A Mariana, a Ana Catarina, a Marta, a Elvira, a Maria do Céu, a Catarina e as duas Anas são a forma que António Costa parece ter escolhido, para demonstrar o quão empenhado está numa das causas que mais merece ‘carinho’ mediático. Mas nenhuma delas prova tão bem, que os jobs também são para as girls como Helena, e neste caso sem a carga pejorativa que se associa à expressão original de jobs for the boys.
O secretário-geral do PS, o partido que tirou da cartola uma maioria absoluta quando poucos o previam, voltou a surpreender ao ter escolhido a dedo um Governo maioritariamente feminino, nove dos 17 ministérios serão liderados por mulheres, incluindo o da Defesa.
Porém, Helena Carreiras promete não ser apenas uma mulher à frente do mais ‘masculino’ dos ministérios. Grande parte da sua vida foi dedicada ao estudo do papel das mulheres nas Forças Armadas.
Depois de ter sido a primeira mulher a assumir a Direção do Instituto de Defesa Nacional (IDN), em julho de 2019, Helena Carreiras prepara-se agora para ser a primeira mulher a exercer o cargo de ministra da Defesa Nacional, num momento internacional conturbado e exigente para as Forças Armadas como é a invasão russa da Ucrânia, em especial dos países pertencentes à União Europeia e à NATO.
Licenciou-se em Sociologia no ISCTE em 1987 e doutorou-se em Ciências Sociais e Políticas no Instituto Universitário Europeu em Florença com uma tese sobre políticas de integração de género nas Forças Armadas dos países da NATO. Foi também investigadora visitante no Departamento de Estudos sobre as Mulheres na Universidade da Califórnia em Berkeley, segundo a biografia publicada no site do Instituto de Defesa Nacional.
Tem vários artigos publicados sobre a integração das mulheres nas forças militares, como Gender and the Military. Women in the Armed Forces of Western Democracies (Routledge, 2006), Mulheres em Armas. A Participação Militar Feminina na Europa do Sul (Cosmos e IDN, 2002), Mulheres nas Forças Armadas Portuguesas (Cosmos, 1997), Qualitative Methods in Military Studies (Routledge, 2013) e Researching the Military (Routledge, 2016).
Helena Carreiras parecer ser assim a resposta à promessa que o seu antecessor João Gomes Cravinho, que se manterá no Governo como ministro dos Negócios Estrangeiros, fez em 2021, ao prometer, nem a propósito a 8 de março – dia da Mulher -, "combater as barreiras à participação plena das mulheres" nas Forças Armadas, tendo na altura sublinhado que havia duas generais, que as mulheres representavam já 13% dos efetivos militares e que 20% das categorias de oficiais já eram ocupadas por mulheres.
Mas não é só ao género que se dedica o estudo da nova ministra sobre a diversidade social nas Forças Armadas, a orientação sexual no mundo militar também é alvo de estudo por Helena Carreiras, relativamente à integração de homossexuais nas Forças Armadas.
“O problema da diversidade convoca, assim, para o debate das relações civil-militares, o problema dos direitos civis e políticos e da multiplicação de identidades grupais, mas também a questão da legitimidade e eficácia militares. Não admira, pois, que a ‘gestão da diversidade’ tenha passado a colocar-se como crucial entre as políticas e prioridades organizativas. Mais que garantir a homogeneidade, as Forças Armadas passaram a confrontar-se com a necessidade de gerir a diversidade”, lê-se em ‘Diversidade Social nas Forças Armadas: Género e Orientação Sexual em Perspectiva Comparada’, da autoria de Helena Carreiras.
“Mais que seleccionar e excluir, os processos de recrutamento e treino passaram a orientar-se para assegurar a integração de grupos cujos interesses são frequentemente definidos de forma conflictual, senão mesmo antagónica (ex: homens/mulheres; heterossexuais/ /homossexuais)”, notou.
Esta gestão da diversidade nas Forças Armadas será talvez um dos pontos chaves do seu mandato. Em 2021, havia duas generais. Em 2022, há duas generais e uma ministra da Defesa Nacional.