Ucrânia. Rede elétrica devastada por drones e mísseis

Civis sofreram quando bombas caíram em áreas residenciais. Agora passam frio com a destruição de quase um terço das centrais elétricas.

O horror que se viveu em cidades ucranianas foi a face mais visível dos bombardeamentos com mísseis e drones as últimas semanas. Mas, entretanto o principal alvo dos russos, a rede energética, ia dando de si. Quase um terço das centrais elétricas da Ucrânia foram destruídas durante esta vaga de ataques, declarou Volodymyr Zelensky, esta terça-feira.

Alertando que o país enfrenta apagões massivos, num momento em que ucranianos necessitam desesperadamente de se aquecer para enfrentar a chegada do inverno. E assegurando que, perante tais ataques contra infraestruturas civis, “não há espaço para negociações com o regime de Putin”.

“Só me vêm palavrões à cabeça”, admitiu Pavlo Raboschuk, um informático de 33 anos, residentes em Zhytomyr, a oeste de Kiev. A sua cidade, com uns 250 mil habitantes, ficou paralisada na terça-feira, sem eletricidade ou água, no rescaldo de um ataque russo que forçou hospitais a ativar os geradores de emergência. Enquanto Raboschuk se dedicava a acumular mais comida desidratada, água e agasalhos em casa, contou à Associated Press. Preparando-se para “um inverno duro e escuro”-

Raboschuk não é o único ucraniano que se prepara para um inverno gelado. É que “A Rússia não tem hipótese no campo de batalha e tenta compensar as suas derrotas militares com terror”, assegurou Zelensky. A questão é que a humilhação que têm sofrido as forças armadas russas parece aprofundar-se, com a Ucrânia a avançar na região estratégica de Kherson. E são esperados ainda mais ataques contra infraestruturas civis. 

Entretanto, o Kremlin não se dedica só a atacar civis também deu uso à sua nova frota de Shahed-136 na linha da frente. Estes drones suicidas iranianos – pintados e rebatizados de Geran-2 pelos russos – têm sobrevoado posições de artilharia e tanques ucranianos a sudeste de Kharkiv, sempre aos pares, de maneira a confundir sistemas antiaéreos, antes de serem atirados contra contra os defensores.

“Noutras áreas os russos têm um poder de artilharia avassalador, e aguentam-se com isso. Aqui, já não têm essa vantagem na artilharia, então começaram a recorrer a estes drones”, notou o coronel Rodion Kulagin, que comanda a artilharia da 92.ª Brigada Mecanizada da Ucrânia, ao Wall Street Journal.

A diferença entre o sudeste de Kharkiv e outros pontos da linha da frente foi uma contraofensiva surpresa dos ucranianos, reconquistando mais de três mil quilómetros de território, bem como a cidade estratégica de Izium e enormes quantidades de armamento, uma perda de que os russos ainda não recuperaram. Mas, entretanto, só os Shahed-136 já destruíram quatro howitzer e dois blindados na área operacional da brigada de Kulagin.

O Kremlin, que se estima ter comprado uns 2600 Shahed-136,  custando cerca de vinte mil euros cada, conta receber ainda mais drones suicidas iranianos, avançou a Reuters, esta terça-feira. Tendo o regime de Putin também comprado mísseis balísticos de curto alcance Zolfaghar e Fateh-110. Todas estas manobras são apontadas como mais um sinal que a industria de defesa russa enfrenta dificuldade em suprir os seus militares de armamento e munições, tendo tido até de recorrer à Coreia do Norte para obter abastecimentos.

Já a NATO reagiu garantindo que vai enviar para a Ucrânia sistemas de defesa antiaérea adequados para caçar drones. “A coisa mais importante que podemos fazer é cumprir com o que os aliados prometeram, que é entregar ainda mais sistemas de defesa aérea”, assegurou o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, esta terça-feira.