BCE vai subir juros e prestação do crédito à habitação pode subir mais de 115 euros

BCE vai decidir amanhã nova subida das taxas de juros e analistas acreditam que aumento será de 0,50%. Será a quarta vez este ano. Prestação pode subir entre 42 e 115 euros, consoante o valor do imóvel. Este cenário vai manter-se no próximo ano e na primeira reunião marcada para 2 de fevereiro espera-se nova…

A taxa de inflação continua a não dar tréguas e o Banco Central Europeu (BCE) prepara-se para voltar a subir amanhã as taxas de juro. Os analistas contactados pelo esperam um aumento de 0,5% ­– ainda assim, menos do que os 0,75% verificados nos últimos meses. Será a quarta subida deste ano.

A subida dos juros irá ter um impacto nas taxas Euribor, que também subirão, o que tornará o crédito mais caro, aumentando por exemplo o valor das prestações mensais das hipotecas. Uma situação que também terá reflexos em quem está a pensar em pedir empréstimo.

De acordo com as simulações feitas para o pela plataforma ComparaJá.pt, as prestações podem subir entre os 34,7 euros e os 134,93 euros.

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Para um imóvel avaliado no valor de 125 mil euros a pagar em 33 anos, se a prestação em janeiro fixava-se em 362,71 euros (com uma taxa de juro média de 0,81%), em outubro já subiu para 488 euros (taxa média de juro de 2,86%) e agora irá subir para 540,58 euros, aliando a taxa de juro ao acréscimo previsível de 0,5%. Isto é, uma subida de 52,53 euros por mês, mas mais 213,87 euros do que no início do ano.

Já para um imóvel de 186 mil euros, a pagar no mesmo prazo (33 anos), se em janeiro pagava 535,42 euros, a prestação subiu para 726,23 euros em outubro. Com este aumento dos juros irá pagar em dezembro uma prestação de 804,38 euros. Ou seja, um aumento mensal de 78,15 euros e uma subida 268,96 euros face a janeiro.

O cenário repete-se para uma casa de 257 mil euros também a pagar a 33 anos. A prestação que em janeiro era de 791,65 euros subiu para 1073,72 euros em outubro deste ano. A concretizar-se esta subida de 075%, irá pagar em dezembro uma prestação mensal de 1189,27 euros. Feitas as contas, mais 115,55 euros por mês e um aumento de 397,62 euros em relação ao início do ano.

Para João Melo, diretor de crédito habitação do ComparaJá, “2022 ficou, sem sombra de dúvida, marcado pelo aumento exponencial e constante das taxas de juro no crédito habitação dado que assistimos às subidas mais acentuadas da história da banca. Apesar de os juros já terem tido percentagens mais superiores como em 2008 ou em 2012, a verdade é que as taxas sofreram oscilações a um nível que nunca tinham sofrido anteriormente”, refere ao nosso jornal. E acrescenta: “As principais consequências deste fenómeno já se têm vindo a notar e, aliado ao facto de o preço das casas não ter descido, o montante total disponibilizado pelos bancos associado ao crédito habitação tem diminuído mês após mês e em outubro assistiu-se a um dos piores registos dos últimos dois anos”.

Apesar de o responsável lembrar que estes aumentos serem gerais ao contexto europeu e de terem impacto em todo o Eurosistema, garante que “em Portugal este fenómeno tem assimilado valores de outra dimensão. Desde janeiro de 2017 que os juros de crédito habitação em Portugal não eram superiores aos níveis europeus e o mês de outubro veio alterar esse registo, visto que a taxa média europeia encontra-se a 2,61% (contrapondo com os 2,86% portugueses)”.

Ricardo Evangelista, analista da ActivTrades, sublinha o impacto negativo para quem tem empréstimos a pagar. “O juro dos empréstimos com taxas de juro variáveis irá continuar a subir, acompanhando o aumento das taxas de referência do BCE”, salienta.

Já Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, lembra que “não será este aumento de 50 pontos base que alterará visivelmente as taxas Euribor”, uma vez que estas já descontam em parte esta subida. E antecipa: “Um potencial anúncio do BCE sobre a redução do seu balanço, o denominado quantitative tightening – em que são retiradas reservas financeiras em circulação no mercado – associado a um compromisso de abrandamento do aumento das taxas de juro pelo banco central da Zona Euro, poderão aliviar os encargos das famílias que detêm empréstimos vinculados às Euribor”.

Também Eduardo Silva, diretor da XTB Portugal, refere que tendo em conta as últimas leituras da inflação na zona Euro é possível assistir um aumento menos agressivo nesta fase. “Não obstante, a inflação segue perto dos máximos, e isso significa que o BCE deverá manter uma política de aperto monetário no médio prazo até controlar a inflação”.

Já em relação às famílias não hesita: “O impacto é que as famílias continuem pressionadas com o aumento do custo de vida. Com o aumento dos créditos e com a expectativa de que o médio prazo vai continuar a ser doloroso, o expectável é que vão consumir menos, fator que em última instância serve para controlar a escalada dos preços”.

 

Tendência é para continuar

Com a inflação ainda longe do objetivo de 2% a médio prazo definido pelo BCE, a subida das taxas de juro deverá continuar, mesmo com o risco de abrandar a economia.

Ricardo Evangelista acredita que o banco central deverá continuar a subir os juros em 2023 até chegar aos 3%: “Isto significa que depois dos 0.5% esperados para esta quinta-feira, ainda teremos mais um ponto percentual durante o próximo ano”. No entanto, acredita que no próximo ano, o ritmo da subida dos juros deverá abrandar: “Possivelmente teremos quatro subidas de 0,25%. Mas este é um cenário que não está garantido e poderá ter que ser ajustado se a inflação cair mais rapidamente do que o esperado, ou se persistir em níveis elevados apesar do apertar da política monetária”.

Já Paulo Rosa espera uma subida de igual dimensão de 50 pontos na primeira reunião de 2023, a 2 de fevereiro, mas prevê um abrandamento para 25 pontos base a 16 de março, “fixando-se nessa altura a taxa de juro dos depósitos do BCE nos 2,75%, muito perto da sua taxa terminal esperada atualmente, em que o mercado antecipa que essa mesma taxa terminal para os juros na Zona Euro ande à volta dos 2,8%. Ou seja, atualmente a taxa de juro de referência do BCE é de 1,5%. Um aumento de 50 pontos base no dia 15 de dezembro impulsionará essa taxa para 2%. Uma alta de mais 50 pontos a 2 de fevereiro levará a taxa até aos 2,5%, culminando nos 2,75% a 16 de março com um aumento de 25 pontos”.

Também Eduardo Silva, da XTB Portugal, considera que “a política monetária de aperto terá de continuar para arrefecer o consumo e, consequentemente, a inflação” e, como tal, diz que “a médio prazo vamos continuar a assistir a aumentos, mais ou menos agressivos consoante a evolução da inflação”.