Se existir agravamento da crise, 40% dos portugueses não têm margem financeira

A Deco Proteste diz ainda que 73% dos questionados concordam com as sanções à Rússia e defendem que a União Europeia deve mantê-las.

A Deco Proteste analisou o impacto da guerra nos consumidores portugueses através de um inquérito e chegou à conclusão que quatro em cada dez inquiridos dizem não ter margem financeira, se a crise se agravar. Ainda assim, sete em dez são a favor das sanções à Rússia.

Lembrando que a guerra está a ter impacto e a acelerar a inflação, a Deco chegou à conclusão que “cerca de três quartos dos 1051 participantes revelam que a invasão russa, em marcha desde fevereiro, tem afetado, pelo menos, parcialmente, a sua qualidade de vida”.

Para Ana Guerreiro, das Relações Institucionais da Deco Proteste, não há dúvidas: “Estamos preocupados com as pressões inflacionistas, aceleradas pela guerra na Ucrânia, que se fazem sentir em áreas tão sensíveis para o dia-a-dia das famílias, da alimentação às atividades sociais e de lazer, passando pelas compras para a casa ou pela saúde. Os portugueses têm adaptado as suas decisões de consumo à medida que temem que o conflito arraste o mundo para um cenário nuclear”.

Mesmo com as dificuldades demonstradas, que levam 40% a dizerem não ter margem financeira ou poupanças que lhes permitam superar um agravamento da crise, 73% dos questionados concordam com as sanções à Rússia e são da opinião de que a União Europeia deve mantê-las, mesmo que afetem também as economias dos Estados-membros, diz a Deco.

“Conduzido em paralelo na Bélgica, em Espanha e em Itália, o estudo mostra que a conjuntura está a afetar uma importante proporção de europeus”, avança a associação de defesa do consumidor que dá outros dados: O receio de gastar dinheiro nestes tempos incertos foi uma das consequências que a guerra trouxe – 81% dos portugueses confirmam esta preocupação. No entanto, a proporção é muito mais baixa nos restantes países incluídos na análise, oscilando entre os 58% da Bélgica e os 63% de Espanha.

Além disso, 73% dos inquiridos garante que os seus hábitos de consumo foram afetados pela guerra. “Por exemplo, a alimentação tem sido uma das esferas mais afetadas pela inflação, com mais de metade dos inquiridos a escolherem marcas mais baratas no supermercado, como as das insígnias (53%), e com 40% a cortarem nos alimentos que não entendem como essenciais, como é o caso do álcool, dos doces e dos salgados”.

Mas não é só no supermercado que os portugueses são mais poupados, sendo-o também em casa com a água e a energia. 46% dos participantes afirmam desligar mais vezes os eletrodomésticos ou evitar usá-los. E até nas deslocações, metade dos inquiridos revelam usar menos o carro e 35% alegam fazer uma condução mais económica.

Juntam-se as atividades sociais, culturais e de lazer que “também sofreram uma redução prudencial e a compra de produtos de lazer e de vestuário está em compasso de espera ou foi mesmo cancelada”.

A Deco diz ainda que um em dez participantes tem passado por mais dificuldades quanto ao pagamento das despesas de educação dos filhos.

Para já, a saúde é a área em que os portugueses menos ajustes se dispõem a fazer. Segundo os resultados, os cuidados dentários, a compra de óculos ou aparelhos auditivos, as consultas e as sessões de psicoterapia têm sido adiados ou cancelados num moderado número de situações. De entre os inquiridos, 64% dizem-se ainda afetados no plano da saúde mental, com a maioria a estimar a continuação do aumento dos preços da energia (91%) e dos combustíveis (89%), duas variáveis que podem agravar o custo de vida.