“Vivemos um fascismo fiscal. Passos comparado com Costa é um menino de escola”

Eduardo Baptista Correia acena com 4.300 contribuições, entre taxas e impostos, em que cerca de metade dos nossos rendimentos vão para o Estado. E diz que muitas empresas não têm condições para subir salários porque ‘o dinheiro não estica’.

O presidente executivo do Taguspark lamenta a falta de estratégia do seu partido, o PSD, que, diz, levou o PS a conquistar a maioria absoluta. Para Eduardo Baptista Correia, a prova de fogo de Luís Montenegro são as próximas eleições europeias e, acredita, dois anos são suficientes para arrumar a casa. Considera que o PS_é especialista em manter-se no poder, apesar de não contribuir nem para a evolução do país, nem da economia, afirmando que são os portugueses quem paga a fatura, com carga fiscal elevada. E não hesita: «António Costa é um político astuto e hábil na obtenção e na manutenção do poder. É provavelmente o melhor político português nessa matéria, mas isso não serve para os portugueses, serve os interesses do Partido Socialista».

Como viu as eleições do PSD? Estava à espera da vitória de Luís Montenegro? Apoiou Jorge Moreira da Silva.

É natural que o trabalho de Montenegro estivesse facilitado. Estava há muitos anos a anunciar a intenção de presidir ao PSD e tinha um trabalho de terreno relativamente alicerçado. Moreira da Silva apareceu em cima e o resultado é natural face ao passado recente do modelo de eleição do próprio partido. Foi um resultado sem surpresas.

O que falhou em Moreira da Silva?

Falhou convencer a maior parte dos militantes que votaram e houve uma taxa de abstenção muito elevada – o que me choca, porque estamos a falar de um universo de pessoas interessadas na política,  são militantes de um partido. Agora, é a vez de Luís Montenegro e, apesar de não o conhecer e de não lhe ter manifestado o meu apoio – manifestei-o a Moreira da Silva – hoje a obrigação de todos os sociais-democratas é apoiarem Luís Montenegro e ver o seu primeiro objetivo cumprido, que é o partido ganhar as próximas eleições europeias.

Há vários dirigentes a dizer que a sua missão será unir e pacificar. Será assim tão simples tendo em conta a guerra interna dos últimos anos?

O PSD tem na sua génese essa oscilação. Lembro-me em criança dos tempos de Sá Carneiro e esses já não eram fáceis. E estamos a falar de Sá Carneiro, que supostamente era idolatrado. Mas, já nessa altura, tinha a vida difícil dentro do partido e era uma figura contestada. Essa conflitualidade está presente no ADN do PSD. Como se unem as organizações? Primeiro, com lideranças fortes que deem um bom exemplo. A primeira coisa que Luís Montenegro tem de fazer é dar um bom exemplo de inovação e de modernidade. Como se criam boas lideranças? Garantindo que o diferencial entre aquilo que é dito, que é defendido e aquilo que é feito represente o mínimo de diferença. Não há melhor liderança que o exemplo e só é possível unir através de uma excelente liderança. Ou seja, tudo depende da capacidade que Luís Montenegro terá para modernizar, para resolver. A forma como o PSD tem surgido ultimamente parece mais uma repartição pública do que um partido que deve ter na sua génese a modernização e a inovação da sociedade portuguesa.

Daí Miguel Albuquerque ter dito que o PSD tem de mudar quase tudo.

Não é preciso mudar quase tudo, se isso acontecesse é como se fizéssemos um partido novo. O que está em causa não é fazer um partido novo, nem é mudar as pessoas. O PSD, com os instrumentos e com os recursos que tem, deve perspetivar a sua vida para os próximos 10 anos. Precisa em muitas das suas áreas de atuação – não só na proposta política, mas essencialmente na forma como está organizada e na forma como aparece aos portugueses – tornar-se uma organização adaptada ao século XXI. E não surgir como uma organização que, no seu modelo de funcionamento, parece estar mais próxima do século XX, estando afastada de uma sociedade que está muito mais aberta, muito mais transparente e que ambiciona mais debate. O seu desafio passa pela regeneração de processos e sua simplificação. Não é fazer tudo de novo, não é deitar abaixo para construir de novo. É adaptar aquilo que é a história e o lado bom da história do Partido Social-Democrata, trazer a social-democracia contemporânea do século XXI para apresentar as suas propostas à sociedade portuguesa e  resolver os problemas que impedem a sociedade portuguesa de ser uma sociedade economicamente efervescente. Esse é o papel do PSD e  foi esse o papel que teve na década de 70 e de 80.

