E a confusão, já se sabe, é a melhor amiga do ‘princípio de Lampedusa’, que ensina que é preciso mudar para que tudo fique na mesma.
Cá estamos, pois, outra vez a adorar o bezerrinho de ouro que nos vai salvar da corja.
O Dr. Batalha e tutti quanti talvez um dia também sofram da perplexidade da Senhora provedora de Justiça.
É precisa muita gritaria (e escândalos, escândalos é que está a dar), para que tudo fique na mesma.
Fosse hoje viva Maria Lamas, e ainda teria muito por onde cartografar trabalho invisível – tão duro quanto essencial.
Queremos nós lá saber acerca da economia, da habitação, da saúde, da educação, da Europa, do Mundo, da segurança, da defesa, das liberdades, et cetera…
À justiça o que é da justiça no sentido da autonomia, isso sim, está muito bem, e cá me têm na primeira linha de defesa disso.
A hierarquia do Ministério Público não é uma questão de gosto. É uma questão de Constituição e de dicionário.
A liberdade de expressão é de geografia variável, sendo tanto maior quanto ‘melhores’ são as causas que lhe subjazem, à luz dos critérios de quem ajuíza…
De bebés que são o centro do mundo passaram a jovens que, além de o continuarem a ser, sabem tudo sobre o mundo.
Não é com a mudança do regime das buscas que alguma coisa realmente mudará. Continuará, aqui, a ter inteira razão o famoso dito (em O Leopardo) sobre o que muda e o que, afinal, fica na mesma.
‘Pingoas’ vem de pingos – pingos constantes e grossos de revelação ilegal e criminosa para fora do processo de elementos do mesmo. E quem os recebe de dentro do processo depois expande e propaga a revelação…
O assédio da comunicação social e da opinião publicada sobre muitos dos processos que vão parar ao tribunal central de instrução criminal. Assédio do intenso, do que invade, constrange, enerva, deprime, destrói. Assédio difícil de suportar, difícil de gerir.
O que aconteceu recentemente a respeito do acórdão do TC dedicado ao tema da prescrição do crime de corrupção é um exemplo riquíssimo de tudo isto, em especial da ignorância, do atrevimento e do ódio/da raiva. Tomemos como exemplo, ilustrativo, o texto de um cronista profissional com um perfil entre o ‘engraçadinho’ e o ‘intelectual’.
Deveria ter-me lembrado do bode, a verdadeira solução para os megaprocessos, assim pudesse cada um destes ter um daqueles; ou seja, a cada megaprocesso o seu bode
Não desprezo a nova divindade, nem sofro de teimoso ateísmo, longe disso, apenas procuro cultivar a dúvida e o espírito crítico. E acho, usando uma metáfora alimentícia, que em matéria de justiça a inteligência artificial pode ser um útil (conquanto na dose q.b.) hidrato de carbono, mas não é proteína.
Mas há coisas em que a IA, por muito ‘inteligente’ que seja e por muito que mimetize a inteligência humana, não dará grande ajuda, que são as que se prendem com o núcleo do juízo decisório, seja no domínio estrito do pensamento, seja no domínio emocional, sendo certo que este é fundamental para qualquer decisão,…
Reinar, gozar, ironizar. Todo o humor tem uma pontinha de crueldade, mesmo que não chegue ao sarcasmo. E duas pitadas de sobranceria, junto com meia dúzia de categorias, de estruturas e de identidades. Se não for assim, não rimos.