Em Portugal, neste Advento, as salamandras tossem faíscas e uma chuva miudinha risca as janelas. Aqui, no Brasil, país que tão generosamente acolheu o Matuto no seu seio, o ar-condicionado zune segredos e a piscina sussurra convites líquidos.
Por vezes não é o grande sofrimento que esmaga uma pessoa, é a gota, o botão, a meia teimosa, o saco das compras que rasga, o fecho éclair que emperra, o despertador que insiste. Sartre compreendia isto — que o peso existencial se infiltra pelos cantos mais insignificantes da vida.
O Matuto considera que essas afro-variações são naturais. A mesma africanização aconteceu noutras línguas, como o Espanhol, o Inglês e o Francês. Só prova que a “língua” é um organismo vivo e isso nada tem a ver com tentativas de branqueamento.
Hodiernamente, dizem alguns pacóvios que é melhor parar de beber leite porque se evita o sofrimento desnecessário de animais. O Matuto não embarca nessas modernices.
Agora, com o mundo a comprar palavras em formato névoa digital, o Matuto sente um aperto. As livrarias fecham uma a uma, como janelas ao fim da tarde.
Matuto chega à conclusão que um dos males da existência é o narcisismo desenfreado que o mundo abraçou. Urge trazermos para a luz do dia – sugere o Matuto – esta ideia Pascaliana de um ‘anti-humanismo’.
O Matuto considera que a vida das coisas, tende a ficar um pouco vazia quando tudo se repete de forma mecânica. É como se os verbos e adjectivos ditos muitas vezes, virassem baba.
O Matuto continua a escrever com tinta verdadeira. Não por ser romântico, mas porque prefere borrar a escrita do que ser apagado pela história.
No fundo, o diminutivo é o lubrificante social do Português: adoça discussões, amacia fronteiras e até faz cócegas ao coração. E, quem sabe, talvez seja por isso que o Matuto, em vez de envelhecer, se vá apenas transformando num “velhinho resmungão”.
O homem perfeitamente feliz não frequenta psicólogos, e tira selfies com o seu Smartphone usando iluminações de estúdio e filtros certificados. Apesar de não consultar psicólogos, consulta periodicamente o dentista
Matuto entende destas coisas e acha que a inteligência artificial deveria ser usada para o bem-estar da humanidade. Inventar uma bebida alcoólica que não dê ressaca, um cigarro inteligente que não provoque cancro (câncer, no Brasil, por favor) ou uma doença super benigna.
O Matuto acha que Tomás tinha toda a razão: é melhor acreditar em porcos voadores do que nas tropelias deste mundo louco. E, se Tomás tiver dúvidas, está convidado a assistir ao espectáculo dos Tucanos que voam de madrugada na “Casa das Pontes”, soltando roncos e grunhidos. Uns autênticos porcos voadores.
É a presença constante da morte que nos ausenta de pessoas queridas. E a perda irreparável de dons precisosos que se perdem além túmulo
A par e passo, o Matuto assiste à multiplicação da maledicência. O Matuto como turista Tropical e indígena Luso, está na posição genuína de sondar a alma Lusitana. Ora, a maledicência está entranhada na alma Lusa. O Matuto considera mesmo que o Portuga diz mal daquilo que ama.
O Matuto, surpreendido, deu um pulo no sofá e tentou segurar as páginas com as duas mãos, mas o vento, sapequinha, escapuliu-se rindo entre as cortinas
Nos últimos anos, assistimos ao crescimento de uma narrativa militante que classifica Israel como um Estado “colonial de ocupação” e as suas ações militares como expressão de um “genocídio” sistemático contra o povo palestiniano. Tais acusações, além de moralmente inflamadas, assentam numa profunda ignorância da história e numa inversão perversa de valores
O Matuto ficou ciente de que a expressão “dar uma de João sem braço” estaria na mira do politicamente correto, por ser considerada capacitista — uma discriminação velada às pessoas com deficiência. O Matuto sabe das coisas e pensa que a ideia não tem eira nem beira.
A função desse criado seria dar a vela, um copo de água, o urinol (vulgo penico), conforme a necessidade do momento. Ora, todos esses utensílios passaram a guardar-se na mesinha do lado da cama — e essa mesinha passou a ser o “criado mudo”.
Como tourear este emaranhado de fios? Os filamentos energéticos saem de buracos na parede e entram nas tomadas com liberdade eléctrica. Como resolver o dilema? – medita o Matuto.