Henrique Corrêa da Silva: “Não tenho dúvidas de que a bitcoin vai ser o ouro digital”

Defende que o sistema monetário que temos hoje ‘não é sustentável, é iníquo e vai acabar mal’. E vê a tecnologia blockchain, que nasceu da crise de 2008, como a solução.

Cresceu nos Estados Unidos porque o seu pai trabalhava no Banco Mundial, em Washington DC. Licenciou-se em Ciência Política na McGill University, em Montreal, no Canadá, e depois tirou um mestrado em Estudos Europeus e Relações Internacionais na London School of Economics.

De regresso a Portugal, durante 12 anos Henrique Corrêa da Silva trabalhou nos Serviços de Informações, donde sairia para fundar a Privus, uma empresa de cibersegurança e de comunicações encriptadas.

«Em 2008, na sequência da crise financeira, comecei a estudar o assunto e a perceber como é que funcionava o dinheiro», recorda ao Nascer do SOL. Depois tornou-se entusiasta da bitcoin, por razões tanto tecnológicas como ideológicas. Atualmente preside ao Instituto New Economy (https://neweconomy.institute), que se dedica à promoção e divulgação da inovação relacionada com a economia digital.

Quando lhe dizem que a bitcoin «não tem nada por trás», devolve a pergunta: «Então e o que tem por trás essa fotocópia de papel que a pessoa traz na carteira? Quando tinha ouro, estava respaldado. Hoje em dia não tem nada», argumenta. Antevê a morte dos mercados de capitais como os conhecemos e explica como a tecnologia de blockchain e as criptomoedas podem revolucionar o sistema financeiro.

Uma pessoa que compra uma bitcoin recebe o quê? Um certificado? Um ficheiro? Um código?

Uma coisa que muitas pessoas não sabem é que as bitcoins estão sempre na blockchain, não saem de lá. Não vão para a mão de ninguém, não existem bitcoins físicas. Ao comprar, a pessoa tem acesso a uma chave privada. Depois usa essa chave para aceder às bitcoins e para as transacionar.

Então não fica com nada físico.

Se comprar ações da Apple ou da Google também não fica com uma cópia física das ações, as ações estão guardadas na corretora. Aqui é a mesma coisa. Só que em vez de comprar ações da Apple ou da Google, compra uma fração de bitcoin, até porque nem toda a gente tem trinta e tal mil dólares para comprar uma bitcoin inteira.

Neste momento uma bitcoin vale cerca de 35 mil euros. Pode-se investir 35 euros, por exemplo?

Perfeitamente. A bitcoin tem oito casas decimais, pode comprar o que quiser. 35 euros há de ser qualquer coisa como 0,001 bitcoin.

E é seguro?

Quando compra, as bitcoins ficam na exchange, a corretora. Se aquela corretora for à falência, ou for hackeada, ou se o dono desaparecer com o dinheiro, a pessoa perde tudo, não é? O que eu recomendo, e muitos dos meus amigos já fazem isso, é transferir as bitcoins da corretora para um wallet pessoal no computador. Na prática, nós é que passamos a guardá-las.

A bitcoin funciona um pouco como as ações não é? Se há pessoas interessadas em comprar, valoriza, se há mais pessoas a querer vender, cai.

É a lei da oferta e da procura, como acontece com qualquer ativo financeiro. Se há mais oferta que procura, cai; se há mais procura do que oferta, sobe. Por isso é que de vez em quando vemos aqueles picos. E nunca haverá mais de 21 milhões de bitcoins, porque é assim que o algoritmo está feito.

Não se pode mudar o algoritmo?

Para isso, 51% da rede bitcoin tinha que concordar em mudar o algoritmo. No princípio, quando a rede era pequenina, talvez fosse possível. Hoje em dia a rede é tão grande e são tantos biliões – é um mercado de capitais que já ultrapassa um trilião de dólares – que já não vai acontecer. Portanto tem 21 milhões de bitcoins para sempre, e grande parte delas já estão perdidas. Isso é a parte má de ter a sua autogestão.

Então já houve pessoas que ficaram ‘a arder’…

Muitas. Perderam as chaves privadas e agora não conseguem aceder às bitcoins. Elas estão lá mas não podem ser movidas. Para todos os efeitos é como se tivessem sido queimadas com um fósforo. Isso é bom para quem tem bitcoin, porque se torna um bem ainda mais escasso.

