PSD muda tática após sondagem

Há duas semanas era irresponsável dissolver a AR. Mas bastou uma sondagem para Montenegro ameaçar com eleições antecipadas.

Faltava cerca de uma hora para o Conselho Nacional arrancar e os ânimos já ferviam nas hostes sociais-democratas. Motivo: pela primeira vez desde há muito tempo, o PSD está à frente do PS, na mais recente sondagem da Pitagórica para a TVI/CNN Portugal, e com uma diferença de mais de três pontos percentuais entre sociais-democratas (30,6%) e socialistas (26,9%).

O estudo de opinião encheu os olhos da direção de Luís Montenegro. E foi o suficiente para o líder social-democrata mudar a agulha e ameaçar que, se António Costa não arrepiar caminho, irá a Belém pedir a marcação de eleições antecipadas, quando ainda há duas semanas falava em cumprir a legislatura.

No final do discurso que abriu o Conselho Nacional desta quarta-feira, a poucos dias de se completar um ano sobre as últimas eleições legislativas, que se assinala na próxima segunda-feira, Montenegro ainda aludiu à sondagem. «Não me deprimo com maus estudos de opinião, nem me entusiasmo quando são bons»,  relativizou.

O caso não é mesmo para grandes entusiasmos, até porque a sondagem em questão é da mesma empresa que em janeiro do ano passado dava a Rui Rio a vitória nas legislativas, separando por um ponto as duas maiores forças políticas.

Mais: este estudo de opinião agora divulgado revela outros dois aspetos que não são apenas pormenores.  É que a diferença de mais três pontos percentuais entre sociais-democratas e socialistas resulta da queda vertiginosa do PS – que já reflete o impacto das diversas polémicas e demissões que têm atingido a estabilidade do Governo­ –, e não de uma subida do PSD, que pouco cresceu (0,2 pontos percentuais) face ao último estudo da mesma empresa.

Além disso, o Chega continua a ganhar terreno à direita e já  atinge 14,30% nas intenções de voto.

Mesmo que a sondagem tenha bastado para Montenegro alterar  o discurso e pressionar tanto o primeiro-ministro como o Presidente da República, esta ainda é «a hora de António Costa mostrar o que vale» e de o PSD ter «paciência» e não se deixar levar «por ímpetos e impulsos repentinos», como traçou o líder social-democrata.

Esta quinta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa também tentou deitar água na fervura e refrear quaisquer precipitações da sua família partidária. «A oposição não defende neste momento a dissolução do Parlamento, o que é sensato. Estamos num período muito crítico e isso seria uma paragem do país num momento crucial para a utilização dos fundos europeus e para a economia portuguesa», acautelou, exigindo sim, mais uma vez, que a oposição seja mais «assertiva».

Apesar da cautela em reclamar a interrupção da legislatura, no grupo parlamentar do partido, há vozes que contestam a estratégia definida pela direção na votação da moção de censura ao Governo. Entre eles, estão André Coelho Lima e Carlos Eduardo Reis, que entregaram uma declaração de voto no Parlamento onde classificavam a abstenção  do partido como um sinal de «tibieza».

O Nascer do SOL  sabe ainda que o facto de a reunião com o grupo parlamentar ter sido marcada com menos de 24 horas de antecedência, num dia em que não havia trabalhos parlamentares, também apanhou grande parte dos deputados desprevenidos que acabaram por não comparecer.

Entre os temas quentes que podiam ter marcado o Conselho Nacional, o caso de Joaquim Pinto Moreira, que teve de se afastar da vice-presidência da bancada parlamentar social-democrata à boleia da Operação Vórtex, passou ao lado.

Talvez não inocentemente, até porque, como o Nascer do SOL confirmou, Pinto Moreira continua a utilizar diariamente o seu gabinete na direção do grupo parlamentar e continua a tutelar a pasta da Defesa, ainda que o líder da bancada do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, tenha afirmado há cerca de duas semanas que ele próprio ia assumir as funções de coordenação geral sobre esta Comissão.