As mulheres da Ucrânia

A nós, sociedade minimamente livre, cabe-nos a missão de ajudar estas mulheres e estas crianças que nos chegam… proteger aquelas que protegem, amar aquelas que amam. Responder ao ódio com amor.

Tenho visto comboios repletos de mulheres e crianças a fugirem da guerra… crianças agarradas aos pais… maridos agarrados às esposas, sabendo que pode ser o último abraço ou o último beijo que irão dar. Elas fogem da guerra… eles vão para a guerra… elas caminham para defender a vida… eles caminham para a morte.

Tenho-me questionado muito porque achamos natural que as mulheres saiam com os seus filhos para salvarem a vida e os homens avancem para a guerra. Será que esta não é uma visão machista da sociedade? Porque temos este dever de proteção da mulher? O que é que existe na mulher que nos leva, em tempos de guerra, a ter esta atitude como algo natural?

Temos de reconhecer que, há, de facto, na mulher um génio, um segredo, um amor, uma ternura que é insubstituível. A iniciadora de uma comunidade a que pertenço costumava dizer que a mulher é o ser mais atacado, porque ela traz dentro de si a ‘fábrica da vida’. E isto é impressionante perceber que uma mulher é um ser insubstituível na sociedade na transmissão da vida, no amor e no carinho para com as crianças, na proteção da vida humana. 

Ao contrário do que muitos dizem, a mulher não é o sexo fraco, mas o sexo forte. Eu não consigo imaginar um homem a ter um filho… o momento de dar à luz tem em si uma violência tão forte que penso que poucos homens aguentariam. A mulher é um ser de uma fortaleza incrível… ela tem em si uma força de proteção dos seus filhos que é única. E não só nos filhos, mas em tudo na vida… elas são, de facto, mais fortes…

Por isso, comovemo-nos ao ver a garra destas mulheres que, sozinhas, irão enfrentar a outra parte da guerra. Agarradas a um ou dois ou três filhos, saem da Ucrânia em direção a um nada… sabendo apenas que têm de libertar os seus filhos, de os proteger.

Ao mesmo tempo que olho para estas mulheres, tenho tentado colocar-me no lugar destes homens que abandonam tudo e seguem em frente… todos sabem que diante deles está a morte. Aqueles que se alistam para combater ou até mesmo para curar os feridos, sabem que, muito provavelmente, caminharão para a morte. As suas mulheres, as suas mães, quando os deixam, sabem disso…

O que sentem estes homens? Como estão a viver este momento? O que os move? Como gerem a angústia da morte?

Como gerem a raiva, o desejo de vingança? O que pensam? 

Não sabemos, ao certo, o que vai dentro deles… Medo? Angústia? Raiva? Vingança?

Com a morte de muitos homens, uma parte das mulheres vai morrer também… muitas mães perdem os seus filhos, mulheres esposas os seus maridos, muitas crianças os seus pais…

A nós, sociedade minimamente livre, cabe-nos a missão de ajudar estas mulheres e estas crianças que nos chegam… proteger aquelas que protegem, amar aquelas que amam. Responder ao ódio com amor.

Vejo muito sofrimento, muita dor, muita incompreensão sobre o futuro, muita incerteza. 

Ainda não contabilizamos os mortos. Não sabemos quantos são!

Há, no entanto, uma coisa que começa a aparecer nesta guerra… o Amor!

A união de todos estes países da Europa e do mundo não é apenas de condenação da invasão da Ucrânia, nem o medo de que a guerra se espalhe. 

A união de todos estes países faz-nos ver que existe o amor… o amor é possível! É possível darmos a vida uns pelos outros. Protegermo-nos uns aos outros até ao risco da própria vida.

Haverá muita demagogia política, económica e social no meio de tudo isto? Sem dúvida que sim… Mas o que está a aparecer, de verdade, é muito amor… 

As mulheres desta guerra ficarão marcadas para sempre e cabe-nos a nós marcarmos, com amor, a vida daquelas que abandonaram os seus lares, para protegerem a vida dos seus filhos. Cabe-nos a nós amarmos estas mulheres fortes que trazem apenas a roupa do corpo e as crianças, com muitos sofrimentos.