condicionar qualquer reestruturação em curso do sistema de segurança interna, lamentando que as suas declarações tenham sido interpretadas dessa forma”.

Marcelo Rebelo de Sousa voltou a ser questionado sobre se Eduardo Cabrita tem condições para continuar a exercer o cargo, mas limitou-se a constatar que o ministro “está em funções, quer manter-se em funções” e que essa é uma decisão do primeiro-ministro que lhe manifestou “a sua confiança total”.

 

“Isto está à deriva”

As declarações do responsável da PSP intensificaram a polémica à volta do ministro Eduardo Cabrita. “Isto está à deriva. O Presidente discute problemas do SEF com o diretor da PSP. O ministro da Administração Interna de facto já não conta para o totobola”, escreveu, nas redes sociais, Duarte Marques.

O deputado social-democrata considera que “a forma como o Governo quer fazer a reforma das forças e serviços de segurança é precisamente o contrário do que o bom senso recomendaria: à pressa, com um ministro desacreditado, sem reflexão, sem discussão, sem tempo e sob pressão mediática. Ou seja, tudo ao contrário”.

 

Um embaraço nacional

O presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, considera que o ministro da Administração Interna “tornou-se um embaraço nacional”. Para o líder dos centristas, o ministro “acabou por ser ultrapassado por um dos seus subalternos, o diretor nacional da PSP, que veio sentenciar a fusão do SEF com a PSP. Eduardo Cabrita não se deu ao respeito e acabou por perder o respeito de quem devia tutelar”.

O CDS manifestou-se contra a extinção do SEF que só está a ser equacionada para “tentar salvar a pele de um ministro que na realidade já não o é”.

Catarina Martins já tinha reafirmado, no domingo, que Eduardo Cabrita “perdeu as condições para o lugar que ocupa”.

Todos os partidos, com exceção do PS, defenderam que Eduardo Cabrita não tem condições para se manter no cargo. Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que “temos de avaliar se os protagonistas que deram corpo ao sistema que falhou podem ser os mesmo no período seguinte”.

A pressão não podia ser maior, mas o entendimento no Governo e no PS é que o ministro tem condições para continuar. A vontade de Eduardo Cabrita é manter-se no cargo e conta com o apoio do primeiro-ministro. António Costa já garantiu que mantém ”total confiança” no ministro da Administração Interna, porque “fez o que lhe competia fazer”.