Portugal bate valor recorde de importação de produto petrolífero russo em março

Importações da Rússia a Portugal somaram um total de 153 milhões de euros em março deste ano. Um valor muito menor nas exportações: 3,3 milhões de euros. Neste mês, Portugal bateu o recorde de importações em fuelóleo russo: cerca de 103 milhões de euros.

por Daniela Soares Ferreira e Marta F. Reis

Portugal pagou em março um valor recorde em fuelóleo russo, num total de 103 milhões de euros. Este é o maior valor mensal desde pelo menos o ano 2000, revelam dados de exportações e importações divulgados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), os primeiros a permitir analisar as  trocas comerciais com a Rússia depois do início da invasão da Ucrânia.

Analisando as importações da Federação Rússia, constata-se que o país importou mercadorias no valor de quase 153 milhões de euros, não muito abaixo de fevereiro (157 milhões). O maior peso encontra-se na categoria dos combustíveis minerais, óleos minerais e produtos da sua destilação; matérias betuminosas e ceras minerais – quase 118,9 milhões de euros em março. Mas, dentro desta categoria, a maior fatia das importações foi mesmo a dos fuelóleos obtidos a partir de óleos de petróleo ou de minerais betuminosos, destinados a sofrer tratamento, matéria-prima que representou, em valor, 67% das importações da Rússia no mês de março.

Fazendo as contas, só nos primeiros três meses deste ano, Portugal importou da Rússia em combustíveis minerais, óleos minerais e produtos da sua destilação; matérias betuminosas; ceras minerais cerca de 315,4 milhões de euros. O valor é quase o triplo do que foi importado em igual período do ano passado: cerca de 107,6 milhões de euros.

Ainda que esta diferença possa ser justificada com a pandemia, o valor continua a ser superior ao gasto em importações nos primeiros três meses de 2019: perto de 163,3 milhões de euros e, recuando nas estatísticas do INE, o valor de março foi mesmo um recorde para os últimos 22 anos.

Questionado sobre este valor recorde de importação de petróleo reportado pelo INE numa altura me que se discute um embargo de combustíveis da União Europeia, o Ministério do Ambiente diz ao i que “segundo os dados da Direção Geral de Energia e Geologia, houve, no 1º trimestre de 2022, a importação da Rússia de 368 kt de VGO (gasóleo de vácuo – produto intermédio utilizado na refinação) e não petróleo/fuelóleo”, acrescentando que “a Rússia tem 50% do mercado mundial de VGO (usado na refinação)”.

O Ministério liderado por Duarte Cordeiro diz ainda que a Galp, principal empresa portuguesa consumidora desse produto “já anunciou publicamente que irá suspender quaisquer novas aquisições de produtos petrolíferos provenientes, quer da Rússia, quer de empresas russas”.

E deixa números, garantindo que este não é o maior número de importações, uma vez que Portugal já importou 951 milhões de euros em 2016, 1284 milhões em 2017 e 1315 milhões em 2018. O Ministério referiu-se assim a dados anuais, quando a questão foi colocada sobre o mês de março e os dados divulgados ontem pelo INE.

 

Outros números

Na verdade, feitas as contas, a guerra praticamente não travou as compras à Rússia, não só no petróleo mas noutros bens. No total, nos três primeiros meses deste ano, o país adquiriu mercadorias provenientes da Rússia no valor de 415,6 milhões de euros. Olhando para os primeiro trimestre de todos os anos até 2012, num período de dez anos, este é o valor mais alto gasto por Portugal em compras feitas às Rússia. Em jeito de comparação, nos primeiros três meses de 2019, Portugal gastou cerca de 236,6 milhões de euros em importações à Rússia.

E as exportações? No outro prato da balanço comercial, o total de compras feitas pela Rússia a Portugal é muito menor. Nos primeiros três meses deste ano, Portugal expediu para a Rússia produtos no  valor de 29 milhões de euros. Vendas que reduziram drasticamente em março deste ano – 3,3 milhões de euros – face aos dois meses anteriores: 13,2 milhões em fevereiro e 12,5 milhões em janeiro.