Nas últimas eleições teve um mau resultado e perdeu terreno para o Chega e para o Iniciativa Liberal.

Mas aí só se pode queixar de si próprio. O PSD tem sido muito lento na modernização da sua orgânica, dos seus processos, da sua mensagem. Isso é relativamente crónico na sociedade portuguesa, se olharmos para as estatísticas, desde 1974, houve 38 eleições entre autárquicas, legislativas e europeias e o PSD sozinho só venceu nove, enquanto o PS já venceu 24. Há que rever a matéria e tentar identificar onde estão as fragilidades sociais-democratas, de modo a que o partido que tem esta ambição de modernizar Portugal o possa fazer. Mas para isso tem de aparecer de uma forma muito atrativa e a atração em política é uma coisa difícil, porque o eleitorado desconfia dos políticos, desconfia das propostas. O eleitorado está descrente, daí termos uma taxa de abstenção e uma taxa de confiança nos políticos das mais baixas da Europa. Cabe ao partido perceber onde estão as suas fragilidades, adaptar a sua mensagem, a sua forma de funcionamento para que possa ser atrativo ao eleitorado moderno e para que não fujam para novas propostas.

Agora estará em condições para fazer uma forte oposição a um Governo de maioria absoluta?

Temos um PS que parece que não consegue sair do Governo e temos um país que tem estado a definhar. Se o PS é responsável pelo atraso do país, o PSD – mais grave quanto a mim – é responsável pelo seu próprio atraso. Temos um conjunto de importantes oportunidades que lhe são merecedoras de alguma reflexão, de algum pensamento estratégico, de modo a que possamos iniciar uma nova fase que nos levará até 2030/2040, em que o PSD possa apresentar à sociedade portuguesa um projeto social-democrata onde os portugueses possam confiar e rever-se.

O primeiro teste é em 2024 nas europeias. Tem dois anos para arrumar a casa.

Tem dois anos para organizar a casa e nem precisa de tanto. Os portugueses são difíceis de conquistar e o PSD sabe disso muito bem, mas uma vez conquistados – e são conquistados por uma mensagem, por uma ideia, por um estilo – são seguidores de líderes fortes. Luís Montenegro tem à sua frente um conjunto de oportunidades extraordinárias porque ao lado tem um concorrente que é o PS que não tem contribuído para o sucesso da economia portuguesa. Mas para isso tem de ser capaz de aproveitar essas oportunidades, de transformar o partido, de entender bem os desafios contemporâneos da sociedade portuguesa. As oportunidades por si só não chegam. 

Se daqui a dois anos as eleições correrem mal, poderemos assistir a novas disputas internas?

Isso é a vida das organizações: empresariais e políticas. Quem tem capacidade de apresentar resultados e de cumprir a sua missão fica e garante mais apoios, quem não é dá a vez ao próximo. E ainda bem que assim é, senão vivíamos em ditaduras, em autoritarismos que independentemente dos resultados se perpetuavam no poder. Vivemos numa democracia, com alguns indícios de mediocracia, mas isso é normal.

Tradicionalmente, o PSD concorre coligado com o CDS,  Nuno Melo já disse que quer ir sozinho…

Nuno Melo tem por missão gerir os destinos do CDS e obviamente quer dar prova de vida. Parece-me natural. Mas a preocupação social-democrata tem de ser essencialmente consigo próprio e não com os outros. Se formos capazes de gerir bem a nossa missão, então seremos capazes de ser atrativos ao eleitor. Se não formos, temos de andar sempre a fazer contas.

Diogo Pacheco Amorim disse recentemente que ‘com Montenegro, PSD e Chega podem estar mais perto de criar uma aliança’. Acha o mesmo?

