Caso Giovani. Perito forense diz que há divergências entre autópsia e factos relatados pela acusação

O especialista revela a existência de “contradições muito significativas” e o facto de não ser possível perceber se a lesão mortal do jovem ocorreu devido a uma agressão ou a outro tipo de pancada, como uma queda.

O perito forense Duarte Nuno Vieira, ex-presidente do Instituto de Medicina Legal e consultor na área, revelou, esta segunda-feira, que a autópsia feita ao cabo-verdiano Luís Giovani – que morreu, alegadamente, após ser espancado por um grupo de homens naquela cidade – contradiz os factos relatados pela acusação.

O professor catedrático testemunhou no tribunal de Bragança a pedido da defesa de um dos sete arguidos no caso. Segundo o especialista, que analisou os documentos do caso, “o que está relatado no despacho da acusação não coincide com aquilo que a autópsia transmite”.

"Perante os dados que estão disponíveis, nós temos contradições grandes entre a versão dos factos e aquilo que a autópsia nos conta. A autópsia evidencia enormes contradições entre o relato que fez parte do despacho de acusação e aquilo que as testemunhas terão contado e aquilo que depois o cadáver veio contar-nos", disse aos jornalistas.

O especialista revela a existência de “contradições muito significativas” e o facto de não ser possível perceber se a lesão mortal do jovem ocorreu devido a uma agressão ou a outro tipo de pancada, como uma queda.

Duarte Nuno Vieira diz ainda ter “muita dificuldade” em encarar que, se “aquela lesão tivesse resultado de um primeiro traumatismo intenso, aquele cidadão tivesse ainda a possibilidade de fazer todo o percurso que fez com a gravidade das lesões que tinha".

"Não é uma impossibilidade, mas vejo isso com dificuldade e, portanto, em termos de probabilidade, eu avançaria mais para a segunda [a queda], mas não posso excluir também a outra hipótese, a pancada", considerou.

O perito exclui, contudo, a hipótese de o jovem cabo-verdiano ter sido espancado em grupo, como aponta o Ministério Público. “Não há nada que diga que aquele jovem foi brutalmente agredido”, considerou.

"Nada, nada, em termos daquelas agressões múltiplas de pé, no chão, a pontapés, com soqueiras com paus, com vários instrumentos, não", disse, salientando que “a autópsia permite afirmar taxativamente que isso não aconteceu”.

"Que há uma pancada única, há. Agora, foi uma pancada única, se foi de agressão, se foi acidental, isso já estaria a caminhar no sentido da adivinhação", acrescentou.

Recorde-se que Luís Giovani dos Santos Rodrigues morreu na madrugada do dia 31 de dezembro, depois de ter estado 10 dias internado no Hospital de Santo António, no Porto.