Angola. Presidente brinda ao penta e promete governar sem a UNITA

João Lourenço brindou com champanhe a quinta vitória do MPLA e afastou a possibilidade de uma geringonça no seu Governo. O Presidente reeleito fez uma leitura sui generis dos resultados de 1992 com os de 2022.

Em Angola, ou melhor dizendo, na cabeça de João Lourenço, os números são muito variáveis e podem ter duas leituras completamente opostas. Ao anunciar, na sede do MPLA, a vitória do partido nas eleições de 24 de agosto, o reeleito Presidente, quando questionado pela jornalista portuguesa Cândida Pinto sobre a pior resultado do MPLA em eleições, teve uma resposta verdadeiramente hilariante. João Lourenço negou que tenha sido a vitória mais sofrida do seu partido, com 51,17%, já que em 92, nas primeiras eleições livres, o MPLA teve 53%! 

E disse-o com toda a convicção, mostrando até algum desagrado por a jornalista não saber fazer essa conta… O Presidente reeleito aproveitou mesmo para dizer que a vitória, a quinta, merece ser festejada com cinco garrafas de champanhe, brindando de seguida com os seus companheiros de partido.

Na mesma conferência de imprensa, João Lourenço afastou a hipótese de existir alguma geringonça no seu Governo, pois o MPLA obteve uma maioria absoluta e não necessita do apoio da UNITA para decidir os destinos do país.

Questionado sobre a derrota estrondosa em Luanda – a UNITA teve quase o dobro dos votos -, João Lourenço defendeu que as eleições não eram municipais nem regionais e que o povo votou para a Presidência da República e para os deputados na nação. “Tratando-se de eleições gerais, este mandato do Povo que é soberano, confere ao MPLA o direito e obrigação constitucional de, o seu candidato, ser investido nas vestes de Presidente da República de Angola, formar o Executivo nomeando os Ministros e Secretários de Estado, os Governadores de todas as 18 províncias, assim como todos os Administradores municipais”.

Antes do anúncio oficial da Comissão Nacional Eleitoral, Adalberto Costa Júnior tinha dito à CNN Portugal que espera que os resultados sejam devidamente certificados, ficando à espera que a CNE divulgue as atas síntese das assembleias de voto para poder confrontar esses resultados com os que têm em seu poder. Como já se explicou, as assembleias de voto fazem uma ata síntese no final da votação, dizendo quem foram os vencedores e os que cada partido alcançou. E são esses documentos que que a UNITA quer confrontar, já que só pode existir um. Isto é: se as atas sínteses que foram divulgados pelos membros das assembleias de voto não corresponderem com os dados da CNE, algo está mal, pois o documento só pode ser o mesmo.

UNITA admite ir para a rua Vivendo Angola um momento de grande tensão, Adalberto Costa Júnior, admitiu na entrevista ao canal português, que os militantes da UNITA têm o direito de manifestarem o seu desagrado, remetendo para o partido do Governo a responsabilidade de um aumento da escalada de violência, até porque quem tem armas são as forças armadas e as polícias. “A constituição de Angola é clara, não proíbe o direito à manifestação do seu povo. Se alguém entender usar, este é um direito constitucional. Um direito constitucional que não pode, em circunstância alguma, receber pressão”, disse, acrescentando: “Temos a noção de que estamos a lidar com um partido de Estado, que pensa que a governação é uma herança permanente, e não é. Um partido arrogante, que nos foi mostrando falta de humildade, falta de diálogo”.

Menos dez pontos percentuais de eleição em eleição Os resultados apresentados ontem pela Comissão Nacional Eleitoral revelaram o que já se sabia. O MPLA está a perder dez pontos percentuais de eleição em eleição. Em 2012 obteve cerca de 71%, em 2012 ficou-se pelos 61% e agora parou nos 51%. Se em 2012 conseguiu o votos de 4 135 503 no passado dia 24 atingiu ‘apenas’ 3 209 429. Um partido que está a perder apoio popular, apesar de, segundo os resultados oficiais, continuar com maioria absoluta. Certo é que todos estão à espera do que fará a UNITA, sabendo-se que a capital de Angola está fortemente policiada, para a eventualidade de confrontos na rua. Algo que todos rejeitam e ninguém quer. Os angolanos estão fartos de guerra na sua vida.

PCP defende MPLA e ataca Portugal Quem não perdeu tempo a colocar-se ao lado do partido de João Lourenço foi o PCP. “O PCP felicita o MPLA pela vitória nas eleições gerais realizadas a 24 de Agosto, com a eleição da maioria dos deputados na Assembleia Nacional e de João Lourenço como Presidente da República de Angola. Um resultado que, nas complexas condições em que tiveram lugar estas eleições, expressa o reconhecimento por parte do povo angolano do percurso histórico e papel fundamental desta força política na conquista da independência nacional, na defesa da soberania e da integridade territorial de Angola face à agressão do regime do apartheid, na conquista da paz e da reconstrução nacional no seu País”. Os comunistas vão ainda mais longe sobre a ligação e culpa de Portugal em relação a Angola. “O PCP denuncia as operações de ingerência que a partir de Portugal procuram, uma vez mais, promover a desestabilização em Angola. O PCP expressa os melhores votos de sucesso ao povo angolano no caminho da concretização dos ideais que estão na origem do percurso libertador iniciado em 1961, através da superação de problemas e dificuldades e da construção de uma Angola soberana, de paz, desenvolvimento e progresso social”.

Leitura mais diferente não podia ter o Chega. “Esta era uma importante oportunidade para a mudança acontecer em Angola, após décadas de exercício de poder absoluto e pouco democrático pelo MPLA, com resultados devastadores em termos de pobreza da população, corrupção das instituições e desaceleração nos índices de desenvolvimento humano daquele país. Lamentamos, pois, que essa oportunidade pareça ter sido, para já, desperdiçada”. Dizendo respeitar os resultados, “embora, neste caso concreto, subsistam dúvidas legítimas e sustentáveis, pela informação que tem vindo a público e que nos tem chegado através de vários interlocutores, da fiabilidade do respetivo processo eleitoral, apesar dos vários observadores internacionais presentes”, o Chega termina o seu comunicado acabando por condenar Marcelo Rebelo de Sousa por ter ido a Angola. O Chega “lamenta igualmente a presença de Marcelo Rebelo de Sousa no funeral do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, pelo simbolismo e pela mensagem política que passa, legitimando e branqueando os crimes do mesmo contra o povo angolano e contra os portugueses”.