Marcelo infetado? O mais provável. “Num PCR, um falso positivo ou é uma contaminação ou um erro”

Germano de Sousa, médico patologista e antigo bastonário da Ordem dos Médicos, ajuda a perceber o caso do Presidente. O mais provável: estar infetado. Mas há outras hipóteses e um alerta: “Os testes de antigénio (chamados testes rápidos) não são indicados a quem está assintomático, há uma grande percentagem de falsos negativos.”

Dois testes rápidos negativos. Um teste PCR positivo e um segundo no espaço de horas negativo. A confirmação de que o Presidente da República estava infetado com SARS-CoV-2 e o anúncio de um teste negativo já esta manhã, feito pela Presidência da República, deixaram a campanha presidencial e os candidatos de novo em suspenso. E o país a questionar-se sobre como funcionam afinal os testes. Marcelo Rebelo de Sousa, que já por várias vezes disse que é testado regularmente (à margem das orientações da DGS), já fez saber estar a aguardar o resultado de um quinto teste. O cenário mais provável é confirmar que está positivo, mas para já a única certeza é que só o terceiro teste pode desfazer a dúvida.

Germano de Sousa, médico patologista e antigo bastonário da Ordem dos Médicos, é perentório: “Há um erro em qualquer lado. Só um terceiro teste PCR é que nos vai dar a realidade”, diz ao i. Com base nos elementos conhecidos nas últimas horas, explica que podem imaginar-se diferentes cenários: pode ter havido um erro na execução do primeiro teste PCR ou no segundo, nomeadamente na colheita da amostra. Já aos testes rápidos que deram resultado negativo não atribui qualquer fiabilidade, dado que o Presidente indicou estar assintomático e o número de falsos negativos é maior nesses casos. Germano de Sousa sublinha que os laboratórios que fazem testes são certificados e, não se sabendo onde foi feito o primeiro, o segundo que dá negativo foi feito pelo Instituto Ricardo Jorge, laboratório de referência nacional, de onde se espera agora a segunda análise. Em qualquer parte, erros podem sempre acontecer, ressalva. “Nem o laboratório mais perfeito do mundo está isento de erros, nem a medir uma glicemia.”

Posto isto, se o primeiro teste PCR foi efetivamente positivo e não houve contaminação ou erro de execução, o mais certo é Marcelo estar mesmo infetado. “Num PCR, um falso positivo ou é uma contaminação ou um erro”, diz o médico. Germano de Sousa explica no entanto que se poderiam admitir mais cenários: num mais remoto, Marcelo Rebelo de Sousa poderia estar infetado há mais tempo, o teste de ontem ainda detectar o vírus mas hoje o vírus já ter sido eliminado. “Seria necessário analisar os valores. Como faz testes regularmente, à partida essa hipótese fica afastada”, explica. Mas aí será necessário perceber há quanto tempo não fazia um teste PCR já que, como não tem sintomas, a carga viral seria menor. Por outro lado, o médico assinala que existem valores definidos para a realização de ciclos de amplificação da amostra nos teste PCR e que hoje, acima de determinado patamar, já não se considera positivo ou uma infeção ativa. “Atualmente todos consideramos que a partir de 35 ciclos é negativo, mas pode haver quem considere ainda que só acima dos 40 é negativo”, exemplifica. Aí, o segundo teste feito pelo INSA, laboratório de referência, seguindo o mesmo critério do anterior, permitirá clarificar a situação. Confirmando-se o positivo, possivelmente terá havido um problema na colheita do segundo teste, ou seja, na parte da zaragatoa.

“Testes de antigénio não são indicados a quem está assintomático”
Germano de Sousa explica que, numa suspeita de infeção, os testes rápidos negativos não dão garantias. E têm menor sensibilidade ainda em quem está assintomático, dado que ao contrário do PCR que amplifica as moléculas do vírus, estes precisam de cargas virais maiores para acusar positivo. “Os testes de antigénio só devem ser utilizados quando as pessoas têm sintomas e nos primeiros cinco dias de sintomas. Em pessoas assintomáticas, há uma grande percentagem de falsos negativos. Precisamos de um nímero elevado de vírus. Se a pessoa esta assintomática, a concentração de vírus nas secreções é menor do que nos sintomáticos e muitas vezes não tem a quantidade suficiente para o vírus ser detetável nos testes. No PCR há resultados a partir de cinco cópias do vírus por micro-litro. E mesmo assim se a pessoa se contaminar hoje nao ha resultado positivo, por isso é que se faz sempre dois ou tres dias depois após a exposição.” O médico reforça assim o alerta de que os testes rápidos podem induzir uma sensação de falsa segurança.

O que dizem as normas? Testes rápidos sem sintomas só quando faltam dos outros
Recorde-se que o Presidente da República teve contacto com um elemento da casa civil que testou positivo para o vírus na semana passada, mas não foi considerado contacto de alto risco – e por isso não teve de fazer o isolamento profilático de 14 dias previstos nestes casos. As atuais normas da DGS indicam que, nos contactos de alto risco, pode ser indicado um teste PCR quando a situação é identificada, se for uma exposição continuada (diária) ou sete a oito dias após o contacto com essa pessoa. Nos restantes, apenas caso surjam sintomas, quando passam a ser casos suspeitos. Marcelo foi no entanto testado na semana passada mal foi conhecido o caso, dando nota disso mesmo no site da Presidência, a mesma em que referiu não ter sido considerado contacto de alto risco. Não foi revelado se fez teste rápido ou de antigénio. "A Direção do Departamento de Saúde Pública da ARS de Lisboa e Vale do Tejo acaba de comunicar à Presidência da República, que foi considerado de baixo risco o contacto que o Presidente da Republica teve, na segunda-feira passada, com um elemento da Casa Civil (que veio a testar positivo ao SARS-CoV-2), pelo que não é necessário isolamento profilático. Na sequência desta decisão da Autoridade de Saúde, o Presidente da República, que já hoje testou negativo, retomou o seu programa de trabalho", informou.

Atualmente pessoas com sintomas suspeitos têm indicação para fazer o teste, independentemente de terem estado ou não com alguém que se soubesse estar infetado. Aqui podem usar-se testes rápidos, mas preferencialmente PCR, até porque se derem negativo tem de fazer-se o teste convencional. 

Segundo as normas da DGS, os testes rápidos devem ser utilizados nos primeiros 5 dias (inclusive) de doença de modo a diminuir a probabilidade de obtenção de resultados falso negativos ou quando os testes PCR não estão disponíveis para o diagnóstico ou rastreio em tempo útil, nomeadamente em situações de surtos.