Greve. Professores denunciam desumanização dentro das escolas

“Já enviámos emails e reunimo-nos com responsáveis sete vezes neste primeiro semestre”, indica André Pestana da Silva ao i.

O primeiro dia de greve de pessoal docente e não docente convocada pelo Sindicato de Todos os Professores (STOP) ainda não permite avaliar a adesão à mesma e, por isso, o coordenador André Pestana da Silva, em declarações ao i, explica que “é precipitado fazer qualquer balanço”, no entanto, realça que “infelizmente há problemas crónicos que se arrastam na escola pública” e os mesmos conduziram a esta mobilização.

“O Ministério da Educação, ao longo das semanas, definiu o prazo para as escolas iniciarem as aulas de 14 a 17 de setembro e as mesmas têm autonomia para esse intervalo. A esmagadora maioria das escolas vai começar na quinta e, sobretudo, na sexta. As imagens que vi hoje na televisão eram de receção aos alunos. Nesse sentido, haverá mais atividades no final da semana”, adianta o dirigente que critica a forma como a tutela tem procedido às negociações com os sindicatos.

“Já enviámos emails e reunimo-nos com responsáveis sete vezes neste primeiro semestre do ano e não se dignam a responder diretamente quando o fazemos. É uma dupla desconsideração em relação aos profissionais da educação. Vimo-nos obrigados, com a legitimidade de um plenário e de uma sondagem, a avançar com esta greve para assinalar alguns dos principais problemas que este ano letivo terá”, esclarece, começando por elencar os antigos, como a falta crónica de pessoal não docente e os seus salários de “miséria”, a existência de uma avaliação “injusta e totalmente artificial” do pessoal docente e não docente ou a constituição de turmas muito numerosas.

“Este ponto é mau por causa da pandemia e da aprendizagem, sendo que o Governo faz grandes narrativas sobre esta recuperação, mas como é que um professor pode dar um atendimento minimamente personalizado a centenas de alunos?”, questiona, referindo que “há uma desumanização e, obviamente, muitos deles, no final do ano letivo, nem sequer sabem os nomes de todos os alunos”.

Também o envelhecimento é considerado outro problema crónico do setor pelo STOP que defende o regime de aposentação especial sem penalização a partir dos 60 anos de idade e direito a uma pré-reforma digna.

Mas não fica por aqui. O excesso de trabalho burocrático é outro dos fatores que espelham a precariedade da profissão e “o concurso de docentes foi injusto porque há colegas que estão muito longe de casa e “não têm qualquer ajudas de custo”, lamentando que seja esta a realidade do pessoal docente, diferente da dos magistrados e dos deputados. “Se a educação é estruturante, temos de modificar estes e outros aspetos. Há professores que não conseguem acompanhar os filhos pequenos nem os pais acamados por estarem tão longe de casa”, nota André Pestana da Silva.

“Não conseguem prestar o melhor serviço” “Além destes problemas mais antigos que já levavam a um bloqueio negocial, e por isso é que somos obrigados a fazer algo diferente, também existem os novos”, destaca o líder do sindicato formado há três anos, recordando a questão da municipalização porque 66% dos municípios não estão de acordo. “Há a falta de cultura democrática deste Governo, mas determinou que os municípios que não avançaram vão ter de concluir a municipalização até 31 de março de 2022”, diz, explicando que “ninguém nos garante que, se depois desta primeira fase de municipalização sem grandes protestos, o Governo não pretenderá incluir também a gestão do pessoal docente nos municípios. Ou lutamos agora ou será muito mais difícil travar este processo no futuro”.

Outra situação que preocupa o sindicalista é o facto de muitos contratos não terem sido renovados. “Vemos os colegas não docentes, por exemplo, a serem substituídos por profissionais que não têm tanta formação. Deram o melhor de si numa situação inédita, até acompanharam crianças com necessidades educativas especiais, tinham conhecimentos para isso”.

“Fomos forçados a assinalar o inicio deste ano letivo de forma diferente porque quem nos dera que assim não fosse, mas há problemas que se arrastam há demasiado tempo e os profissionais de educação estão desmotivados”, acrescenta, rematando que “por muito que se esforcem e dediquem, não conseguem prestar o melhor serviço que querem dar”.