Não se pode imaginar um cenário em que os bancos centrais criavam uma nova criptomoeda e essa é que se tornava procurada e valorizada?

Já tentaram. Há vários projetos.

Uma espécie de euro digital, por exemplo?

Há milhares de criptomoedas hoje em dia. Algumas são feitas por governos, outras por bancos, outras por privados, outras por miúdos… Depois é o mercado que determina o valor de cada uma. Não é por decreto que se consegue dizer ‘esta cripto é boa e as outras são más’. Podem tentar essa jogada, mas não vai funcionar porque não podem convencer as pessoas a largar as suas bitcoins. As pessoas já percebem que aquilo é uma reserva de valor. É o ouro digital. E vai ser muito difícil um banco central qualquer dizer: ‘Dá-me as tuas bitcoins e eu dou-te criptoeuros’, ou o que for. Mas existem alguns projetos.

A China já tem uma moeda digital, que está a ser usada nos Jogos Olímpicos para pagamentos. Estão a obrigar as pessoas a usar essa criptomoeda chinesa, exatamente para competir com o bitcoin. Aliás, a China já tentou banir várias vezes a bitcoin, mas continua a haver chineses a transacionar com bitcoin. É quase impossível impedir.

Não conseguem impedir toda a gente, mas podem impedir a maior parte da população, podem limitar.

Podem banir, como baniram a pirataria de jogos, de música e de filmes.

Mas nem toda a gente sabe orientar-se nesses meandros…

Os mais novos sabem todos. E a bitcoin está tão disseminada que seria muito complicado tentarem banir. Já há fundos de pensões, de Wall Street, etc., investidos em bitcoin e começa a haver dentro do próprio Governo americano e no Congresso muitos apoiantes de cripto. A bitcoin faz concorrência às moedas fiat, que são as moedas que nós usamos. Obviamente os governos não gostam disso. Na prática estamos a falar de controle do sistema monetário. E a bitcoin é de facto uma ameaça a esse controle. Mas já não se consegue voltar a meter a pasta de dentes dentro da bisnaga. Não dá para voltar atrás. Agora ou se adaptam ou podem tentar banir como os chineses. E quando tentam banir, o que acontece? Muitos dos mineradores que estavam na China foram para outros países. Quem ficou a perder foi a China.

A bitcoin não é usada por bandidos e redes criminosas?

O último relatório da Chainanalysis, que é uma empresa que faz investigações forenses, e trabalha com polícias e com Estados, mostra que houve muito mais fraudes com cripto. Mas representam 0,15%… é muito residual. Nos anos 90 também diziam que a internet ia ser só para os pedófilos, para os bandidos, para os piratas. E de facto há isso. Mas 99% da internet é usada por pessoas normais no dia a dia.

Mas temos visto vários casos de hackers que fazem pedidos de resgate em bitcoin precisamente porque é anónima.

Isso é outro grande mito, que a bitcoin é anónima e por isso é usada para ransomware. Há uns dias, o próprio Governo russo prendeu, a pedido dos americanos, dez tipos que estiveram envolvidos naqueles ataques de ransomware ao Colonial Pipeline e a um hospital. Com a ajuda de empresas como a Chainanalysis, os americanos seguiram o rasto daquelas bitcoins todas até identificar quem são as pessoas que estão por trás, e neste caso foram detidas. Há o mito de que o bitcoin é anónimo. Não é. É pseudo-anónimo. As carteiras não têm nomes por trás, mas é tudo rastreável e todos os movimentos de bitcoins são públicos, portanto até tem uma transparência muito maior do que o sistema financeiro, que é completamente opaco.

Quando a pessoa precisa de transformar a bitcoin em dinheiro fiat, através de uma corretora, tem de se identificar, e normalmente é assim que se apanha os bandidos. Aliás, se eu fosse um bandido não usava bitcoin. Existem outras criptomoedas que têm características mais de anonimato, como o monero. Essas sim, provavelmente vão ter uma utilização mais no dark side, mas dizer que bitcoin só é usada por bandidos é um disparate.

