TAP

O tema TAP é inescapável. Aqui estão várias notas e uma lição.  

1 – O futuro da empresa TAP está em jogo. Mas está em jogo há já muito tempo. Reduzir o problema ao Memorando de Entendimento assinado com a troika é ridículo. O problema da privatização da TAP já se colocou muito antes de existir troika e deve ser analisado nos seus méritos próprios, independentemente do que vem escrito no memorando. 

2 – Os aviões da TAP podem, num certo sentido, ser comparados às caravelas quinhentistas. Mas a estratégia empresarial que alimenta essa comparação – fazer da companhia o centro das ligações entre a Europa e a América Latina, com destaque para o Brasil – tem apenas 15 anos, tantos quantos Fernando Pinto tem na chefia da TAP.  A opção por essa estratégia não resultou de  qualquer saudosismo histórico, mas antes puras considerações de negócio: como é que a TAP e o seu hub em Lisboa, podem criar valor?

3 – Colocada a questão em termos de criação de valor, faz sentido discutir qual o modelo de propriedade da empresa com maior potencial de  geração de valor. A exploração plena da estratégia enunciada exige flexibilidade de gestão e a capitalização da empresa. Nem uma nem outra podem ser conseguidas sendo a empresa pública. A indústria de transporte aéreo é extremamente competitiva e só se consegue sobreviver podendo crescer e aproveitando as oportunidades que se apresentam. Sem essa possibilidade de crescimento a empresa está fadada a desaparecer.

4 -Termino as notas com um caveat. Parti sempre do princípio que a manutenção de Lisboa como hub da TAP não estava em causa. É imperioso preservar  este valor em qualquer processo de privatização. O que está em jogo é muito mais do que o transtorno de uma escala em Madrid para ir de Lisboa ao Rio de Janeiro.

Feitas as notas, a lição da história. No início do seu Governo, em Janeiro de 2003, o presidente Lula da Silva determinou que se encontrasse uma solução para a Varig, sob a justificativa de que se tratava de uma marca estratégica para o país.  Todos os modelos tentados foram abortados dentro do próprio Governo ou por divergências dos actores envolvidos na Varig. Em particular, os dirigentes da Fundação Ruben Berta – pertencente aos funcionários e com controlo da empresa – dificultaram o processo ao resistir a operações de salvamento que significassem a perda do seu controle accionista. Em 2006 Lula recusou-se a salvar a Varig: «Não cabe ao Governo salvar empresa falida», disse ele.

Os sindicatos da TAP agem numa posição de força porque acham que os governos nunca deixarão cair a empresa. Oxalá a dura realidade não venha forçar António Costa  a ser o Lula da Silva da TAP.