Somos um país de colunistas, uns – poucos – mais livres do que outros. E não uma pátria de cronistas, como por exemplo o Brasil. Ao longo de mais de 300 páginas, tive o privilégio de esforçar-me por honrar o género crónica naquela que foi até hoje a minha mais longa colaboração profissional.
Diane Spencer é ruiva, alta, atraente e comediante. O espectáculo chama-se ‘Spank’ – uma miscelânea de intérpretes e registos mais ou menos ordenados por dois mc’s medianos – e a rotina de stand-up de Diane é deliciosamente perversa e hardcore.
Passa um miúdo com um Ferrari. Pois. Um bólide encarnado, vistoso, as luzes aumentam de intensidade quando acelera. Faz um pião em meu redor mas sem me olhar sequer, sou um adereço, não passo de um utensílio, parte do cenário útil para o rapaz.
Não acontece frequentemente, mas isso só torna a ocasião mais especial. Às vezes, sem se anunciar e com um sorriso entre o irónico e o perverso, a crónica vem ter connosco.
Vila Viçosa: Gravámos por todo o lado, até no estrangeiro, com autorizações obtidas sem qualquer dificuldade: na Praça da Bastilha, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Paço Imperial ou até mesmo em pleno Cristo Redentor. Mas em Vila Viçosa batemos com o nariz na porta.
‘Ali na mesa ‘tá faltando ele / e a saudade dele / ‘tá doendo em mim’ – Jorginho do Império abre as hostilidades com um samba doce e triste dedicado ao pai.
Tenho a certeza de que o Rio de Janeiro continua lindo, eu é que não consigo vê-lo. Está uma temperatura de Outono e há focos de neblina por todo o lado, ao virar de cada prédio, como bêbedos abraçados a árvores.
Isto é para vocês: bestas das bombas de gasolina, carrancudos dos restaurantes, sisudos das repartições, medíocres molengas da função pública em geral.
Há 15 dias aqui publiquei a crónica ‘No CV, onde se acrescenta a mágoa?’, despoletada por uma vizinha que me entregou o seu currículo – e sobre, precisamente, a luta cada vez mais desesperada de tantos por encontrar o seu justo lugar na sociedade.
Os soldados vinham da batalha, ainda lavados em sangue, e sentavam-se a uma mesa comunitária, logo passando a fio de espada as carnes presentes e o pão.
Ontem foi a minha vizinha. Nunca trocámos mais de meia dúzia de bons dias ou boas tardes nas esquinas cruzadas pelos nossos carros, mas ei-la de repente à campainha e à vontade.
É já amanhã e a nossa esperança está ao nível das restantes expectativas quanto a tudo o resto neste país. Taxa de desemprego, sacrifícios perante o memorando da troika, encargos fiscais, virtude da classe política, em tudo isto e agora também na nossa selecção de futebol confiamos tanto quanto um desesperado no seu agiota.
O mundo virtual transmite a uma franja considerável e – muito – ingénua de pessoas a ilusão de que habitam um mundo livre de publicidade. Revoltam-se amiúde contra ela sem aparentemente se aperceberem de que os fóruns onde ‘postam’ a sua indignação são ladeados por uma coluna com os mais variados links e banners com…
Encontram-se regularmente para trabalhar. Esta noite são três os homens atrás da cortina, a entender-se como podem e sabem.
Um vírus está a disseminar-se com a resiliência de um tsunami. O chamado ‘humor negro’ é o equivalente moderno às maminhas na TV dos anos 80.
Imagine o leitor que deixaria de ir comer um daqueles bifes tradicionais de cervejarias decanas, sob o argumento de que: ‘os primeiros bifes é que eram bons’. Admitamos que há razões bem mais salientes para alguém se tornar vegan.
Exactamente quando é que aconteceu? Entre blogues, iPhones, Go-Pros, redes sociais, e permanente imitação da realidade – quando foi? Onde estão hoje os símbolos, há tanto substituídos por réplicas de réplicas?
Caiu um Muro de Berlim e poucos parecem ter dado conta. O tempo da barreira entre artistas e público desapareceu ou, pelo menos, essa fronteira deixou de ter cancelas. Com, sobretudo, o advento das redes sociais desvaneceu-se aquilo que no teatro se chama de ‘quarta parede’. O acesso de quem vê a quem faz tornou-se…
Por muitas voltas que dê, não me consigo lembrar das razões – certamente determinantes – que me levavam a sair à noite. Há um tempo nas nossas vidas em que tal surge como uma obrigação mais do que um plano.