Há autores cuja influência é de tal modo radiante que se diz que fundam um género por si sós. Com a sua colossal memória, Borges fez mais do que escrever muitas das páginas mais aliciantes do século passado, tornou-se o guardador dessas passagens que os leitores criam entre as grandes obras literárias, e a sua…
O culto de mortificação que se constrói hoje de forma simétrica ao regime da consagração literária voltou a ser exposto quando os jovens editores de uma revista literária sentiram necessidade de ir buscar uma banalíssima composição inédita de Fernando Pessoa para obterem um destaque nos jornais.
Talvez a característica mais marcante do trabalho ensaístico de Jonathan Crary seja a coragem de defender o que muito poucos defendem – que estaríamos melhor sem a Internet.
Se está de férias e tem à sua disposição todo o tempo do mundo, por que não aproveitar para se dedicar à leitura? Esta semana propomos-lhe um naipe de sugestões que vão desde os primeiros três minutos do Universo contados por um Nobel da Física aos bastidores da invasão da Ucrânia.
Em plena era digital, as tecnologias não podem já ser encaradas como meios ao nosso dispor, mas obrigam-nos a organizar as nossas vidas à sua volta, impondo barreiras, formas de distanciamento e separação entre as pessoas, que encafuadas online deram por si capturadas numa teia onde o encontro não passa de uma miragem.
No ano em que se assinala o centenário do nascimento da poeta açoriana, a reedição da sua obra poética surgiu como uma nota de rodapé face ao destaque dado a uma portentosa biografia, persistindo a imagem da figura pública enquanto a recepção crítica que a obra merece continua à espera de uma geração de leitores…
Guerra, publicado agora pela primeira vez, 60 anos depois da morte de Louis-Ferdinand Céline, é parte de um conjunto de manuscritos roubado da casa do autor após a libertação do país, no final da segunda guerra mundial,
O texto de João Pedro George demoliu de forma estrondosa a suposta estreia fulgurante de Anabela Mota Ribeiro no romance, com o livro “O Quarto do Bebé”. Mas, como em tudo, e para que a polémica não fique por aí, vale a pena virar o bico ao prego, e dar a ver o outro lado…
Meio século depois, o túmulo de Pablo Neruda é ainda um túnel negro, “como se no coração nos afogássemos,/ como irmos caindo da pele até à alma”. Depois de várias perícias continuam as dúvidas sobre se morreu ou não envenenado, depois do golpe militar que derrubou Allende, e nos últimos anos, na sequência do MeToo,…
No nosso país não houve outra editora que tenha aproveitado melhor a lição de Roberto Calasso sobre a vantagem de se criar uma colecção de “livros únicos”, buscando essa vertigem das obras cuja singularidade desafia as convenções que minam o espaço literário.
Na morte de Milan Kundera seria mais justo que, em vez de nos entregarmos aos fastidiosos protocolos das despedidas, revirássemos o necrológio, relembrando como o romancista assinou o obituário do Ocidente dos tempos modernos.
Em linha com o imenso entusiasmo que o romance de estreia de Anabela Mota Ribeiro tem provocado no nosso meio cultural, num longo ensaio João Pedro George explica os motivos porque considera que assim se abre um novo filão na literatura portuguesa.
Entre o mais recente livro de Rui Nunes, onde nos confrontamos com um quotidiano devastado em que os vivos já mal se distinguem dos mortos, e o imprescindível testemunho de Roberto Calasso, num livro onde reflecte sobre o papel do editor enquanto intermediário decisivo num mundo onde impera a lógica do imediatismo, é possível traçar…
Um dos nossos mais astuciosos erotistas, este poeta que viveu a melhor parte da sua vida numa vila da província alentejana, tem prosseguido num ciclo de obras em curso sob a designação geral de Metamorfoses aquela que é, entre nós, a obra poética mais implicada no retrato da vivência do desejo homossexual numa altura em…
Um dos grandes romancistas americanos, que teve alguns romances adaptados ao cinema, e um guião filmado por Ridley Scott, comparado a Melville, Conrad e Faulkner, confrontou-se na sua obra com os traumas históricos da América.
Com uma já longa interrogação sobre a imagem, principalmente a fotografia, Margarida Medeiros conduz-nos, com este conjunto de ensaios, a uma série de interrogações mais abrangentes.
A Trilogia de Copenhaga (1967-1971), de Tove Ditlevsen, antecedeu em muitos anos os exemplos hoje apreciados da chamada auto-ficção: Knausgårde, Rachel Cusk ou Deborah Levy, e mesmo de Annie Ernaux.