Um investidor mais conservador pensa: ‘Se eu comprar uma casa, mesmo que desvalorize tenho a casa; se comprar ouro, tenho o ouro no cofre do banco. Mas se eu compro criptomoeda e ela desvaloriza não tenho nada’.

O banco também pode ser assaltado, arrombam os cofres e levam o ouro, como aconteceu várias vezes ao longo da história. Com bitcoin ou criptomoeda não, porque está na blockchain e ninguém consegue roubar a blockchain. É uma rede enorme distribuída pela internet.

Mas não conseguem transferir a propriedade para o computador?

Só quem tem a chave privada. Há pouco tempo houve uma notícia de que a polícia alemã tinha detido uns tipos e apreendido não sei quantos milhões em bitcoin. Quem percebesse do assunto sabia que eles não apreenderam nada.

Enquanto o bandido não der a palavra-passe eles não conseguem aceder às bitcoins. Como estamos tão habituados ao físico ainda é difícil perceber isto, mas estamos a entrar na era digital e na era digital tudo vai acontecer no éter. É um pouco como a internet. Há sempre os first movers.

Os pioneiros.

No princípio dos anos 90 poucas pessoas cá em Portugal davam grande importância à internet. Achavam que não era relevante. Como é óbvio, enganaram-se redondamente. Com blockchain é a mesma coisa. Poucos dão relevância, especialmente a classe política, mas o impacto, para mim, ainda vai ser maior do que o da internet.

Em que sentido?

A blockchain é o alicerce do metaverse, que agora está na moda.

Isso tem a ver com o Facebook?

O Facebook mudou o nome para ‘meta’ mas isso foi apenas um golpe publicitário, que até estragou um bocadinho a imagem do metaverse, que já existia muito antes.

Então o metaverse é o quê?

O metaverse é uma representação digital, é um mundo digital semelhante ao mundo analógico que conhecemos.

Uma realidade paralela?

Uma realidade paralela digital. Os nossos filhos já vivem quase todos nessa realidade quando entram nos instagrams e nos jogos online. Isso é o princípio. A próxima versão, que é a web 3, vai ser já com base no blockchain porque a blockchain garante uma coisa importante, que é a pessoa saber que aquilo não foi adulterado. Imagine que eu ponho a minha identidade no metaverse. Está muito mais protegida, não pode ser copiada, não pode ser hackeada. Em vez de ter bitcoin, tenho os meus documentos no blockchain. Se fosse na Google ou na Amazon, estaríamos a dar todos esses dados a uma entidade centralizada, que depois os controla.

O que é revolucionário em blockchain é que somos nós que passamos a controlar. Os dados estão na blockchain encriptados e só nós é que temos a chave que permite dar acesso ou não. Por exemplo, você permite acesso aos dados médicos mas não permite acesso aos dados bancários. Por isso é que o web 3, o blockchain, é uma ameaça às Googles, aos Facebooks, a esses poderosos todos de Silicon Valley.

Mas para a pessoa controlar os seus próprios dados, e movimentar-se nessa ‘realidade paralela’, não tem de ter conhecimentos de informática?

Isto é um pouco como a internet. No princípio quem mexia na internet eram os geeks, pessoas que sabiam usar comandos DOS e essa coisa toda. Hoje as pessoas usam internet todos os dias sem pensar na internet. Algumas pessoas dizem-me: ‘Mas eu não percebo nada de blockchain’. E eu pergunto: ‘Mas percebe de TCP-IP?’. Ficam a olhar para mim. ‘O que é isso?’. Isso é o protocolo que está por trás da internet. Em blockchain a mesma coisa. Por trás vai estar essa infraestrutura descentralizada. Mas para o utilizador comum vai ser completamente transparente. Uma das coisas giras é que vai acabar com as passwords.

Com a blockchain a pessoa liga o browser, tem um botãozinho para autenticar, abre uma chave privada e já não tem de meter mais passwords para aceder a lado nenhum. Bitcoin é a primeira aplicação conhecida de blockchain, mas é muito redutor dizer que bitcoin é blockchain e blockchain é bitcoin. É como dizer que a internet é só o email. O email é uma parte da internet mas há muito mais do que isso.

