Nas milhares de páginas dos ensaios de Velho Nogueira haverá certamente momentos interessantes, mas o que encontramos demasiadas vezes, para além de momentos absolutamente extemporâneos de análise, é a aplicação do jargão para-filosófico e a mistura de tudo com tudo num experimentalismo inócuo
O autor regressa ao romance, com uma narrativa que segue a errância de um homem que desperta num hospital, gravemente ferido, e que tenta regressar a casa. De tão mastigado, o universo de Cancela apresenta os sinais da desaparição, a emergência do vazio, desenhando uma zona-limite, à beira do fim.
Uma forma mais penetrante de observar sintomas da coisa literária em autores sujeitos ao engodo publicitário é ignorar os romances e olhar para outro tipo de textos, mais pequenos, onde as intenções estão mais à flor da pele.
No momento em que se torna o primeiro autor afrodescendente a ser objecto de um estudo académico em Portugal, Djaimilia reune num volume três intervenções tentando problematizar o seu lugar enquanto mulher negra escritora, mas apesar de tomar um grande balanço parece depois refugiar-se numa ambivalência sem saída.
Independentemente do trabalho enquanto jornalista literária, Isabel Lucas pode figurar como um tipo, um exemplar acabado de uma forma de compreender o fenómeno literário.
Inaugurando uma nova linha, numa obra de imenso fôlego, As Botas de Mussolini é uma pequena reflexão sobre o século XX. Juntando um conjunto díspar de detalhes, de pequenas histórias, Gonçalo M. Tavares devolve-nos um século carregado de tragédia e de catástrofe.
Na mais recente edição do seu livro em constante reelaboração, Mulher ao Mar / E Corsárias, fica clara a dimensão omnívora desta poesia, em que todos os motivos são puxados para a oficina de Vale do Gato, numa sofreguidão em afirmar-se enquanto poesia e que faz com que nada lhe seja estrangeiro.
De um dos melhores ensaístas portugueses, Aparas dos Dias. A escrita na ponta do lápis é a reunião de um conjunto esparso de textos de João Barrento, vai da entrevista a discursos de aceitação de prémios, passando por conteúdo de índole diarística. Mas é mais do que isso: é o incessante cruzamento da arte do…
Mais interessante do que estabelecer uma pequena máquina antropológica que determine a distinção entre nós – ninguém sabe bem o que este “nós” designa – e a Inteligência Artificial será mapear ou tentar mapear o desejo concreto, o sonho, tanto utópico como real, que os modelos de linguagem contêm.
Com uma já longa interrogação sobre a imagem, principalmente a fotografia, Margarida Medeiros conduz-nos, com este conjunto de ensaios, a uma série de interrogações mais abrangentes.
Uma pequena antologia recente, com selecção e prefácio de Pedro Mexia, permite-nos ver uma forma sóbria de encarar os nossos clássicos, ao mesmo tempo que nos dá uma melodia desesperada de um dos maiores poetas da língua.
Um dos mais importantes poetas dos últimos 20 anos, Manuel de Freitas começa agora a reunir a sua produção poética. O que encontramos no primeiro volume é um derradeiro fulgor da poesia, que se mede uma vez mais com a época do seu desaparecimento.
De Jean-Luc Nancy, filósofo com alguma fortuna editorial entre nós, desaparecido no ano passado, chega-nos O Prazer no Desenho. Escrito para o catálogo de uma exposição, este texto de um dos nomes mais conhecidos de uma corrente de pensamento, a desconstrução, é uma interrogação sobre aquilo que, da arte, diz respeito ao prazer.
Especialista em Grécia antiga, Mendelsohn oferece-nos uma versão mais ligeira e optimista das deambulações de Sebald através de um espaço físico e psicológico marcado pela destruição.
Depois de O Cinema que faz Escrever, um conjunto de ensaios de Serge Daney sobre cinema, surge agora Perseverança, um livro que é também uma longa entrevista a Serge Toubiana pouco tempo antes de morrer. Neste, o maior crítico de cinema francês pós Bazin mostra-nos toda a alegria do pensamento.
Nascido na década de 30, Thomas Bernhard constrói uma obra onde o mundo se encontra em estado terminal. Geada, o primeiro livro que publicou, surge agora em edição portuguesa, com tradução de Bruno C. Duarte e editado pela Dois Dias Edições.
As férias desenham-se como um horizonte votado ao descanso, mas, também, a sonhos íntimos de vingança e de ajuste de contas com os impedimentos e bloqueios que tomaram conta do resto do calendário.
Dono de uma sólida formação clássica, Boris Johnson vê em Londres a versão contemporânea da Atenas de Péricles e imagina-se a si próprio como um cidadão ateniense lutando contra o espectro de uma tirania.