Banca. Os balcões já não são o que eram

Bancos têm cada vez mais limitações e estão a tornar-se mais digitais. Este é um problema principalmente para os mais idosos devido ao fraco conhecimento tecnológico e a tendência é para ficar.

Banca. Os balcões já não são o que eram

Ir ao balcão de um banco já não é hoje o que era. Os horários são diferentes, os serviços são cada vez menos ou distribuídos por horários que nem todos sabem. Se já tentou depositar dinheiro ao balcão do seu banco e esse depósito lhe foi recusado depois do meio-dia, saiba que é natural. Pelo menos, em alguns bancos como é o caso do Montepio ou do Bankinter. Mas não em todos os balcões, apurou o Nascer do SOL.

No caso do Montepio, na maioria dos balcões, não é possível fazer depósitos a partir do meio-dia. No entanto, existe a possibilidade de o cliente o fazer através de uma caixa automática para o efeito, situada nas instalações do banco. «Tentei fazer um depósito e já passava do meio-dia. E disseram-me que não era possível. Mas a senhora que me atendeu foi muito simpática e deu-me outras soluções para fazer o depósito naquele momento. Só não podia ser ao balcão», diz ao Nascer do SOL uma cliente do banco liderado por Pedro Leitão.

Mas não é caso único. No Millennium BCP na Avenida de Roma, também não foi possível. «Tentei fazer um depósito e pediram que o fizesse nas máquinas. Nessa altura até estava um funcionário a explicar a um senhor como o fazer», disse-nos outro cliente.

O mesmo aconteceu num balcão do Bankinter onde, segundo contou um cliente ao nosso jornal, foi-lhe recusado o depósito em dinheiro depois do meio-dia.

O Nascer do SOL tentou fazer uma ronda por alguns bancos para tentar perceber este problema. Além de o Montepio ter confirmado a situação, o Santander atua de outra forma e é possível fazer esse serviço até às 13h, tendo em conta que a agência com a qual falámos, encerra a essa hora.

O Bankiter justifica a situação. Ao nosso jornal, fonte do banco informa que o horário das agências em Portugal é – como a maioria – das 8h30 às 15h. «Na grande maioria das agências, os clientes podem efetuar depósitos e levantamentos ao balcão durante o seu horário de funcionamento, sendo que todas elas disponibilizam o serviço de depósitos e levantamentos 24 horas por dia, todos os dias da semana, através de Caixa Automática», explica.

Mas, algumas agências deste banco «adaptaram o horário do serviço de tesouraria ao balcão, tornando-o mais adequado à prática de utilização deste serviço pelos clientes nessas agências, novas formas de utilização dos serviços financeiros, nomeadamente através da adoção crescente de meios tecnológicos e, naturalmente, a uma gestão mais eficiente das equipas».

Feitas as contas, das 81 agências Bankinter em Portugal, existem 23 agências nas quais os clientes podem efetuar depósitos e levantamentos ao balcão até às 12h00. Depois dessa hora, os depósitos e os levantamentos continuam a poder ser feitos através de Caixa Automática (ATM) «e os clientes podem contar com o apoio dos colaboradores da agência na realização dessas operações, caso seja necessário». Em nove agências, os depósitos e os levantamentos são realizados exclusivamente através de ATM, «podendo os clientes contar com o apoio da equipa da agência».

Por sua vez, fonte do BPI explica que «há vários anos» que o banco «tem implementado horários diferenciados no posto de caixa em balcões de menor tráfego e com alternativa de serviço de depósito em zona self service», acrescentando que «este modelo tem registado grande aceitação pelos clientes que reconhecem o acréscimo de disponibilidade para os acompanhar em operações de maior complexidade e sem alternativa self service». Mas o nosso jornal sabe que, a maioria dos balcões, tem serviço de caixa das 13h às 15h. «Os que não têm caixa ou têm um  horário diferenciado é por sugestão do diretor de balcão», diz uma fonte.

Já o BCP diz que «há várias tipologias de sucursal». Assim, «nem todas têm caixa e muitas já têm máquinas automáticas para depósitos e levantamentos», mas ao que o nosso jornal apurou, há muitos balcões em que a caixa é totalmente automática.

