TAP. Ryanair ameaça cancelar 20 rotas em Lisboa devido a slots

Também sindicatos apontam o dedo à companhia aérea. Sitava acusa gestão de se reunir só para “acordos”, já sindicato dos pilotos diz que prioridade é reduzir cortes salariais.

Para o presidente executivo da Ryanair, “não faz sentido” que seja a TAP a decidir quem fica com as 18 slots – direito de pousar ou descolar – de que tem de abdicar, em caso de empate das propostas a concurso. “Isso certamente não é concorrência. É mais uma decisão errada da Comissão Europeia, que não é do interesse nem dos consumidores em Portugal, nem dos visitantes”, defendeu Michael O’Leary. 

Em causa está o plano de reestruturação da TAP, aprovado no final do ano passado pela Comissão Europeia, que prevê que a companhia aérea portuguesa abdique de 18 slots no aeroporto de Lisboa (nove pares de faixas horárias para descolar e aterrar), em novembro. No entanto, em caso de empate nas propostas apresentadas a concurso por companhias concorrentes, a última palavra será dada à TAP, uma vez que caberá à companhia aérea  der, para a escolha do vencedor.

“A Comissão Europeia devia estar a promover a concorrência e a escolha, em vez de permitir que uma companhia aérea ineficiente e altamente subsidiada pelo Estado, como a TAP, decida quem compete com ela e quando”, disse o presidente executivo da companhia low-cost.

A Ryanair reiterou que 18 slots “não são suficientes”, dado que a TAP está a reduzir a sua frota em 20% e apenas em 2% o número de slots, no aeroporto de Lisboa. Lembrando ainda que essa libertação só irá acontecer em novembro.

E vai mais longe: “A Ryanair investiu no aeroporto de Lisboa este inverno com sete aviões (700 milhões de dólares) e está disposta a continuar a investir no verão 2022, desde que o Governo Português exija à TAP a libertação de alguns dos slots não utilizados até ao final de fevereiro” e apela ao Governo Português, “pela última vez, que force a TAP a libertar slots não utilizados, de forma a promover a concorrência, o crescimento e salvaguardar rotas e empregos em Lisboa”. 

Sindicatos apontam o dedo A Ryanair não é a única a fazer duras críticas à TAP. Também o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava) acusou a administração da  empresa de ignorar as estruturas sindicais e de só se reunir com estas para “fazer acordos e tirar dinheiro aos trabalhadores”. 

De acordo com Paulo Duarte, “desde que esta administração veio parece que não há sindicatos na TAP”, dando o exemplo de uma reunião pedida à gestão da transportadora já no ano passado e à qual nunca receberam resposta. “Digamos que nos sentimos usados, porque só nos chamam para fazer acordos e para tirar dinheiro aos trabalhadores”, referiu à Lusa.

O Sitava deixou várias críticas à gestão liderada por Christine Ourmières-Widener: “Desde a chegada do atual conselho de administração, já lá vão sete meses, parece que na TAP só existem administradores. Movem-se ao ritmo das novas admissões, frequentemente de estrangeiros principescamente pagos, e das dezenas de nomeações também elas com assinaláveis incrementos salariais”. E acrescenta: “Não fora a insuportável insolência com que se relacionam com os trabalhadores, diríamos que este CA [Conselho de Administração] e esta Comissão Executiva se movimentam como nenúfares num lago. Deslizam suavemente à superfície ignorando tudo o que está à sua volta”, ironizou o sindicato.

Paulo Duarte chama ainda a atenção para o facto de estarem a ser realizadas uma série de alterações, dando como exemplo, “a deslocalização do posto dos serviços médicos da empresa para fora do reduto TAP” e que “há uma série de situações que não estão bem explicadas”.

A estrutura sindical refere ainda que “é bom que quem administra não esqueça os brutais sacrifícios e os violentíssimos e injustos cortes salariais a que os trabalhadores da TAP foram e estão a ser obrigados” e alertou que “em cima dos cortes veio agora a inflação que torna a vida dos trabalhadores num inferno ainda maior”.

Também o SPAC garantiu ontem que a prioridade é reduzir os cortes salariais dos pilotos da TAP, nas negociações que se iniciam em março, de preferência para os 25% de redução que genericamente têm os trabalhadores da empresa. “Não queremos estrangular a empresa. Queremos sempre viabilizar a empresa, nunca o contrário”, disse o dirigente sindical, acrescentando que os “pilotos são sempre parte da solução, nunca parte do problema”, disse o sindicato. 

Já em relação à a imposição da Comissão Europeia de a TAP perder 18 slots no aeroporto de Lisboa, o vice-presidente do SPAC admitiu ser preocupante mas que se a companhia souber gerir não terá impacto, acreditando que este verão a previsão de retoma da empresa pode chegar de 80% a 90% do verão de 2019.