Avante!. Jerónimo ataca direita e critica “anúncios repetidos” do Governo

Secretário-geral do PCP reafirmou a necessidade de aumentar o Salário Mínimo Nacional para os 850 euros e de colocar a GALP, a REN e a EDP nas mãos do Estado.

Passavam três minutos das 18h00 quando se declarou aberto o comício da 45ª edição da Festa do Avante!. Ao palco subiu não só o secretário-geral do PCP, como também os representantes da Juventude Comunista Portuguesa (JCP), a coordenação da CDU e a comissão política do PCP.

A primeira a ter a palavra foi Mónica Mendonça, membro da direção da JCP, que apelou à mobilização ao voto no próximo dia 26. Manuel Rodrigues, diretor do Jornal Avante, discursou de seguida, realçando que a festa, mesmo em tempos de pandemia, “continua a ser um espaço livre e seguro”. O mesmo usou uma das frases que se via escrita em alguns locais da festa – que considera a “maior iniciativa político-cultural realizada no país” – e que refere que “o futuro tem partido”.

Eram 19h20 quando se ouviram as primeiras palavras de Jerónimo de Sousa, dando início a um discurso que durou aproximadamente 50 minutos. Com alvos e propósitos claros: a política “falhada” da direita por um lado e a apresentação do carderno de encargos do PCP para a negociação do orçamento, contra “anúncios repetidos” que não dão resposta aos problemas dos jovens ou do interior e críticas a um PRR que não é “o instrumento capaz de imprimir as alterações estruturais de que o país precisa (…) sem uma profunda alteração das políticas o país não sairá da cepa torta”.

O líder comunista começou por fazer referência aos 100 anos do partido, que são comemorados na “luta que hoje continua, tomando a dianteira em defesa dos vitais interesses do nosso povo e da democracia, nestes tempos conturbados e difíceis de epidemia, enfrentando as mais insidiosas e torpes campanhas”.

Relativamente à pandemia, que Jerónimo de Sousa sempre referiu como epidemia, lembrou a frase que muitas vezes tem dito: “O vírus tem as costas largas, os trabalhadores e o povo é que já não aguentam tanta carga às costas”.

O líder comunista referiu ainda que “os mesmos que nunca perdem e continuam a ganhar milhões, mesmo em tempo de epidemia”, fazem parte de uma “ofensiva mistificadora” contra o partido. Desta ofensiva mistificadora fazem parte “as forças políticas mais retrógradas e reacionárias, como o PSD e o CDS e seus sucedâneos da Iniciativa liberal e do Chega, que fazem-no papel de lebre de corrida com as suas propostas de ditas de reformas estruturais e de revisão constitucional e das leis eleitorais para garantir maiorias artificiais”. Jerónimo de Sousa acrescentou que “o que esta operação concertada entre as forças do grande capital e as forças políticas que o apoiam confirma e se acaba por reconhecer, é o que o PCP há muito afirma: a política de direita, no que respeita aos interesses do país, falhou”.

O secretário-geral comunista considera que “é necessário diversificar as relações comerciais com outros países” e “promover de facto a reindustrialização do país em vez de desindustrialização a que se continua a assistir, dando como exemplo a refinaria de Matosinhos. “Precisamos de produzir medicamentos, alimentos, componentes e produtos intermédios, meios e equipamentos de transporte em vez de os ir comprar ao estrangeiro”, declarou.Jerónimo realçou a necessidade de superar o défice energético, sendo que isso “não será alcançado enquanto a GALP, a EDP ou REN não estiverem nas mãos do Estado Português”.

Para acabar com a “dimensão dos problemas em presença”, o comunista acredita que são necessárias respostas emergentes como “o aumento geral dos salários para todos os trabalhadores”, o salário médio a valorização das carreiras e “o aumento do Salário Mínimo Nacional para 850 euros”.

Tocando ainda num ponto que também Fernando Medina e Paulo Carmona têm referido nas suas campanhas, Jerónimo afirma que a garantia de creches gratuitas para todas as crianças reclama uma opção de financiamento que dê prioridade ao apoio às crianças e às famílias em vez de fazer figura de bom aluno em Bruxelas”.

A ocupação de Cabul pelos talibãs não ficou esquecida. O PCP acredita que, “por maiores que sejam os cálculos geopolíticos dos Estados Unidos da América e as suas campanhas de mistificação, a verdade é que, independentemente de novos perigos e riscos, o imperialismo acaba de sofrer mais uma humilhante derrota no Afeganistão”, acrescentando que “o que se exige, é que os EUA e os seus aliados não só ponham definitivamente fim a sua ingerência no Afeganistão, como a todas as suas criminosas intervenções militares, operações de desestabilização, sanções e bloqueios económicos”.

O PCP, que nas autárquicas se une ao Partido Os Verdes, formando a Coligação Democrática Unitária (CDU) lembra que se apresenta “em todo o país como o seu projeto alternativo”, que tem uma “intervenção em defesa dos interesses das populações e dos trabalhadores”.

“Estamos em 305 dos 308 concelhos, com mais de 40 mil candidatos” referiu Jerónimo, acrescentando que não se escondem “como outros fazem, em arranjos de circunstância, nem em falsas listas independentes”.

Para finalizar, o líder comunista salientou que, numa altura em que “o capitalismo confirma a sua natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora, coloca-se a necessidade da sua superação revolucionária e reafirma-se a atualidade do ideal e do projeto comunista”.

Referindo-se a este ideal, salienta a oposição à opressão, à agressão e à guerra, e a predação dos recursos naturais. “Respondemos a grandes exigências, enfrentamos dificuldades e obstáculos e lutamos com uma grande alegria pela liberdade, a democracia e o socialismo, pelo ideal comunista: “o ideal pelo qual vale a pena lutar e ao qual pertence o futuro”, concluiu.