João de Almeida Bruno por Rui de Azevedo Teixeira

Conheci o general Almeida Bruno em 2000, no Instituto de Defesa Nacional, no I Congresso Internacional – A Guerra Colonial: Realidade e Ficção, que realizei. O à-vontade, o saber e o tom de mando marcaram a sua intervenção.

Por Rui de Azevedo Teixeira, Professor universitário aposentado

Conheci o general Almeida Bruno em 2000, no Instituto de Defesa Nacional, no I Congresso Internacional – A Guerra Colonial: Realidade e Ficção, que realizei. O à-vontade, o saber e o tom de mando marcaram a sua intervenção.

Mais de dez anos passados, no fim da apresentação de Homem de Guerra e Boémio – JAIME NEVES por Rui de Azevedo Teixeira, na FNAC-Colombo, o general convidou-me a integrar o grupo que viria a ser conhecido como ‘O Bando dos Cinco’ (comandante A. Calvão, que já conhecia, A. Bruno, vice-almirante J. Carvalheira, professor Â. Lucas e eu próprio). Tornei-me então seu amigo. Nos almoços mensais do Bando, o ascendente de Calvão não impedia Bruno de ser o grande centro da mesa.

O seu riso era contagiante e as suas histórias variadas e quase sempre divertidas. Entre elas, o ‘Bruno’ que vinha de um bandido italiano que se casou com a Marquesa de Silves; um avô, barbeiro do rei, que se passeava por Campo de Ourique de Rolls-Royce ou uma mãe belíssima que fumava charuto e morreu queimada no quarto por adormecer sem ter apagado o tabaco.

O pai era um homem rico, com uma fazenda no norte de Angola, onde o João Bruno foi «muito feliz» na infância. Casou-se segunda vez, após ter enviuvado. Teve sete filhos e muitos netos. Não lia poesia por «traumatismo craniano», por lhe ter sido «mais difícil encontrar o complemento direto nas estrofes de Os Lusíadas, do que turras nas matas da Guiné». Finda a nossa última guerra em África, continuou com os tiros, agora como caçador no Alentejo, com Roquete e Olazabal, entre outros.

Do seu estupendo, se não mesmo inultrapassável, currículo, destacaria: duas comissões em Angola, «por imposição», e duas na Guiné Portuguesa, «por designação»; Comandante do Batalhão de Comandos e Chefe do Centro de Operações Especiais na Guiné, em 1971-73; Chefe da Casa Militar do Presidente da República; Comandante Geral da PSP; presidente do Supremo Tribunal Militar e Membro do Conselho de Estado. Foi ainda membro do Conselho Fiscal do Benfica (tendo sido sondado para presidente do SLB) e assessor da Indra Sistemas SA.

Condecorado por vários países, como a Alemanha, o Brasil, a Itália ou o Reino Unido, que lhe deu o título de Cavaleiro Comandante da Ordem do Império Britânico. De Portugal, recebeu, entre muitas outras distinções, 2 Cruzes de Guerra, a Medalha de Prata de Valor Militar com Palma e a de Oficial, com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada. Sobre a Torre e Espada, num banquete de Estado em Buckingham, o Príncipe Filipe de Edimburgo, em francês, disse ao general de 4 estrelas que também a tinha, mas, apontando para a Palma, ‘mais sans ça’.

João Bruno, nome de guerra ‘Pantera’, era o spinolista por excelência, um militar da mais dura direita. Esteve preso no Forte da Trafaria, pela participação no Movimento das Caldas (ironicamente libertado no preciso dia 25 de Abril), e em Caxias, por envolvimento no 11 de Março (de 30.7 a 29.10 de 1975). Não foi um vira-casacas, mas também podia ser um homem de vistas largas: «Um dos dois ou três melhores, senão o melhor, dos meus capitães, foi o Carlos Matos Gomes, o ‘Bombox’, um esquerdista!», ou «Gostei muito do Cão Como Nós, do meu ‘inimigo’ político Alegre». Reuniu-se com chefes da Mossad, em Israel, do MI5 e do Pentágono. Considerava a colonização portuguesa bem mais ‘suave’ do que a ‘colonização Winchester’ do que viriam a ser os EUA.