O tema do Chega é um tema supérfluo para o PSD. É fundamental analisar a concorrência, mas muito mais importante do que a concorrência é focarmo-nos no que são os nossos pontos fortes versus as oportunidades que existem. O país precisa de uma alternativa clara e é imprescindível para o sucesso da sociedade portuguesa e da economia portuguesa para terminar com este ciclo socialista. Não é falar do Chega, nem do Iniciativa Liberal, nem do Partido Comunista, nem do Bloco de Esquerda.

Mas é o Chega a falar de possível aliança…

O que o Chega diz também não se escreve. Hoje diz uma coisa e amanhã diz o seu contrário.

Como vê o apoio de Cavaco Silva ao novo líder do partido. Não é costume um ex-Presidente da República fazer isso…

Quem sou eu para justificar ou interpretar as declarações do antigo Presidente da República. Penso que Cavaco Silva, como qualquer cidadão de bem e preocupado com os destinos do país, está preocupado com a criação de uma alternativa inovadora e sustentável. Nos seus direitos cívicos decidiu manifestar a sua opinião dando um aval que deve ser estendido a todos os que estão preocupados com o desenvolvimento da sociedade portuguesa a darem apoio a Luís Montenegro. E subscrevo, não podia ter outra atitude.

Mas não é comum esse apoio…

O facto de não ser comum só o torna ainda mais importante, porque está em causa a manutenção do atraso que Portugal tem vindo a assistir quando comparado com outros países europeus, em que se assiste ao crescimento do endividamento, ao aumento do jobs for the boys que o PS implementou naquilo que é a sua esfera de influência. Isso não tem contribuído para o desenvolvimento, nem para a melhoria das condições de vida dos portugueses. Tal como Cavaco Silva, estou preocupado essencialmente com Portugal e com os portugueses, para que possamos olhar para o futuro com alguma esperança e motivação adicional. Mas, para isso, é necessário rever o funcionamento da sociedade portuguesa e isso não será feito certamente por um Governo de esquerda. 

Vai ao encontro do que diz Cavaco Silva de que ‘Portugal pode fazer mais e melhor’…

Só é capaz de fazer mais e melhor quem saiba fazer mais e melhor. Este primeiro-ministro que participou toda a sua vida em Governos – já foi ministro de várias pastas, em vários Governos e dos piores que passaram pela democracia portuguesa – já demonstrou a sua incapacidade para gerar reformas. É um político astuto e hábil na obtenção e na manutenção do poder. É provavelmente o melhor político português nessa matéria, mas isso não serve para os portugueses, serve os interesses do PS, no que diz respeito à perpetuação no poder. Em relação à capacidade reformista que é absolutamente imprescindível já vem com atraso de décadas e já provaram que são incapazes.

Diz que é necessário melhorar a qualidade de vida dos portugueses, mas a guerra e a inflação não tornam estes tempos fáceis.

Podemos olhar para os problemas, mas mais vale olhar para as nossas capacidades e oportunidades. Digo isto há anos: somos o maior detentor de zona económica marítima e Portugal tem no seu espaço marítimo e aeroespacial uma oportunidade única na Europa para ser um país muito importante na economia oceanográfica e na economia marítima, no desenvolvimento de soluções de investigação, de soluções militares, de defesa que geram  investigação, produção industrial, emprego qualificado e capacidade diplomática no mundo. Enquanto continuamos a olhar para o poder executivo como um instrumento de proteção de interesses muito circunscritos e de jobs for the boys é impossível o país desenvolver-se. Ninguém sabe o que o país quer ser quando for grande. Quem tem essa responsabilidade: os detentores do poder executivo, ou seja, o Governo, o primeiro-ministro e o seu clube de ministros que não têm uma ideia do que querem para Portugal.

Acha que é falta de ambição, de estratégia ou desinteresse?

Acho que se deve muito à permissividade dos portugueses para com os políticos portugueses. Os portugueses têm tido uma paciência enorme com os políticos. Há muito que perdi a paciência para um conjunto de pessoas que falam, falam, prometem, aliás têm a lata de prometer que vão fazer um conjunto de coisas e não fazem um décimo. E depois assistimos a este alinhamento entre políticos, boys, poder público fortíssimo e uma carga fiscal fascizante – temos 4.300 contribuições, entre taxas e impostos – em que cerca de metade dos nossos rendimentos vão para o Estado.

