É só índios e cowboys e paisagem

Diga-se o que se disser, independentemente da criação de Ministérios da Coesão e inutilidades do género, não existe em Portugal uma política de descentralização ou de criação de novas centralidades.  

Os concertos dos Coldplay que esgotaram em quatro dias consecutivos o Estádio Municipal de Coimbra provaram que a cidade, como reclamou o seu presidente da Câmara, José Manuel Silva, está preparada para acolher grandes acontecimentos, culturais e não só, nacionais ou internacionais.  

Com uma organização ao nível da produção do espetáculo – simplesmente, impecável –, os 50 mil ‘estrangeiros’ que invadiram Coimbra de quinta-feira a domingo passados deram uma nova vida à cidade do conhecimento, que – tirando estas episódicas iniciativas – foi perdendo nas últimas décadas o fulgor e o encanto muito para além da hora da despedida que teve durante séculos.  

O problema não é apenas de Coimbra. É de todas as capitais de distrito, excluindo as das duas grandes Áreas Metropolitanas e, por causa da nova vaga de Turismo, Funchal, Faro e Aveiro e, alavancada pela Universidade e por uma elevada concentração de grandes promotores de construção e empreendedorismo, também Braga.  

O resto do país definha. Seja no interior ou no litoral – aliás, bem vista a geografia, nem deveria falar-se verdadeiramente de interior, tal a proximidade da fronteira leste da costa atlântica a oeste.  

A migração da população para os arrabaldes de Lisboa e do Porto em detrimento das outras capitais de distrito e de inúmeras vilas e aldeias cujo envelhecimento ou desertificação metem dó, está ao nível dos países de terceiro mundo.  

Diga-se o que se disser, independentemente da criação de Ministérios da Coesão e inutilidades do género, não existe em Portugal uma política de descentralização ou de criação de novas centralidades.  

Aliás, talvez nunca tenha existido.  

E a regionalização – valha-nos que continua sempre adiada – é uma falácia que só criará mais entropias ao desenvolvimento e à diminuição das assimetrias entre norte e sul, este e oeste.  

O pouco que se fez nestes quase 50 anos de democracia vem sobretudo dos Governos de Cavaco Silva (1985/95) e ainda do primeiro Executivo de José Sócrates (2005/09) – ou seja, das maiorias absolutas de um só partido anteriores à atual.   

O chamado ‘investimento no betão’, nas várias épocas tão criticado pelas oposições, criou uma rede de autoestradas que, com o desinvestimento na ferrovia e nas ligações aéreas altamente deficitárias, são ainda o que nos vale e o que nos resta de fundos de milhões e milhões que vieram da Europa.  

É por isso que é tão triste estarmos a assistir ao desperdício de uma oportunidade única para Portugal dar estruturalmente um salto e aproximar-se dos níveis de desenvolvimento e bem estar dos seus parceiros europeus.  

A TAP, a CP, os portos (de Sines, de Leixões, de Lisboa), o novo aeroporto internacional, o Metro, a habitação, a indústria, a agricultura…. Caramba!!! Nada, mas mesmo nada vai pelo bom caminho.  

E é um tal ver se avias nos gastos do Estado, de cofres cheios pelos impostos asfixiantes e trituradores do investimento.  

Para quê? Para o Estado cumprir as funções que lhe estão confiadas? Cá nada. A Educação, a Saúde e a Justiça estão pelas ruas da amargura e a Administração Pública não tem capacidade de resposta eficaz e satisfatória em absolutamente nada.  

A única lógica do Governo socialista é distribuir a riqueza que não se cria e desbaratar dinheiro sem retorno garantido. E lá se vai a ‘bazuca’ e lá se vão os fundos europeus do Portugal 20-30 e 30-30, tão desaproveitados como a maioria absoluta parlamentar.  

Tivesse Coimbra engenho e arte e meios para atrair mais 50 mil pessoas e era uma cidade cheia de pujança e progresso. Como, país fora, outras tantas capitais de distrito, cidades, vilas e aldeias com um potencial imenso, mas votadas ao esquecimento e ao isolamento pelos muros da burocracia e do centralismo partidário incompetente e clientelar.  

Portugal, com tantos milhões da Europa e um Governo com condições políticas para definir e implementar uma estratégia e um rumo para o país, vive e está mesmo a desaproveitar uma oportunidade única.  

António Costa não tem nem álibis nem desculpas.  

O que se passa neste Governo é da sua exclusiva responsabilidade. Foi ele quem livremente escolheu os membros do Executivo e quem lhes deu carta branca para, em vez de governarem, andarem a brincar aos governantes e aos computadores, aos polícias e às secretas e aos ladrões, aos aviõezinhos e às companhias aéreas, aos comboios e aos túneis, enfim, aos índios e cowboys.   

É o que temos.   

É o que são.