em entrevista, esta quarta-feira, o chefe da diplomacia angolana – tal como havia feito antes o presidente josé eduardo dos santos – responsabilizou lisboa pela nova atitude do executivo de luanda: “tem de haver, por parte de portugal, algum respeito pelas entidades angolanas e uma capacidade para gerir bem este relacionamento, o que não tem acontecido, afectando assim a criação de uma parceria estratégica”, sublinhou chikoti à tpa.
inquirido sobre a realização da primeira cimeira luso-angolana agendada para fevereiro, em luanda, o mne deixou escapar: “não tenho muita certeza”.
fontes diplomáticas dizem ao sol que o ideal é que a cimeira seja feita num momento que garanta a continuidade destas reuniões que devem ser anuais, ou seja: que não se realize uma vez para depois nunca mais acontecer.
à tpa, chikoti afirmou ainda que “angola vai olhar para outros horizontes”, referindo o potencial de parcerias estratégicas com outros estados: “podemos evoluir nesta possibilidade com a áfrica do sul, estamos já a fazê-lo com a china, podemos fazê-lo com o brasil, quando olhamos para o nível de cooperação e, acima de tudo, o tratamento entre os líderes dos países”.
as declarações de chikoti são mais um balde de água fria para portugal, que tem tentado aliviar a tensão. ainda no dia 18, na cidade do panamá – onde participou, com passos coelho, na xxiii cimeira ibero-americana –, cavaco silva pronunciou-se sobre o discurso do homólogo angolano, que já anunciava o fim da parceria estratégica: “quando as relações entre dois países são muito intensas, como é o caso de portugal e de angola, por vezes surgem mal-entendidos. eu estou seguro de que esses mal-entendidos vão ser ultrapassados”.
“é essa a vontade das autoridades portuguesas, e estou certo de que será também essa a vontade do presidente josé eduardo dos santos, que sei que tem um grande apreço pelo povo português”, acrescentou, citado pela lusa.
o presidente luso recordou que “o investimento estrangeiro, incluindo o investimento de origem angolana, é importante para o crescimento económico português e para a criação de emprego em portugal”.
questionado sobre se já tinha falado com josé eduardo dos santos, cavaco disse que o seu gabinete falou com a presidência angolana logo no dia 15. “é assim que as coisas devem ser tratadas, e de forma discreta”, explicou, acrescentando que os contactos “correram bem”.
josé cesário: ‘a diplomacia calmamente resolverá isso’
paulo pereira coelho, ex-secretário de estado da administração interna, actualmente empresário em angola e assessor do secretário de estado das comunidades para a diplomacia económica nos países lusófonos, tinha afirmado ao sol, antes das declarações de chicoti: “as autoridades angolanas têm todo o direito de manifestar o seu incómodo perante a situação que foi criada em portugal a alguns dos seus dirigentes. como qualquer pessoa de bem, pretendem que rapidamente seja esclarecida a situação e não permaneça uma suspeição intolerável”.
o empresário acrescentou que a situação só deverá normalizar quando forem concluídos os inquéritos-crime em curso em lisboa, envolvendo importantes empresários e políticos de angola.
“a diplomacia calmamente resolverá tudo isso” – disse ontem à lusa o secretário de estado das comunidades, josé cesário, reagindo às declarações de chikoti.
ana.c.camara@sol.pt e pedro.guerreiro@sol.pt
*com helena pereira