A bitcoin já tem a sua própria mitologia, quase. Há a história do senhor que pagou a pizza…

Sim, com dez mil bitcoins.

Que hoje valeriam 350 milhões de euros. Se não tivesse gasto essas bitcoins na pizza estaria rico. Mas também se pode perder dinheiro…

Claro que sim. Não há almoços grátis. Se prometem retorno garantido de x%, seja em bitcoin, seja em ações, seja no que for, é burla. Há burlas em bitcoin como há no Forex [Foreign Exchange Market], no MBway, burlas vão existir sempre. E então quando as pessoas querem acreditar no Pai Natal…

Há quem ache que a bitcoin também é um esquema de pirâmide porque assenta no dinheiro que as pessoas lá metem.
Isso é verdade para qualquer ativo. Quando dizem: ‘Estás a vender ao outro a tua posição’. Certo. E quando vendo uma casa não estou a vender a minha posição a outra pessoa? Quando compro uma casa não estou à espera que ela valorize? Ninguém compra uma casa à espera que ela desvalorize. Quem compra ações da Apple não está à espera que elas caiam. Está à espera que valorizem para depois vender a outra pessoa. Esse argumento está a ser usado desde o início. Não há Ponzi [esquema em pirâmide, tipo Madoff] que dure 11 anos.

Se isto é um Ponzi, é o maior Ponzi de sempre da história, e está tão bem feito que até fundos de Wall Street, gestores de hedge funds, alguns dos tipos mais inteligentes da Goldman Sachs, etc., estão a sair da finança tradicional e a entrar em cripto. Presumo que não seja por acharem que é um Ponzi: é porque já perceberam que isto é o futuro. Estou a ouvir essa conversa do Ponzi desde os 200 dólares. Estamos em 35 mil. E quando chegar aos 100 mil e aos 500 mil, que é o que eu acho que vai acontecer, as pessoas vão continuar a dizer que é um Ponzi. Especialmente quem não entrou. Quem está fora diz sempre isso porque fica irritado.

Acha que daqui a uns anos estamos a receber os nossos salários em bitcoin, em vez de receber uma transferência bancária?

Vários jogadores de futebol americano já estão a pedir o salário em bitcoin, já não querem dólares. São miúdos de vinte e poucos anos. No futuro as pessoas vão ser pagas em cripto, não tenho grandes dúvidas. Seja em bitcoin seja noutra moeda qualquer. Bitcoin é o alicerce, é o ouro. A pessoa se calhar não vai ser paga em ouro, vai ser paga num derivado que tem o ouro por trás. A minha teoria já há muitos anos é que vamos ter um novo sistema monetário. O sistema Bretten Woods, que todos conhecemos, está a morrer, e já está a morrer há muito tempo, está cheio de problemas, por isso é que temos sempre estes ciclos de boom and bust [picos e quedas].

Mas há quem preveja isso há algum tempo e no entanto continua de pé.

É verdade. Mas 60 anos ou 70 anos em termos históricos não é nada. Os ciclos mudam, e os Estados Unidos já não são o que eram. Para mim o mais importante foi o chamado ‘choque Nixon’, em agosto de 1971. Na altura eram mais os franceses que tinham obrigações do Tesouro americano, e estavam a ir a Washington trocar os seus papéis por ouro físico de Fort Knox, porque já percebiam que se calhar os americanos estavam a gastar mais do que podiam na realidade – com a Guerra do Vietname, com o programa contra a pobreza do Johnson, com uma data de iniciativas despesistas. Portanto chegou-se a um ponto em 71 em que os americanos suspenderam temporariamente a conversão do dólar em ouro. ‘Temporariamente’.

Já lá vão 50 anos!

Para mim isso foi ‘a morte do artista’. Todas as nossas moedas estão ancoradas no dólar, mas o próprio dólar desde esse momento já não tem nenhuma âncora, é impresso às bateladas por decisões políticas. Quando me dizem: ‘Bitcoin não tem nada por trás’. E então o que é que tem essa fotocópia de papel que a pessoa tem na carteira? Quando tinha ouro, estava respaldado. Hoje em dia não tem nada.