No que diz respeito a produtos, nestes três primeiros, as principais exportações de Portugal  para a Rússia foram nas categorias de máquinas e aparelhos, material elétrico, e suas partes; aparelhos de gravação ou de reprodução de som, aparelhos de gravação ou de reprodução de imagens e de som em televisão, e suas partes e acessórios com cerca de 5,9 milhões de euros no total, com maior relevância para o mês de fevereiro.

A Rússia também gastou, neste período, uma quantia considerável com Portugal em madeira, carvão vegetal e obras de madeira; cortiça e suas obras; obras de espartaria (crina vegetal) ou de cestaria: um total de 4,9 milhões de euros. Segue-se mercadorias e produtos diversos com cerca de 2,4 milhões de euros. Em suma, em março, com as importações da Rússia a valerem 153 milhões e as exportações para o país a ficarem-se pelos 3,4 milhões, Portugal pagou 46 vezes mais do que recebeu.   

 

Importações e exportações

Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que Portugal faz mais compras à Rússia que o contrário. Veja quais são as principais trocas entre os dois países.

Importações

No que diz respeito a animais vivos e produtos do reino animal, Portugal pagou à Rússia um total de mais de oito milhões de euros no passado mês de março. Ao contrário do que se poderia pensar, não se trata de carne, mas antes de peixes e crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos.

Peles, couros e outros

Nos primeiros três meses deste ano, Portugal importou da Rússia cerca de 537,8 mil euros. O valor é bem superior ao mesmo período de antes da pandemia, em 2019, que foi de 293,6 mil euros. Durante a pandemia – os três primeiros meses dos anos de 2020 e 2021, o valor importado em produtos desta categoria foi muito mais baixo.

Madeiras e carvão

Em madeira, carvão vegetal e obras de madeira; cortiça e suas obras; obras de espartaria ou de cestaria, Portugal gastou com a Rússia, nos primeiros três meses deste ano, um total de 8,5 milhões de euros. Este é o maior valor, pelo menos desde 2018, ano em que Portugal deu à Rússia um total de cerca de 2,5 milhões de euros na compra destes produtos. Já em pastas de madeira ou de outras matérias fibrosas celulósicas; papel ou cartão para reciclar (desperdícios e resíduos); papel e suas obras, os primeiros três meses deste ano valeram à Rússia mais de um milhão de euros vindos de Portugal.

Armas e munições

No que diz respeito a armas e munições, Portugal não traz nada da Rússia. Segundo os dados do INE, desde 2018, a única vez que isso aconteceu foi em fevereiro de 2020, em que foram gastos 1128 euros.

 

Exportações

É em máquinas e aparelhos, material elétrico, e suas partes; aparelhos de gravação ou de reprodução de som, aparelhos de gravação ou de reprodução de imagens e de som em televisão, e suas partes e acessórios que a Rússia gasta mais dinheiro em Portugal. Nos primeiros três meses deste ano, gastou um total de cerca de 5,9 milhões de euros, com maior relevância para o mês de fevereiro.

Madeira e carvão

Esta é a segunda categoria que traz mais dinheiro russo a Portugal. São, nos primeiros três meses do ano, de 4,9 milhões de euros em madeira, carvão vegetal e obras de madeira; cortiça e suas obras; obras de espartaria ou de cestaria.

Calçado, chapéus e outros

Em calçado, chapéus e artefactos de uso semelhante, guarda-chuvas, guarda-sóis, bengalas, chicotes e suas partes; penas preparadas e suas obras; flores artificiais; obras de cabelo, a Rússia investiu no nosso país, nos primeiros três meses deste ano, pouco mais de dois milhões de euros.

Produtos minerais

No que diz respeito aos produtos minerais – categoria onde Portugal mais gasta dinheiro na Rússia – Moscovo parece não precisar muito do nosso país. Em três meses, em troca de produtos minerais a Rússia pagou a Portugal apenas pouco mais de 77 mil euros, e em março esse valor reduziu-se a zero.

Armas e arte

Armas, munições e peças de arte são categorias onde a Rússia não gastou um único cêntimo com Portugal nos primeiros três meses deste ano.