E muito assente em impostos indiretos e que se reflete no Orçamento de Estado entretanto aprovado.

É um fascismo fiscal. Falam muito do Governo de Passos Coelho na forma como criou impostos, mas quando comparado com o Governo de António Costa, Passos Coelho é um menino de escola primária no que diz respeito à cobrança de impostos. Agora, é evidente que os socialistas são extraordinariamente bons na encenação e como as pessoas veem Big brother, os casamentos não sei o quê, ou seja, veem um conjunto de entretenimento, em vez de lerem mais, em vez de se preocuparem mais com o seu quotidiano. Os portugueses  estão muito afastados de um espírito critico que não é fundamentado no nosso sistema educacional. Andamos todos a conviver no meio desta paz podre.

E quanto mais novos são mais afastados estão da política…

São gerações que têm nascido num ambiente relativamente confortável e depois não há da perspetiva da oferta política nenhuma que seja atraente a estas novas gerações. Há uma frase que ouvi há uns tempos de um aluno meu que o seu avô lhe tinha transmitido e reflete bem esta fase que estamos a atravessar: tempos difíceis fazem pessoas fortes, pessoas fortes fazem tempos fáceis, tempos fáceis fazem pessoas fracas, pessoas fracas fazem tempos difíceis.

Quando disse que Passos Coelho era um menino da escola primária quando comparado com António Costa isso revela que há cegueira por parte dos portugueses?

Há algo crónico na sociedade portuguesa: quando são Governos não socialistas a implementar esse tipo de medidas, há greves – são sempre os mesmos a fazer greve, aliás são os instrumentos do Partido Comunista – parece que a casa vem abaixo. Quando é o PS lava mais branco. E faz exatamente a mesma coisa.

Mas agora não há ‘geringonça’…

Mesmo assim há sempre uma simpatia adicional. Quando o Partido Comunista esteve na ‘geringonça’ não houve greves, houve paz social. Ainda há indícios na sociedade portuguesa do PREC que constituem entraves aos aumentos dos salários mínimos e ao aumento dos rendimentos dos portugueses. Estamos a funcionar mais com as regras da década de 70 do século XX, do que com as regras da terceira década do século XXI.

 

No caso dos impostos isso reflete-se no aumento do preço dos combustíveis. Portugal já paralisou e tinha preços mais baixos face às atuais.

Se fosse um Governo não socialista, o país estava parado, carregado de bandeiras vermelhas por todo o lado. Tínhamos greves de fome, metro,  autocarros,  camiões parados, função pública parada, escolas paradas, tribunais parados, hospitais parados, o país tinha parado. Enquanto não acabarmos com esta forma criminosa de gerir a economia portuguesa não avançamos. Há uma amplitude criminosa do Partido Comunista em atrasar a economia portuguesa e são os portugueses que continuam a pagar esta fatura.

Como vê o pedido de António Costa às empresas para aumentarem os salários em 20%?

António Costa é um bocadinho como André Ventura, mas um bocadinho mais polido. Diz o que lhe vem à cabeça e o que lhe parece mais conveniente. Não levo a sério o que António Costa diz e os portugueses também não o deveriam levar.

Mas deram-lhe maioria absoluta…

Conheço muito social-democrata que votou PS com medo de ter Rui Rio como primeiro-ministro. Não foi mérito de António Costa, foi demérito do PSD. Não tenho nenhumas dúvidas em afirmar que Rui Rio atrasou o desenvolvimento do país porque atrasou o aparecimento de uma alternativa credível. E entre o original mau e uma imitação má, as pessoas optaram pelo original. 

E os resultados continuam à vista: fraca competitividade e produtividade…

Isso prepara-se com estratégias a cinco, 10, 15, 20, 30 anos. A competitividade de um país prepara-se com uma estratégia clara que seja conhecida e partilhada por todos ao longo de vários anos. Não é preciso ir muito longe, basta ver o que aconteceu em Oeiras. Temos um ecossistema onde 1,7% da população contribui para 12-13% do PIB. É só ver o que foi feito: estratégia de longo prazo. Não é possível transformar nada, nomeadamente macro estruturante que é um país, sem uma visão conhecida e partilhada por todos. Quando não sabemos o que queremos ser cada um vai para o seu lado. Como é possível construir alguma coisa de novo sem que ninguém saiba para onde vai?

