Concorreu nas últimas eleições autárquicas à Figueira da Foz contra Santana Lopes. Estava à espera deste resultado?
Não estava à espera deste resultado, caso contrário não me tinha candidatado. As condições de partida não eram essas. As condições eram de uma candidatura que protagonizei em nome do PSD e não haveria a candidatura de Santana Lopes. Haveria, expectavelmente, uma recandidatura do autarca do PS e também seria expectável a apresentação de outras candidaturas, como a do Bloco de Esquerda, a do Partido Comunista e a do Chega, como aliás se veio a verificar. Aceitei nessa premissa e seria uma candidatura representativa do PSD.
Houve alguma polémica em torno da sua candidatura por causa da acumulação de cargos…
Essa acumulação ficou muito clara na minha declaração pública. Nunca acumularia a função de presidente da Turismo do Centro com a de presidente da Câmara da Figueira da Foz. A 26 de setembro de 2021 se o resultado tivesse sido diferente assumiria na plenitude o cargo de presidente da Câmara e deixaria o cargo de presidente da Turismo do Centro. Foi tudo muito claro para todos, quer internamente, quer externamente e, talvez por isso, quando retomei o cargo a 27 de setembro, exatamente no dia Mundial do Turismo, em Coimbra, não tive nenhuma objeção, nem tive nenhuma manifestação nem pública, nem privada de contestação ou de condenação. Mais, tive a preocupação, a partir do dia em que apresentei a minha candidatura até ao dia das eleições autárquicas, de não tomar qualquer decisão a comissão executiva da Turismo do Centro que não passasse pelo órgão colegial.
Como vê a atual situação do PSD?
O PSD, como todos os partidos do arco de governação, precisa de reorientar quer a sua agenda, quer a sua ligação face ao que é a evolução da vida do país. O PS está neste momento numa posição confortável porque acaba de conquistar uma maioria absoluta, mas provavelmente calhar vai-lhe acontecer o mesmo quando deixar de ser poder.
E também por estarmos com um Governo de maioria absoluta, o PSD deveria estar mais fortalecido para fazer uma maior oposição…
Acredito que o PSD será o partido que irá fazer oposição ao atual Governo.
Mas está numa situação mais frágil e, ainda por cima, com o crescimento do Chega e do Iniciativa Liberal…
Concordo que o partido está, neste momento, longe de exercer o papel que lhe cabe de uma oposição eventualmente mais forte, até do ponto de vista mediático, como também devia ser mais eficaz do que está a ser, mas pelas razões conjunturais que são conhecidas e que serão resolvidas até ao final do mês de maio. É normal que haja agora uma diminuição de soundbyte por parte do PSD, mas acho que é um partido profundamente enraizado na sociedade civil portuguesa. É um partido humanista, com uma fortíssima implantação no poder local. Ao contrário destes partidos mais recentes que, não augurando nenhum futurismo sobre o que vai acontecer ao Chega ou ao Iniciativa Liberal e a outros, são partidos que não têm a matriz socio-identitária que tem o PSD. Acredito que o voto no Chega é mais um voto de protesto do que um voto declarado de uma aceitação e mais do que uma aceitação, de uma afirmação de uma ideologia. Se perguntarmos ao cidadão que votou Chega quais são os valores do partido pelos quais assume fazer o seu apoio, tenho uma enorme dificuldade em acreditar que possa identificar cinco princípios. Ao contrário do IL, que tem uma matriz ideológica que assenta num conjunto de pressupostos, mas cujo resultado eleitoral desta legislativa está muito acima daquilo que verdadeiramente é a matriz identitária do IL. Agora o Chega é claramente um voto de protesto e como todos os partidos de extremas não auguro que tenha um futuro muito promissor.
O PSD já apresentou dois candidatos. Qual acha melhor para o futuro do partido?
Sou militante do PSD e sou amigo de ambos. Conheço há muitos anos Luís Montenegro, que foi cabeça de lista por Aveiro. Também conheço há muitos anos Jorge Moreira da Silva e acho que são dois valores que o partido tem, com perfis completamente diferentes e provavelmente estes perfis diferentes dão oportunidade aos militantes de poder escolher aquele que melhor se ajusta ao quadro temporal que temos pela frente: quatro anos de maioria absoluta do PS que, do meu ponto de vista, exigem ao PSD uma fortíssima entrega.
E uma reorganização interna…
Mas isso não é exclusivo do PSD. Mas o PSD precisa claramente e urgentemente de uma reorganização interna. Precisa urgentemente de recrutar quadros e, em alguns casos, de voltar a poder contar com quadros que entretanto se foram afastando do partido por motivos vários. E precisa rapidamente de construir um programa ajustado aquilo que são os desafios que hoje temos e que já não são compatíveis com programas que foram sufragados. O partido precisa rapidamente de fazer esse caminho.
Está a pensar em dar apoio a alguns dos candidatos?
Não. Na função em que estou hoje e regressado à minha vida profissional a 100%, em que represento uma instituição que tem valores e tem interesses, não no sentido individual mas coletivos e transversais à sociedade, acho que não devo enveredar por esse caminho.
Depois do CDS de ter desaparecido em termos de representação parlamentar e com os fracos resultados do PSD é uma situação que deveria inquietar o partido?
Acho que o CDS é um bom exemplo de um cartão amarelo que foi colocado aos partidos que ainda estavam enraizados mas que em muitos casos, perderam o contacto com o país real. Acho que o CDS perdeu um bocadinho o contacto com o país real. Como aconteceu, por exemplo, em França com o partido socialista. Isso significa que temos um desafio sério pela frente, sobretudo para as novas gerações, que têm motivações e têm exigências diferentes daquelas que a minha geração tinha.
O que aconteceu com Carlos Moedas na Câmara de Lisboa deu ilusão ao PSD que poderia contar com esse efeito surpresa nas últimas eleições?
O problema das sondagens é exatamente esse: sondagens são sondagens e nunca as valorizamos quando não são muito vantajosas. Na última semana de campanha, o índice de popularidade de Rui Rio passava em dois pontos a de António Costa. Mas essa era uma visão, diria restrita, da grande metrópole que é Lisboa, não me parecia que essa fosse a leitura real do país. Sem citar nenhum ex-Presidente da República, o PSD tem quatro anos pela frente para trabalhar – e para trabalhar muito.