Quem está perto do poder, beneficia com este sistema – e por isso é que Wall Street, os banqueiros, quem tem muitas ações, estão fartos de ganhar dinheiro. O povo trabalhador, pelo contrário, vê as suas condições de vida agravarem-se. A classe média está a desaparecer. Isto demora décadas. Começou em 71, em 2008 foi o grande charco, quando o sistema deveria ter colapsado. Só que os americanos fizeram uma coisa que nunca tinha acontecido na história. Hoje em dia estamos habituados aos bail outs [resgates] até cá em Portugal com a TAP e o Novo Banco. Antes de 2008 seria impensável. Os mercados funcionavam, se as ações caíam é porque a empresa era uma porcaria e ia à falência. É assim que funciona o capitalismo. Hoje não temos capitalismo. 

Temos o quê, então?

Temos um capitalismo dirigido pelos banqueiros centrais, que por sua vez são nomeados pelos políticos. Têm um sistema perverso de emissão de moeda que prejudica o trabalhador e beneficia quem tem acesso às altas esferas da finança. O cripto vem acabar com esse monopólio. Não acho que seja por acaso que o bitcoin nasceu no final de 2008. Para mim foi uma resposta clara à crise financeira – houve pessoas que perceberam que o sistema monetário que nós temos não é sustentável, é iníquo e vai acabar mal. Portanto temos de ter uma moeda que não seja controlada pelos políticos e pelos banqueiros. Foi assim que nasceu o bitcoin.

Há um site chamado ‘bitcoin obituaries’ onde estão as mortes anunciadas da bitcoin desde o princípio. Estão lá milhares. Há aquelas ‘referências’ económicas que para mim não sabem do que estão a falar, mas que são muito conceituadas e muito ouvidas pelas nossas elites. O Paul Krugman é um deles. Anda há anos a dizer que o bitcoin é um Ponzi e que vale zero.

E está errado?

Está errado como estava errado sobre a internet. Ele também dizia que o impacto da internet na economia era ridículo, não ia ser maior do que o do fax. Vê-se…

As grandes variações do valor do bitcoin não causam ansiedade?

Se precisar daquele dinheiro para amanhã, claro que causam ansiedade. Se está a investir e já sabe à partida que é um ativo muito volátil, não. E porque é que é tão volátil? Por uma razão muito simples. As opiniões sobre a bitcoin são diametralmente opostas: uns dizem que não vale nada, outros dizem que é a melhor coisa do mundo.

Basta uma palavra do Elon Musk e o preço dispara ou cai a pique.

Ninguém sabe realmente qual é o preço que o mercado acha que a bitcoin deve ter. Mas podemos fazer um cálculo simples. Só há 21 milhões de bitcoin. Se olharmos para a massa monetária que existe no mundo, não é difícil perceber que para equilibrar o dinheiro fiat cada bitcoin vai ter de valer quatro ou cinco milhões. Ninguém sabe. Agora, para lá chegar vai ser com muita volatilidade.

Uma montanha-russa?

Não é para estar a brincar com dinheiro de que a pessoa precisa. Agora imagine que tem dinheiro no banco.

Está parado.

Está parado e está a desvalorizar, porque tem taxas negativas, porque a inflação é muito maior do que dizem, as comissões têm vindo a aumentar. Cada vez que vejo o meu extrato bancário fico assustado. E lá está, quem tem o acesso ao poder político mantém por via legislativa o seu monopólio. Bitcoin e cripto em geral ameaçam esse modelo todo. Por isso é que o Jamie Dimon, o presidente do JP Morgan, disse: ‘Vou despedir qualquer trader que toque em bitcoin no meu banco’. E agora estão a criar o JP Morgan coin…

Não tenho dúvidas de que bitcoin vai ser o ouro digital, tal como foi o ouro no passado. Euros e dólares qualquer governo imprime, como está a acontecer. Blockchain vai ser o refúgio. Os mercados de capitais como os conhecemos, com a bolsa, etc., são um dinossauro que vai morrer. Se é daqui a cinco, dez ou quinze anos não faço ideia. Mas acho que não é por acaso que alguns dos bancos que diziam mal já estão a apostar em cripto. Os mais inteligentes vão surfar a onda. Os que ficam agarrados ao passado, a tentar tapar o dique com os dedos, podem travar alguma coisa, mas mais cedo ou mais tarde a água vai passar-lhes por cima.