Já em relação ao Montepio, essas restrições apenas existem em meia dúzia de balcões em todo o país, enquanto no Santander, essas restrições apenas acontecem ‘nos mais pequenos’.

No entanto, estas restrições não agradam a todos, o que já levou António Fonseca, presidente do Mais Sindicato, a dizer que «começa a ser complicado enfrentar situações de balcões que fecham ao meio-dia e depois abrem mais tarde, outros que só estão a funcionar em determinados períodos». (ver entrevista nas páginas 56-57).

 

‘Dificultar a vida dos clientes’

Em relação a estas restrições, a Deco Proteste diz que, na última década, «os bancos têm vindo a encerrar agências e a introduzir limites em relação aos horários de atendimento», tal como os depósitos, lembrando que os cinco maiores bancos nacionais – Banco BPI, Caixa Geral de Depósitos, Millennium BCP, Novo Banco e Santander – encerraram metade das suas agências nos últimos 10 anos, «dificultando a vida principalmente aos clientes que não possuem conhecimentos para realizar as operações bancárias através dos meios de movimentação à distância».

A Deco Proteste chama ainda a atenção para um estudo recente que mostra que «há clientes que se têm de deslocar várias dezenas de quilómetros para ir ao balcão do seu banco». E diz que «os clientes que necessitam de se deslocar a uma agência bancária ainda são penalizados de outra forma, através do comissionamento, sendo as operações aqui realizadas muito mais caras do que por outras formas de movimentação à distância, como demonstrámos no mesmo estudo».

Ora, o estudo diz que «numa década, o número de balcões destas cinco instituições baixou de mais de quatro mil para 1900. No topo dos que mais sucursais fecharam está o Banco BPI, que diminuiu a sua oferta em 63%. Seguem-se o Novo Banco com menos 57% de balcões e o Millennium bcp, que cortou em 53% o número de dependências bancárias e já não tem representação em mais de 100 concelhos do País. O Santander, só no primeiro semestre deste ano, fechou quase 50 balcões».

Estes encerramentos afetaram principalmente o interior do país e a Deco alerta ainda que além de todos os quilómetros que muitos têm que percorrer para conseguir encontrar um balcão do seu banco, há que juntar os custos. «Muitos euros separam quem movimenta as suas contas bancárias à distância, através do homebanking ou usando o cartão de débito nas caixas automáticas, de quem vai – ou tem mesmo de ir – ao balcão. Muitos euros mesmo».

E fez as contas, recolhendo os custos nos cinco principais bancos a operar em Portugal, «considerando um perfil de utilização em que um cliente, para além dos encargos que suporta com a conta bancária, efetua um levantamento ao balcão todos os meses, e faz três transferências interbancárias também mensais». Os valores depois foram comparados com os custos de uma utilização semelhante, mas para quem usa o cartão de débito para fazer os levantamentos e a página do banco na internet para realizar as transferências.

«Contas feitas, não é possível sequer usar o cliché ‘qualquer semelhança é pura coincidência’», atira a associação. E explica: «Porque 260 euros por ano, em média, separam estas duas formas de usar a conta bancária. Um cliente que vá ao balcão do banco para efetuar as operações do cenário considerado terá de suportar, em média, um custo anual de quase 392 euros. Por mês, isto significa pagar cerca de 33 euros, em média, para movimentar a conta bancária. Pensando nos pensionistas e fazendo contas ao valor médio das pensões em Portugal, que, segundo a Pordata, se situa nos 517 euros, aqueles 33 euros representam mais de 6% dos rendimentos de um reformado que receba uma pensão média».

Quem usa o homebanking consegue poupar dinheiro mas quem não sabe ou não pode, vai ter que despender mais do seu orçamento. «Uma transferência interbancária ao balcão custa 7,23 euros, em média. Via homebanking, não chega a um euro, em média. De acordo com os custos recolhidos pela DECO PROTESTE nos cinco maiores bancos, três transferências por mês feitas ao balcão podem custar ao consumidor mais de 200 dolorosos euros por ano». E para levantar dinheiro ao balcão, nos cinco bancos, o valor oscila entre os 5,15 euros, na Caixa Geral de Depósitos «e uns pungentes» 12,48 euros no Novo Banco.