O exemplo de Oeiras devia ser replicado por outras autarquias?

Não. Oeiras teve um processo, a ideia é replicar o processo, não o modelo. Cada um  tem de adaptar o seu modelo às suas realidades e ao seu tempo, agora há processos que estão mais do que estudados. A Irlanda fez isso. Se formos mais atrás vimos que a Alemanha e o Japão fizeram isso e estavam absolutamente endividados e destruídos a seguir à segunda Guerra Mundial. Ainda não passaram 80 anos e, desde há várias décadas, que cada um desses dois países está na linha da frente como principais potenciais económicas mundiais. É só estudar um bocadinho, é só querer aprender um bocadinho. Mas esta gente fala como se parecesse saber tudo e que tem as soluções todas. Já demonstraram inúmeras vezes que não são capazes. São profissionais e pós-douturados em obter poder. Têm uma atração fatal pelo poder. Não sabem ter poder, porque não sabem o que fazer com ele, pois não foram preparados para isso, foram preparados dentro dos partidos políticos, nas guerras internas.

Mas a maior Câmara do país está mais preocupada com os radares e com as ciclovias do que em desenvolver o tal processo de desenvolvimento…

Ainda é um bocadinho cedo para comentar o trabalho da Câmara de Lisboa. Mas admito que não se tem visto grandes mudanças. Também não está a ser fácil a vida de Carlos Moedas por não ter maioria e nota-se que a cidade está um bocadinho mais suja. Há uma incapacidade de mobilizar as tais forças de esquerda que estão contaminadas por longos anos do PS e do PCP, mas para isso é que servem os líderes, caso contrário tínhamos um funcionário a gerir a câmara. A diferença entre um funcionalismo e a liderança é precisamente essa: os líderes têm de ser capazes de transformar as organizações e de não estarem à espera que as organizações adiram em automatismo à sua visão. Em Portugal temos cada vez mais incentivos a não fazer do que a fazer.

E isso vê-se pelas queixas dos empresários que falam da falta de mão-de-obra e que os inscritos no Centro de Emprego não aceitam as ofertas de trabalho…

Os Lusíadas dizem muita coisa sobre a nossa cultura. Abrem a enaltecer o espírito, pelo meio aparece o velho do Restelo e última palavra é a inveja. A sociedade portuguesa anda um bocadinho aí. Quando temos um Estado que permite este tipo de situações é um Estado que demonstra claramente que aceita que não se faça nada em Portugal. E, mais uma vez, são os portugueses que pagam isto tudo: com cada vez mais impostos e com cada vez mais atrasos. Estão cada vez mais estrangulados na forma como gerem com o sócio maioritário que é o Estado. E depois poder-se-ia dizer o seguinte: a saúde fornecida pelo Estado é mais barata e mais acessível? Não. É mais cara e com maior dificuldade de acesso. Os médicos e os restantes profissionais de saúde são menos bem pagos do que no privado. Temos um sistema de educação público brilhante? Não. Temos um conjunto de transportes públicos, rodoviários e ferroviários fabulosos? Não, a linha de Cascais e de Sintra são uma vergonha. A principal zona metropolitana do país tem uma oferta ferroviária feita por Salazar. O ministro das Infraestruturas ainda anda a viver à custa de Salazar, mas aparece como se fosse um expert nas matérias. É ridículo. Já nem mete pena, mete medo. Esta gente mete medo.

E como vê o impasse em torno do novo aeroporto e do projeto de alta velocidade?

