António Costa impos a sua vontade e Paulo Macedo foi obrigado a ceder, sendo que, por isso, a Caixa Geral de Depósitos vai mesmo ter de abandonar o edifício na Av. João XXI, em Lisboa, e procurar nova localização para a sua sede.
Ao que o Nascer do SOL apurou, o CEO do banco público ainda tentou convencer o primeiro-ministro a deixá-lo ficar com parte das instalações, mantendo aí a administração e os serviços centrais da Caixa, com um total de 1.200 trabalhadores, em vez dos atuais 3.200. Mas António Costa não se deixou convencer, reclamando o edifício todo para o Governo e para os organismos centrais da Administração Pública.
O Nascer do SOL sabe que o gabinete do primeiro-ministro ocupará o último andar – que foi até sempre ocupado pela cúpula da Caixa Geral de Depósitos.
E apurou também que os dois primeiros Ministérios a mudarem-se para a atual sede do banco público são o da Economia e o do Ambiente.
No caso do Ministério liderado por Costa Silva, que arrenda o palecete que ocupa na Rua da Horta Seca ao IAPMEI, trata-se de uma boa notícia para este organismo público. Isto porque recebia apenas 13 mil euros de renda mensal e, tendo o palacete sido incluído no programa Revive, conta arrecadar entre 800 mil a um milhão de euros por ano (se arrendar o local para um hotel de charme, por exemplo).
A ideia de António Costa é juntar todos os Ministérios no novo espaço até ao final deste ano, mas, dada à complexidade da mudança, admite-se que o prazo poderá derrapar. Aliás, isso já foi reconhecido pela própria ministra da Presidência, quando afirmou que o calendário poderá ser mais demorado, «porque exige que as pessoas que atualmente trabalham no edifício tenham outro edifício para trabalhar».
De fora, ficarão apenas o Ministério das Finanças, que resistiu a sair do Terreiro do Espaço, assim como o da Defesa (que continuará no Restelo), o da Justiça (que continuará na Praça do Comércio) e o dos Negócios Estrangeiros (que não deixa as Necessidades).
Ao Nascer do SOL, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD (STEC) também reconhece que o banco público tem mesmo de sair da sua sede, sem adiantar timings, mas lembra que o piso zero do edifício já conta com alguns serviços do Governo, apesar de ser ainda tudo «muito residual».
Já em relação ao futuro espaço, Pedro Messias não hesita: «Essa é a pergunta de um milhão de euros. Ou ainda não está nada decidido ou está tudo no segredo dos deuses». Ainda assim, mostra-se reticente em relação à solução que poderá ser encontrada, uma vez que, não vê nenhum edifício disponível que consiga a albergar a totalidade dos trabalhadores. «Uma das hipóteses é voltar à solução que existia antes de 1993, altura em que foi inaugurada a sede da Caixa, em que havia serviços localizados nuns espaços e outros em outros. Ou seja, estava tudo disperso e que acabou com a ida para a João XXI».
Para já, o responsável afasta a necessidade de saída de mais trabalhadores apenas pela mudança de espaço. «Não poderão ser postos em causa os postos de trabalho, apenas com o argumento que não há um edifício para albergar os trabalhadores todos», lembrando que na última década já saíram mais de 3.200 trabalhadores (ver texto ao lado) como também recusa a ideia de sair da cidade de Lisboa ou ser o banco público a assumir o custo da construção de um novo espaço. «Poderão haver várias soluções, desde que não penalize os trabalhadores, mas acredito que haja alguma pressa na tomada de decisão e o mais certo é dispersar os serviços», salienta.
Secretarias-gerais incluídas
A reinstalação dos serviços do Governo no edifício da sede da Caixa Geral de Depósitos foi avançada pelo Nascer do SOL, ainda antes da tomada de posse do novo Executivo, em fevereiro, com a ideia de que a concentração dos serviços «permitiria muitas sinergias, uma melhor articulação do trabalho em equipa e poupar muitos recursos ao nível do funcionamento da ação do Governo», além de «permitir a centralização dos serviços dos vários ministérios num único edifício».
Esta ideia acabou por ser confirmada quase um mês depois pelo próprio primeiro-ministro. «Esta alteração de modelo funcional permitirá a redução de dezenas de cargos e serviços intermédios», explicou na altura.
O projecto de reinstalação, sabe o Nascer do SOL, passa ainda pela transferência para o edifício da João XXI também de todas as secretarias gerais dos Ministérios (excluindo os quatro que se manterão fora).
Já em junho, a ministra da Presidência voltou a frisar que esta mudança tem como finalidade o aumento da sua eficácia: «Quando duas equipas ministeriais precisam de fazer uma reunião isso muitas vezes implica atravessar a cidade. Isso deixará de acontecer».
Em relação aos gastos deste projecto de reinstalação, Mariana Vieira da Silva explicou que «a contabilização dos ganhos depende do ritmo de ocupação do edifício e da forma como é ocupado», sublinhando que «como não poderia deixar de ser, será público, conhecido e passível de ser debatido», revelou numa entrevista ao Público e à RR.
De acordo com a número dois do Governo, o objectivo passa por fazer da João XXI «o edifício sede do Governo e dos organismos centrais da Administração Pública».
Recorde-se que o banco realizou obras no edifício nos últimos anos para recuperar alguns dos pisos que estavam em piores condições. Em maio, durante a apresentação de resultados do primeiro trimestre, Paulo Macedo chegou a reconhecer que se justificava para os serviços centrais do banco ocupar todo o espaço e, daí, fazer sentido em arrendar e em partilhar os encargos. «Este edifício de 90 mil metros quadros não se justifica para os serviços centrais. Há vontade da Caixa em ocupar um espaço menor dos que os 90 mil metros quadrados», disse, na altura, mas estando longe de saber que os próprios serviços do banco seriam obrigados a abandonar a totalidade o espaço.
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