Portugal será o 9.º país com correios privados

O arranque oficial da oferta pública de venda (OPV) dos CTT, esta semana, vai tornar Portugal o 9.º país da Europa com os serviços postais parcialmente ou totalmente privatizados, segundo dados solicitados pelo SOL ao WIK, um instituto alemão de investigação sobre o sector postal.

segundo adiantou alex dieke, director do departamento de serviços postais, logística e transportes do instituto, portugal vai seguir o caminho já percorrido pelo reino unido, holanda, alemanha, áustria, bélgica, grécia, roménia e malta.

para o responsável, os resultados da generalidade das privatizações têm sido positivos. “têm levado a uma gestão mais responsável, e a serviços mais baratos para os clientes, com um foco mais comercial. privatizar os correios faz muito sentido”, defende.

alex dieke considera que “os correios ainda são um negócio rentável” e, apesar de algumas empresas estarem a aumentar as taxas ou o preço dos selos, “ainda estamos longe de ter serviços de correio inacessíveis”.

quanto ao serviço público universal – garantir que o correio é entregue mesmo em zonas remotas dos países – “não há exemplos” de empresas privadas de correios que tenham deixado de o cumprir. “algumas ameaçaram com isso para fazer lobby no debate político, mas não consigo imaginar correios a abandonarem áreas remotas”. no máximo, admite o director do wik, poderá haver entregas menos frequentes.

este é um dos pontos mais sensíveis da privatização dos ctt. a empresa assegura balcões em todo o território e a entrega de cartas em todas as localidades, por mais longínquas que sejam. o que garante que uma empresa privada mantenha esta opção?

mesmo com a privatização, os ctt ficam vinculados a um contrato de prestação destes serviços. mas o prospecto da opv, publicado no início da semana pelos ctt, indica que a degradação dos serviços e o aumento de preços são riscos do desempenho da empresa, uma vez privatizada.

estado pode resgatar concessão

numa lista de 54 riscos que envolvem a privatização e a compra de acções, o documento refere a possibilidade de o estado sequestrar a concessão do serviço público universal, caso a empresa não cumpra as obrigações nesse sentido. “o estado português pode rescindir a concessão, em casos de violação grave, contínua e não sanável das obrigações do emitente”, lê-se no documento. a “recusa de conservação e reparação das instalações” dos correios, por exemplo, é um dos motivos para a rescisão.

no prospecto, a empresa admite também que a política de preços poderá ser alterada. “a implementação dos aumentos de preço pelos ctt pode, no futuro, levar os clientes a optar por meios de comunicação alternativos e/ou serviços com preços mais baixos”.

outros receios que envolvem a operação dizem respeito à possibilidade do “tráfego de encomendas não crescer como esperado pelos ctt ou mesmo cair”, muito por culpa da conjuntura económica. e a redução do tráfego de correio “poderá afectar de forma materialmente adversa os negócios, a situação financeira, os resultados operacionais e as perspectivas futuras dos ctt”.

alex dieke não vê “um grande conflito entre o serviço público e a privatização” e afirma que mesmo os riscos da conjuntura económica e financeira do país “são fáceis de gerir”. e a opção tomada de vender a empresa em bolsa é considerada tão positiva como vender em bloco a um comprador. “ambas as fórmulas têm resultado muito bem. o que observámos é que os operadores maiores têm tido tendência para privatizarem em bolsa, enquanto os operadores mais pequenos, como na bélgica, têm procurado investidores estratégicos”.

joana.barros@sol.pt