Quem é quem na nova direção do PSD?

Luís Montenegro é, oficialmente, o novo líder do PSD. Depois do 40.º Congresso, ficou a conhecer-se quem será o núcleo duro do antigo chefe de bancada parlamentar social-democrata na direção do partido. De Carlos Moedas a Paulo Rangel, Montenegro elegeu uma equipa diferenciada, com sabores do passismo em força, mas também de rioísmo.

Joana Mourão Carvalho e José Miguel Pires

Luís Montenegro – O Unificador

O novo presidente do PSD tentou demonstrar desde a primeira hora que queria reconstruir a unidade do partido. A um dia do Congresso, promoveu Joaquim Miranda Sarmento, o coordenador da sua moção estratégica – que  noutra vida foi o ‘Centeno de Rio’ –, como candidato à liderança da bancada do PSD. 

Depois, conseguiu simular a reconciliação com Rui Rio, entrando lado a lado com o antecessor no Palácio de Cristal. Apelando ao toque a reunir, chamou todos os que saíram desapontados em eleições internas anteriores para cargos de relevo e nenhum faltou à chamada. 

Para número dois do partido escolheu Paulo Rangel. O candidato que ficou mais próximo de derrotar Rio em diretas é agora o primeiro vice-presidente da direção de Luís Montenegro. Miguel Pinto Luz que atrapalhou a corrida de Montenegro à liderança do partido, seu adversário na primeira volta de 2020, também virou ‘vice’. 
Nem Carlos Moedas escapou. Apesar de ainda estar agarrado aos lisboetas e ter rejeitado qualquer cargo executivo, acabou a encabeçar a lista ao Conselho Nacional. O autarca aceitou um lugar que é simbólico, a partir de agora será um mero conselheiro nacional do partido.

Pedro Passos Coelho, ainda que ausente no Congresso, foi reavivado. Na lista ao Conselho Nacional, além de Moedas, Montenegro colocou duas ex-ministras dos governos de Passos em segundo e quarto lugar: Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças, entre 2013 e 2015, e Teresa Morais, ministra da Cultura, Igualdade e Cidadania no curto Governo que a ‘geringonça’ derrubou, entre outubro e novembro de 2015.

Fazer oposição fora do Parlamento, será o primeiro desafio de Montenegro. Além do gabinete na sede do partido, na São Caetano à Lapa, sabe o Nascer do SOL que o líder do PSD já tem gabinete na Assembleia da República desde quinta-feira, dia em que reuniu com a bancada parlamentar. De resto, vai avançar com uma espécie de tournée pelo país em que, todos os meses, passará uma semana num distrito diferente do país e nas regiões autónomas.

Hugo Soares – O fiel escudeiro

Rangel é formalmente o número dois, mas Hugo Soares será a segunda figura mais influente,  a seguir a Montenegro, neste novo PSD. Aos comandos do aparelho, vai ser uma espécie de extensão do presidente no cargo de secretário-geral do partido. O antigo líder parlamentar de Pedro Passos Coelho, que foi afastado por Rio, sucede a José Silvano, mas também encarna o papel de Salvador Malheiro.

Braço direito de Montenegro na campanha interna, o bracarense foi uma das peças mais importantes no terreno. E agora concentrará todas as negociações do PSD, nomeadamente ao nível das várias estruturas do partido.

Se conseguir aguentar-se no cargo durante quatro anos, ganhará mais relevo a nível e interno, o que lhe permitirá sonhar mais alto nas suas ambições políticas.

Paulo Rangel – O trunfo nas Europeias

A escolha de Paulo Rangel para número dois na direção do partido vem com as suas vantagens. Montenegro ao trazer para o seu flanco um dos eurodeputados mais experientes do país assegura um potencial e forte candidato naquele que será o seu derradeiro teste na liderança do PSD, as eleições europeias de 2024. Por outro lado,  pode sempre partilhar responsabilidades nesse resultado com o seu ‘vice’.

Mas nem tudo são presentes envenenados. Rangel também poderá sair beneficiado: agora num cargo de relevo no partido, tem o futuro em aberto. Seja como eurodeputado em Bruxelas, a fazer sombra a António Costa na União Europeia, ou como ministro se Montenegro chegar ao poder, estará na linha da frente do partido em qualquer um destes cenários.

Miguel Pinto Luz – o inimigo 'vice'

Miguel Pinto Luz – vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais e antigo Secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações – foi um dos nomes apontados a uma eventual candidatura à liderança do PSD, e apesar de fazer agora parte da ‘equipa’ de Luís Montenegro, em 2019 estava na barricada contrária. Nas eleições diretas do partido que decorreram nesse ano, Pinto Luz enfrentou-se a Luís Montenegro e a Rui Rio, acabando por ser eliminado na primeira volta do sufrágio interno do partido.

Agora, é um dos vice-presidentes do partido, no qual se ‘respira’ «ar mais oxigenado», e não hesitou em disparar farpas logo no seu discurso no 40.º Congresso do partido. «Este é um PS de ministros bazófias», disparou o também presidente da Fundação Alfredo de Sousa.

Pedro Reis – o senhor 'estados gerais'

Inicialmente apontado para a vice-presidência do partido, Pedro Reis acabou por se escolhido para ocupar o cargo de coordenador do Movimento Acreditar, uma plataforma que pretende aproximar o partido  da vida pública e da sociedade, como se se tratasse de uns ‘estados gerais’ do PSD.

O antigo presidente da Agência para a Internacionalização da Economia e ex-mandatário do PSD/CDS nas eleições europeias de 2014 é agora o ‘homem do leme’ desta equipa, que tem como primeira missão as europeias de 2024 e, depois, as legislativas de 2026. 

Pedro Reis é membro do núcleo duro de Montenegro, ocupando um assento na Comissão Permanente do PSD, e terá agora de trabalhar em conjunto com Pedro Duarte, líder do Conselho Estratégico Nacional do partido.  

Balseiro Lopes – a cara da juventude

Ex-deputada e antiga líder da Juventude Social-Democrata, Margarida Balseiro Lopes, de 32 anos, é uma das figuras do partido escolhidas por Luís Montenegro para a vice-presidência do partido. 

É a cara de uma aposta do novo líder social-democrata na renovação geracional da estrutura política, que traz assim figuras mais jovens do partido para os centros de decisão – junto, por exemplo, o ex-deputado António Leitão Amaro.
Apesar da tenra idade, Balseiro Lopes conta já uma larga experiência política, e, para além da questão geracional, é também, uma ‘quebra’ com a gestão de Rui Rio do partido. Afinal de contas, a antiga deputada abandonou o hemiciclo precisamente graças às divergências que tinha com o antigo presidente do PSD, agora afastado da direção do mesmo.

Carlos Moedas – a fibra de líder

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa foi abençoado com um cargo meramente simbólico enquanto conselheiro nacional. Montenegro precisava de Moedas para mostrar que era capaz de promover a unidade, sobretudo com aquele que é um dos maiores ativos do partido e que chegou a ser apontado como possível candidato à liderança do partido. 
O seu histórico a vencer eleições faz de Moedas o verdadeiro challenger de Montenegro numas eventuais futuras eleições internas, e o facto de estar sufiecientemente afastado da direção permite-lhe distanciar-se de eventuais fracassos.

Secretário de Estado Adjunto de Passos Coelho, entre 2011 e 2014, o autarca lisboeta é também uma ‘lufada’ de ‘passismo’ numa direção que junta figuras das várias correntes políticas do partido ‘laranja’.