O súbito anúncio feito por António Costa de que Portugal enviará em março para a Ucrânia três carros de combate Leopard 2 surpreendeu os próprios militares. E isto porque, segundo os oficiais portugueses ligados a este assunto, os sinais antes dados pelo primeiro-ministro iam no sentido de o nosso país apenas disponibilizar ao exército ucraniano treino para a utilização desses sofisticados veículos.
Com aquele anúncio, Costa pareceu responder a uma notícia dada na véspera pelo Nascer do SOL, que afirmava exatamente a resistência do chefe do Governo ao envio dos tanques de fabrico alemão estacionados em Santa Margarida.
A posição da ministra da Defesa, Helena Carreiras, era diferente, mostrando-se nos bastidores, desde o início, favorável ao envio dos Leopard 2 para o cenário de guerra. De resto, fora essa a decisão tomada há duas semanas numa reunião do chamado grupo de Ramstein – um conjunto de meia centena de governos aliados da Ucrânia (do qual Portugal também faz parte), que têm estado a articular formas de ajuda militar a esse país – e a ministra da Defesa portuguesa já tinha preparado a operação com os seus assessores militares. Estes haviam concluído que Lisboa estava em condições de fornecer três Leopard 2, modelo A6, do lote de 37 que possui em santa Margarida. Mas tudo estava congelado ao nível do chefe do Governo, de quem emanavam diretivas no sentido de apenas oferecer treino aos ucranianos para o manuseamento destas complexas máquinas de guerra.
Carreiras ‘corrige’ Cravinho
Foi por isso que, quando o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, anunciou – logo a seguir a Ramstein – que Portugal iria entrar na coligação internacional dos Leopard 2 para a Ucrânia, Carreiras pôs água na fervura, declarando que ainda não tinha sido tomada qualquer decisão.
A fonte militar consultada pelo Nascer do SOL interpreta que, como ficou atrás dito, terá sido a notícia deste semanário a levar António Costa a fazer, no dia seguinte, durante uma visita ao contingente português estacionado na República Centro-Africana, o anúncio do envio dos tanques. Desconhecem-se as razões para a mudança de posição do primeiro-ministro, mas podem estar relacionadas com a preocupação em não deixar Portugal mal visto perante os aliados.
O Nascer do SOL voltou a confirmar que, conforme também noticiado na anterior edição, o Exército português não possui munições para acompanhar os Leopard 2 em operações de combate, dispondo apenas de material para a prática de exercícios. E por isso mesmo juntou-se a outros países numa operação conjunta de aquisição de munições reais, através de uma agência da NATO, desconhecendo-se a data de entrega da encomenda.