É ridículo. Estamos em 2022 e vamos recuar à década de 90 e pensar como imaginaríamos o país este ano. Alguém imaginaria que não seria possível ter um comboio hiper rápido a Leiria, Santarém, Beja ou Évora? Estamos a brincar. E depois vivemos todos ao monte em Lisboa e Porto porque quem mora em Évora, a 100 kms de Lisboa, vive numa hiper periferia e demora horas de transporte público de Évora a Lisboa. Não dá para viver em Évora e trabalhar em Lisboa, mas se tivéssemos comboio rápido que demorasse meia hora já não seria assim. Já viu a capacidade que teríamos em levar desenvolvimento ao país, de integrar, de ter estratégia de movimento? Depois temos autoestradas vazias e pagamos portagens brutais. Isto parece um país gerido por maluquinhos. E o que é giro é que são sempre os mesmos em cena: o atual presidente da Assembleia da República anda cá há anos, nas crises, a defender Sócrates. O primeiro-ministro a mesma coisa. Não fazem a mais pequena ideia do que devem fazer com o poder em prol da aquilo que é a função dos políticos no exercício dos cargos e na defesa da melhoria das condições de vida das pessoas.

Mas já houve urgência em resolver o dossiê da TAP…

O problema é que a TAP é mal gerida. Sou passageiro da TAP e muito me custa dizer isso. Todos deveríamos ter orgulho nas nossas companhias, nas empresas portuguesas. O problema é que são mal geridas porque são geridas sempre com o espírito de que alguém vai financiar. E o alguém quem é? Os impostos dos portugueses. A TAP tem de ser gerida por quem saiba gerir empresas. E quem sabe gerir não está à espera do dinheiro do Estado, principalmente quando estamos em ambientes altamente competitivos e quando ao lado há um conjunto de outras empresas que fazem o mesmo serviço por preços mais reduzidos e que dão lucro.

Sem contar com a pressão dos sindicatos…

Os sindicatos são o problema do país. Acabava com os sindicatos num instante, mas no sentido de perderem sua a importância, no dia em que fossem colocados empresas, como membros representantes dos trabalhadores no conselho de administração, em que dividimos os resultados das empresas pelo capital, pelo management e pelos trabalhadores, no dia em que liberalizarmos de uma forma sensata o despedimento. Quanto tornarmos o nosso sistema mais meritocrático acaba-se a importância dos sindicatos. Acaba-se a importância do Partido Comunista porque os sindicatos são controlados pelo PCP. Os sindicatos são um instrumento do PREC, se estivessem ao serviço dos trabalhadores, o salário mínimo em Portugal não era o que agora. Os sindicatos o que fazem é gerirem a pressão política do Partido Comunista. É mais uma farsa, cabe à sociedade portuguesa evoluir nas relações laborais, na distribuição dos resultados pelos trabalhadores. No Taguspark aumentei o salário dos funcionários dos nossos prestadores que recebiam o salário mínimo para mil euros. Isso faz-se fazendo, não é faz-se dizendo. Se fosse assim já tínhamos três ou quatro aeroportos, um TGV até Paris, já tínhamos a economia mais desenvolvida da Europa.

Muitas empresas alegam que não têm condições para aumentar…

Claro. Têm asfixia fiscal. Com o que as empresas pagam ao Estado como podem pagar aos seus trabalhadores? O dinheiro não estica.

Disse que com o fim dos sindicatos o PCP desapareceria. Nas últimas eleições já tiveram resultados muito baixos…

Mas não desaparece, é como aquelas doenças crónicas da economia portuguesa.

E em relação ao PRR? Será a nossa tábua de salvação como tantos dizem?

O PRR tem 300 bandeiras, bem à moda do Partido Socialista. Dizem o que lhes vem à cabeça. O PRR é a solução para tudo, quando são 4,5 euros por português. O PRR é conversa para quem não faz duas contas, para quem vê excesso de Big Brother. O PRR vai ser a solução para a digitalização, para a economia do mar, para a reforma do Estado? Não pode. Oeiras faz um PRR e meio por ano.

E depois não conseguem executar…

É tão ridículo que não conseguem pôr a máquina a funcionar para ir buscar esses trocos. O PRR são trocos, mas nem esses trocos em termos de competência de processo somos capazes de executar. A cultura portuguesa adora papelinhos, dossiês. Vivemos num país burocrata e fiscal. Depois o resto alguém que resolva. Mas o problema é que quem vem atrás são exatamente os mesmos. É urgente retirar os socialistas do poder, mas isso só é possível com uma oferta política inovadora e clara.